33.3 | ou ❝o gêmeo do mal❞

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Não sei se eu já enfrentei alguma tarefa mais difícil que lidar com Natan Avelar quando ele está embriagado. Ele é teimoso, inconveniente e não vai te deixar em paz até que tenha te atingido de todas as formas que puder, para bem e para o mal.

A última vez que eu tinha lidado com Natan bêbado, ele tinha me atormentado até conseguir me beijar, só para depois me deixar sozinha no terraço da festa.

Era quando tudo entre nós estava começando. Agora ele vinha até mim depois de tudo terminado, provavelmente com o mesmo intuito de remover a minha paz. Só que de uma forma diferente dessa vez.

— Por que ele, Valéria? – ele sacudia a cabeça de um lado pro outro, e seu cabelo grudava no suor do rosto, mas não de um jeito glamouroso do tipo acabei-de-sair-de-um-jogo-beneficente, mas de um jeito estou-bêbado-demais-para-me-importar – Por que o Lucas, de todos os idiotas que você poderia ter escolhido?

Eu não conseguia responder. Ainda estava consternada pela presença dele, e por tê-lo naquele estado. Mas Natan não precisava de resposta para continuar.

— Então, é definitivo? Você está terminando comigo para valer?

Eu mordi os lábios. Não tinha outra forma de dizer o que eu tinha para dizer. Eu não havia terminado com Natan porque ele não era bom o suficiente para mim, ou porque eu não o amava mais. Eu terminei com ele porque...

— Lucas e eu temos alguma coisa.

— Você está trocando tudo o que você tem comigo por "alguma coisa" com ele? – eu podia ouvir o escárnio em cada palavra.

— É muita coisa, esse "alguma coisa".

Natan soltou um grito abafado, e jogou a garrafa de rum direito no chão. Talvez porque estivesse muito bêbado e sem controle de sua força, talvez por sorte, a garrafa não estilhaçou. Mas isso não fazia com que a cena fosse menos assustadora.

— Natan, por favor, vai embora. Você está completamente bêbado e fora de si. – falei com a voz fraca, afinal, não era porque eu tinha escolhido o outro gêmeo que eu não me importava com Natan. Eu comecei a me explicar, embora ele não tivesse pedido quaisquer explicações: – Exatamente tudo, tudo o que eu fiz, desde o dia zero, veio de um lugar no meu coração. E eu ficava tão confusa porque você era tão surpreendente, porque você era diferente desses mauricinhos que eu vejo por todo lado nessa cidade. – eu não sabia onde estava indo com aquilo, mas não conseguia domar as palavras. Esse era o meu medo de conversar com ele cara a cara. – Você conseguia olhar para alguém como eu e... agora que eu paro para pensar, nunca fez o menor sentido que você gostasse de mim.

— Nós não temos nada em comum! – concordou ele, soluçando. – Mas eu sei que você tem sentimentos por mim.

— Eu tenho, e só... não é esse tipo de sentimento. – murmurei, sendo mais sincera naquele minuto do que durante todo o nosso relacionamento. Eu sentia algo pelo Natan, mas o que eu sentia por Lucas era muito mais intenso e me dominava por completo. E sempre foi assim. A única diferença é que agora eu havia parado de lutar contra isso.

— O que você estava fazendo comigo então?

Eu não sei o que deu em Lucas para se manifestar naquele momento. Ele estava perfeitamente calado desde então. Talvez ele tinha pensado que eu fraquejaria em algum momento e voltaria para Natan, e eu não o culpo por isso. Eu fui loucamente indecisa por muito tempo, e era normal que ele duvidasse que eu tivesse feito realmente a minha escolha.

Mas Lucas se enfiou no espaço entre mim e Natan, e disse olhando para o meu rosto:

— O seu único atrativo para Natan Avelar é ser uma pessoa da vida do irmão dele, Valéria.

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