11.2 | ou ❝companhia alcoólica❞

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Eu não sabia se aquela festa fora escolhida por Lorena como parte de seu plano para me animar, mas ela tinha conseguido. Até eu, que não era muito chegada a festas, precisava admitir.

O jogo de luzes e a decoração sofisticada me faziam sentir que eu estava em um daqueles filmes de comédia que se passavam em Las Vegas. Ao fundo, havia uma parede de água: uma cascata que brilhava da mesma cor que as luzes. Havia champanhe circulando nas bandejas dos garçons, que também ofereciam canapés e finger foods, acompanhados de guardanapos de pano.

Era uma pena que o cheiro das bebidas me lembrasse do meu porre épico.

Decidi que eu ainda não estava pronta para beber de novo, e peguei um refrigerante em um copo comprido, que também brilhava à meia luz.

Graças à Lorena, eu estava bem-vestida como nunca estivera na vida. Eu usava um vestido vermelho que se agarrava às minhas poucas curvas, e meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo estilizado.

O único problema eram as sandálias de salto, que estavam me matando.

Nada que uma recostada no balcão vez ou outra não resolvesse.

Eu estava distraída, e era isso que eu queria. Lorena e eu dançamos um pouco na pista de dança, e ela insistiu que um garoto da escola dela estava de olho em mim. Disse que ainda não estava pronta para pensar em garotos, e ela entendeu, pegando mais uma taça de champanhe.

Lola apontou para um grupo de pessoas que supostamente eram celebridades. Fizemos comentários maldosos sobre as garotas do colégio dela, de quem ela não gostava. Em pouco tempo, eu esqueci do meu coração partido.

Quando Lorena me deixou na pista de dança para ir ao banheiro, um Natan Avelar trôpego e cambaleante se materializou na minha festa. Eu me endireitei sobre os meus saltos altos.

— Valéria! — ele berrou, retumbante; estava tão bêbado quanto eu, na última vez que nos vimos — Você por aqui.

Eu ainda estava envergonhada por ter ficado bêbada na frente dele, mas aquilo era algum tipo de equivalência moral. Era a minha chance de quitar meus assuntos com Natan.

Ele se desequilibrou, soluçando. Tentei não rir da cara dele. Não me lembrava de ele ter caçoado de mim, quando era eu nessa situação.

— Vamos, eu te levo para casa. — coloquei a mão sobre o braço dele, sentindo seus músculos sob a camisa — Eu te devo essa.

— Acho que não vou, não. — atropelou-se ele, pegando mais uma taça de champanhe de uma bandeja que passava — Eu não quero ir. Eu não vou!

— Pare de agir como um bebê. — falei, autoritária, puxando-o para longe dos garçons.

— Da última vez que eu chequei, você não dava a mínima para mim. — respondeu ele, contando nos dedos, como se tivesse mesmo checado muitas vezes. E, falando em dar a mínima para Natan, reparei que ele estava sozinho no meio daquela festa enorme.

— Onde estão seus amigos?

— Meus amigos são idiotas.

— Então você está preso comigo. — sorri, vencedora.

— Bem que eu gostaria. — ele sorriu de canto, maldosamente.

— Pare de flertar comigo. — avisei, me lembrando de nossa conversa no dia da Mostra Científica — Você está bêbado e não sabe o que está fazendo.

— Eu sei exatamente o que estou fazendo. — ele pegou a bebida da mão de um completo desconhecido que passava por nós, e virou todo seu conteúdo garganta adentro. É, sabia sim.

— Vamos, Avelar. — chamei novamente, entrelaçando meu braço no dele — Não abuse da sua sorte. Você tem a cara de uma pessoa que me desperta tanta raiva, que não devia ficar testando a minha paciência assim.

— Por que você sempre tem que ser brava e linda? — disse ele, apontando o dedo no meu rosto à guisa de insulto.

— Linda? — eu ri.

— Eu não disse linda. — contrariou-se ele, cambaleando.

— Ah, é mesmo? Porque eu ouvi o que você disse.

— Não abuse da sua sorte, Valéria. — ele levou os dedos ao meu queixo, e me olhou nos olhos — Estou bêbado o bastante para ter a coragem de fazer o que quero fazer desde que te vi pela primeira vez.

Procurei por Lucas neles, pensando no gêmeo pela primeira vez desde que a carta de Nicholas tinha chegado.

Eu poderia beijá-lo.

Só para ver como era.

Não consegui terminar de decidir, porque ele me agarrou pelos cabelos e colou aqueles lábios bem em cima dos meus.

Eu nem tive tempo de pensar no que Lucas acharia de beijos na boca entre mim e seu irmão gêmeo, pois estava ocupada demais tentando recuperar o oxigênio que escapava dos meus pulmões.

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