O grande final

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(capítulo não revisado)

Alguém já sentiu aquele sentimento que o fim estava próximo? Aquele frio na barriga que parece um milhão de borboletinhas voando sem rumo dentro de você? Mas não é um fim ruim não, na verdade se resume mais a um turbilhão de emoções.

Enquanto a charrete balançava devagar com o movimento do cavalo, eu olhava para Álvaro Coimbra de soslaio, ele movimentava as rédeas com uma habilidade impressionante e eu me deliciava enquanto observava o movimento dos seus braços fortes. Mas o que eu mais admirava em toda aquela cena era ver que quem nos conduzia era o próprio Álvaro e não um escravo, o que me enchia de orgulho daquele homem, meu homem.

Nós paramos na vila mais próxima para comprar alguns remédios caseiros e algumas roupas novas, já que todos os pertences de Álvaro tinham virado cinzas e o vestido que eu estava usando encontrava-se nada adequado para sair em público, pois no mínimo eu seria confundida com uma prostituta novamente.

Depois ele me avisou que para conseguir as Alforrias a gente precisava viajar alguns dias. Eu disse que valeria a pena e seguimos viagem. Muitas vezes eu pensei que não seria capaz de mudar o passado, muitas vezes chorei com saudade da minha família, muitas vezes eu odiei infinitamente viver nesse século. Hoje eu me considero uma pessoa muito mais madura em relação aos meus pensamentos, pois somente hoje eu entendo que minha família pode viver sem mim alguns anos porque o que eu estou fazendo aqui é o mais importante.

Talvez para alguns seja muito pouco, mas não para mim. Daqui há alguns dias eu vou conseguir a alforria de vários escravos e quem sabe a cada ano eu não consiga a alforria de outros. E eu não vou abandoná-los na rua sem emprego, pois eu aprendi que assim não vai diminuir a dificuldade que eles enfrentam apenas por serem negros. Eu, Olívia, irei conseguir emprego para todos, irei garantir que tenham algum futuro e não virem moradores de rua.

Portanto, minha missão aqui estava traçada e eu sei que meus pais iriam apoiá-la com unhas e dentes. Um dia, quem sabe, eu voltarei para casa para me despedir, dar um último abraço nas pessoas que eu amo e conversar sobre tudo o que eu vivi na época da escravidão no Brasil.

– É isso– eu disse alto.

– Como?!– Álvaro perguntou, confuso.

– Ah, nada, pensei em voz alta– sorri para ele para garantir que não era nada.

– Tem certeza? O machucado está doendo?

– Estou bem, te garanto. Estava apenas pensando sobre minha família.

– Ah– ele olhou para a frente tristonho, fingindo que estava concentrado na estrada.

– Meu bem, não é isso. Não fique triste, eu tenho saudade da minha família, mas eu amo você, amo demais. Meu coração é como um coração de mãe, sempre cabe mais um.

Ele apenas balançou a cabeça concordando e eu encarei meu colo, constrangida. Queria dizer que minha decisão estava feita, eu iria ficar com ele, iria lutar com ele, iria enfrentar todos os incêndios que aparecessem no nosso caminho.

– Olívia, já está ficando tarde, se quiser dormir lá atrás... amanhã eu te acordo– ele disse em voz baixa.

– Vou ficar aqui com você.

– A noite será longa.

– Não mudei de ideia– eu disse, determinada.

– Eu não vou parar para dormir– eu sei que ele não gosta de ser contrariado, mas vai ter que se acostumar, porque eu não sou mulher que funciona apenas com sim.

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