21.2 | ou ❝encontro duplo❞

721 125 5
                                    

Graças ao maldito engarrafamento noturno de Vitória, minha fuga restou prejudicada. Embora eu tivesse perturbado o motorista do táxi para fazê-lo querer se livrar de mim o mais rápido possível, eu não podia competir com as habilidades automobilísticas de Natan.

Ele praticamente chegou à minha casa na mesma hora que eu. Segundos eram o que eu tinha de vantagem enquanto batia a porta do táxi às minhas costas e pisava barulhentamente até a porta da minha casa.

— O que ele fez com você? Você saiu do restaurante do nada! — falou Natan, enquanto batia a portado carro e corria na minha direção. Eu tentei andar mais rápido, mas Natan me alcançou antes, bloqueando a passagem.

— Eu só precisava respirar um pouco. — menti, tentando ganhar tempo para pensar em uma saída. Correr estava fora de cogitação, porque ele me alcançaria; eu não podia gritar, porque não queria que meus vizinhos atacassem o meu namorado como se ele fosse um pervertido (embora ele merecesse, se Lucas estivesse falando a verdade).

Lucas estava falando a verdade?

— Ele é meu irmão. Eu o conheço. — alertou Natan, como se lesse meus pensamentos — O que ele te contou?

Então havia algo a ser contado.

— Eu preciso ficar sozinha agora. — implorei.

— Eu só saio daqui quando você me disser o que conversaram. — teimou Natan, os olhos azuis arregalados para mim.

— Por quê? — explodi — Tem alguma coisa que eu deveria saber, que Lucas teria me contado?

Ele se calou. Eu o encarei, desafiando-o a falar alguma coisa.

Eu não sabia se Natan estava preocupado com uma possível mentira de Lucas, ou com a revelação de algum segredo enfadonho. Pelo desespero dele, eu apostava na última hipótese.

Eu não sabia qual dos dois era o gêmeo do mal naquele momento.

Os dois pareciam trocar de papel o tempo todo.

— Se você não for embora, vou chamar meus irmãos. — ameacei. Natan sabia ser muito teimoso quando queria, e eu estava contando que José podia ser bem assustador quando queria também.

De repente, ouvi passos vindo da minha direita, e quando olhei para o jardim lateral que separava a minha casa da casa de meus vizinhos, pude ver o rosto de João Pedro tornando-se nítido à luz dos postes.

Natan se virou para olhar também.

Onde Há FumaçaOnde histórias criam vida. Descubra agora