PRÓLOGO: CALOURADA DE 2026.

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Este ano não seria um ano comum para o Doutor Antônio Scodelario.

No início daquela estação ele fora convidado a lecionar no novo campus da Universidade Federal de Minas Gerais, na cidade de Abóboras.

O professor havia acabado de chegar ao imenso estacionamento, havia escolhido uma vaga sombreada por uma árvore propositalmente. Ao descer do carro colocara seus óculos wayfarer na face para que ninguém reparasse em suas olheiras causadas por todas aquelas noites em claro, acendera um Marlboro Gold e tomou seu caminho para a sala de professores.

Acostumado com a rotina de início de semestre, ele tentou passar despercebido pelos calouros que balbuciavam alvoroçados pelo campus - como o prédio era novo, não havia muitos veteranos, apenas os que conseguiram transferência -.

Com o pensamento distante, ele se esforçava pra dar um sorriso amarelo para as pessoas que cometiam a gafe de cumprimentá-lo, mas na verdade ele só tentava demonstrar uma simpatia que muitos acreditavam que o rapaz não possuíra.

Após obter sucesso se esquivando das jorradas de tintas que vinham de pistolas de água, dos esguichos de chantilly e outras brincadeiras provenientes do início do trote, ele em fim chegara ao ambiente onde todos os funcionários da UFMG se conheciam melhor trocando informações e risadas em torno de uma mesa antiga de mármore.

O tom verde claro da sala dos professores acalmava Antônio, apesar de toda aqueles assuntos cruzados e risadas forçadas o incomodasse profundamente.

Ele tirou de sua bolsa tiracolo de corino cinza uma enorme caneca branca com o símbolo da Geologia estampado em dourado. Antônio se orgulhava de sua formação em Engenharia de Minas, mas seu PhD em Mineralogia e Petrografia é o que fazia o rapaz ter o ego inflado, além de, é claro, fazer questão de fazer com que todos soubessem disso.

Assim que acabou de encher a caneca com cappuccino da cafeteira que ficava em um dos cantos da sala, ele teve seu sossego roubado.

- Bom dia! - Antônio viu um sorriso largo em sua direção. - Você deve ser o senhor Scodelario.

- Dia. - Respondeu seco. - Eu mesmo, e você quem é?

- Sou a Reitora do curso de Eng. de Minas. - A moça do cabelo platinado estufou o peito. - Saberia se tivesse comparecido as reuniões do conselho.

- Eu estava na África do Sul fazendo uma pesquisa sobre as jazidas de Au que ainda restam no país. Pensei que havia recebido meus e-mails. - Antônio tentou se explicar tentando não demonstrar o constrangimento.

- Espero que o senhor venha ter mais comprometimento com a nossa Universidade a partir de hoje. - A moça ajeitou o cabelo.

O moço deu um gole no cappuccino que já começara a esfriar.

- Mas é claro. - Antônio deu de ombros.

Ele sabia o quão compromissado era com seu emprego e estava disposto a limpar a mancha que as ausências nas reuniões o causaram.

Impaciente, o rapaz encarava o relógio de vidro que a cada hora fazia o som de um pássaro diferente. O horário do seu primeiro período parecia nunca chegar.

Enquanto esperava o tempo passar ele checava sua caixa de e-mail.

Ao perceber um iMessage de sua melhor amiga Alice, que naquele momento estava em Nova York em uma conferencia da ONU, ele abrira um sorriso e não hesitara em ler.

"Meu querido Tony, estou me mudando para um bairro mais perto do centro. É uma cobertura linda que da de frente para o Central Park, espero que você venha me visitar o mais rápido possível...".

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