22.1 | ou ❝pessoas nunca mudam❞

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— Está tudo bem, Vale? — perguntou João, se aproximando de nós, com uma de suas sobrancelhas grossas em pé e as mãos atrás do corpo. Ele estava escondendo os punhos cerrados.

— Essa não é uma boa hora. — exclamei, expressando todo o nervosismo em minha voz.

— Sou João Jordan. Toda hora é uma boa hora quando se trata de mim. — falou ele, brincalhão e relaxando um pouco os ombros que até então estavam cheios de tensão.

Natan encolheu ao ouvir o sobrenome Jordan. Poucas foram as vezes em que mencionei Nicholas ou João ou Ricardo a ele, mas ele sempre se empertigava quando eu falava sobre o meu passado.

Os olhos de João percorreram o espaço entre o meu rosto e o de Natan, e, para o meu desespero, seu rosto se iluminou de compreensão

— Você deve ser o gêmeo. — e não estendeu a mão para cumprimentá-lo.

— Como você sabe quem eu sou? — perguntou Natan, hostil.

— Você é a cara do Lucas. — afirmou João. Natan se virou para mim:

— Seu amiguinho de Viveiro conhece o meu irmão?

Fiquei calada. Eu não iria assumir uma mentira que não era a minha. Lucas que se virasse com Natan para explicar por que tinha carregado meu amigo junto de si até Vitória no jatinho das Empresas Avelar.

— Primeiro, o "amiguinho" aqui tem nome. É João Pedro. — falou João, sem mover qualquer parte do corpo que não os lábios. Eu estava surpresa com sua reação. Seu complexo de comediante barato fazia com que ele preferisse tirar sarro das pessoas do que tirá-las do sério. — Segundo, acredito que Valéria não esteja muito a fim da sua companhia agora. Você já pode ir embora.

— Por favor, Natan, vá. Eu preciso pensar em... em umas coisas. Mas eu já disse que está tudo bem, e você não tem com o que se preocupar. Me liga... amanhã? — falei vacilante, torcendo para que ele ficasse convencido da minha pequena atuação — Assim você vai ter muito tempo para pensar em como vai me contar o que aconteceu entre você e Lorena no passado.

Natan não reagiu. O que quer que estivesse sentindo, tinha escolhido guardar para si. Ele se virou e caminhou até o carro, e saiu cantando pneus pela rua pacata em que ficava a casa da minha mãe.

João e eu permanecemos em silêncio até que ele desaparecesse de vista.

— Obrigada por me ajudar. — agradeci, esperando que isso evitasse mais perguntas.

— Ei, você está bem? — João se apressou em me abraçar. Estava grata por, apesar das circunstâncias, ter alguém que me conhecia ao meu lado naquele momento.

— Vamos entrar. Eu vou explicar tudo.

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