23.1 | ou ❝previsível❞

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Zaca entrou no meu quarto enquanto eu me preparava para a Inverno, uma festa com motivos de neve e frio em pleno calor capixaba. Meu cabelo estava terrível, e eu tinha decidido que a solução menos demorada seria alisá-lo com chapinha.

Ele agitava um pedaço de papel na frente do meu rosto.

— Cuidado, está quente! — indiquei a chapinha com a cabeça antes de depositá-la em segurança na bancada da pia — O que é isso?

— Um laudo médico. — respondeu ele, se jogando na minha cama.

— Atestando?

— Que eu estou certo e você está errada. — falou ele, provocando.

Rasguei o envelope com a máxima ferocidade, e comecei a ler.

— Você não pode estar falando sério. — balbuciei.

— Pode apostar seus coturnos, Valéria.

— Esta merda diz que você não tem nada! — falei, sacudindo o laudo como se isso fosse mudar os resultados. Aparentemente, Zaca só havia passado por um período de estresse e ansiedade e que, na verdade, estava tudo bem.

— Isso. — afirmou ele — Como eu venho te desde sempre, eu estou bem.

— Impossível Zaca, eu vi você! — exaltei-me antes de perceber que minha mãe ou o pai de Zaca podiam ouvindo meus berros — E você estava vomitando o sangue das tripas!

— Não há sangue nas tripas, Val.

— Claro que há.

— Não há, não.

— A questão é que você estava vomitando sangue ainda ontem, e agora está bem? Isso não faz o menor sentido.

— Bem, me desculpe por não estar morrendo.

— Não foi isso que eu disse. — devolvi, cansada.

— Foi o que pareceu.

— Eu estou só preocupada.

Zaca se levantou da minha cama e andou na minha direção, estendendo os braços para me envolver num abraço.

— E eu agradeço por isso, mas, Valéria, mas já procurei um especialista e ele carimbou esse pedaço de papel dizendo que não tenho nada. — explicou ele, enquanto acariciava o topo da minha cabeça — O que você queria que eu fizesse?

— Eu não sei. — recostei minha cabeça sobre o peito dele, devolvendo o abraço — Estou com medo.

— Estou bem. É isso o que importa.

— Me desculpa. — falei, me afastando do abraço e voltando para a chapinha. Eu ainda tinha muito trabalho a fazer.

— Você só está sendo a Val. — devolveu ele com uma piscadela. Eu atirei minha máscara de cílios contra ele, que desviou.

— Idiota. Estou feliz por estar bem. — dei um sorriso de alívio.

— Pena que eu não possa dizer o mesmo.

— O quê? — exclamei sem entender — Eu estou muito bem, obrigada!

— Até agora.

Eu não tinha entendido o que ele quis dizer, até me deparar com ele atravessando o batente da minha porta enquanto eu podia ouvir Zaca descendo as escadas. A hora do inevitável tinha chegado.

Só consegui reunir forças para murmurar seu nome:

— Natan.

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