Eu não sei quanto tempo passei naquela escuridão, podem ter sido horas ou meses, não faço ideia.
Quando a menina flutuante apareceu, de branco, com cabelos escuros e pele clara, eu não fiquei assustada, e por mais que ela dissesse coisas sem sentido, eu gostava de não estar mais sozinha naquele breu interminável.
Nós andávamos pela escuridão, sua aura branca tremeluzindo enquanto ela flutuava para cá e para lá, parecendo procurar alguma coisa.
Um pedestal de metal apareceu repentinamente, com um grande livro em cima. Um homem flutuante, de túnica branca e pele escura surgiu do nada, como se fosse o guardião do livro. Mas desde quando livros precisavam de guardiões.
-Quem vem lá?-Ele perguntou, com uma voz grossa e poderosa.-Intrusos não são permitidos!
-Sou Hillary.-Disse, tentando parecer confiante diante dele.
-Mestra.- Ele disse, em um tom mais doce.-Venha. Vejo que Deus escolheu bem a Profetiza. Os segredos de meu livro são seus, daqui em diante, até o Fim do Tempo.
Me aproximei com a menininha de branco que dissera se chamar Judy, do meu lado. Ela parecia cautelosa e inóspita, completamente calada, apenas me observando.
Toquei a grossa capa de couro do livro, parecia bonito e feio, novo e velho, bom e mau ao mesmo tempo.
Assim que meus dedos se tocaram o livro de couro negro e branco ele começou a tremer e suas cores e aspectos pareceram girar e mudar de lugar, parecendo um caleidoscópio, até que se tornou completamente branco, novo e bom.
Um pequeno espelho surgiu na capa livro e eu pude me ver. Não sabia por que estava com aquele vestido verde medieval, ou por que meus cabelos estavam em tranças, mas estavam e faziam com que eu me sentisse diferente.
"Hillary Boom, 17 anos, Anjo, Profetisa, Pura, Escolhida." Estava escrito, na base do livro.
O livro se abriu com um estrondo, fazendo eu recuar um passo, assustada. As palavras estavam escritas em uma língua estranha, mas de alguma maneira, eu consegui compreendê-las.
-Leia mestra.-Disse a voz doce e meiga de Judy, a menina flutuante.- É seu. É para você ler e alertar a Destinada.
-Alertar a Destinada?-Perguntei, pensando instintivamente em Emma. Era ela. Eu sabia. Quase podia ouvi-la chamando-me de onde quer que eu estivesse.
-Sim, mestra. Agora leia, de nada vai adiantar se você não o fizer.-Falou Judy, se aproximando um pouco mais, do pedestal.
Suspirei e li as palavras no livro. Era una grande coletânea de profecias. Profecias que nunca vi na vida e parecia já conhecê-las. Algumas eu recitava em voz alta, e às vezes eu via Em em sua casa, escrevendo em um caderninho enquanto me olhava. Ela parecia sofrida e horrorizada, com o que quer que a estivesse atormentando.
Muito tempo se passou até eu terminar o grande exemplar. Foi então que eu finalmente acordei.
Acordei com roupas comuns, sem aquele vestido e penteado estranhos. Mas o livro estava no meu colo. Logo notei que aquele lugar não era a minha casa. Eu estava na cama de Em e ela não estava lá para me receber.
Corri para fora da casa de minha amiga e sentei nas escadas de emergência do prédio, onde ninguém ia já que todos tinham asas e não precisavam andar.
Ler aquele livro me deu um bom arrepio. Eu sabia de tudo. Sabia quem era o filho de Lúcifer, sabia como atingi-lo, apesar de não gostar da ideia.
Emma deveria saber. Ela não acreditaria em mim, mas ela precisava ouvir.
Mesmo assim, era difícil de acreditar. Era alguém de confiança. Alguém com o coração dela e o de todos em uma caixa.××××××××××××××××××××××××××
(Emma)
A campainha tocou e fui atender, ainda chocada e com o coração palpitando. Hillary tinha sumido. E tudo isso por que eu fui dar mole pro Dylan e fazer uma tatuagem boba.
Abri a porta. Era um homem de capuz e máscara. Atrás dela, pude ver que ele sorria de uma maneira estranha.
-Boa noite. Como posso ajudá-lo?-Perguntei educada, mesmo me sentindo de uma maneira muito diferente diante da presença dele.
-Me entregando seu coração.-O homem disse, enfiando a mão em meu peito. Meus olhos ficaram embaçados de dor e lágrimas. Ele tirou o coração de meu peito que palpitava, cheio de vida. Olhei para o estranho, impotente. Ele estava com a minha vida. Meu coração, meio luz, meio trevas em sua mão, me encarava quase com desprezo, eu senti, enquanto respirava com força.
O homem gargalhou atrás da máscara. Ele apertou meu coração e eu caí de joelhos, sufocada, tentando recuperar o ar.
Mas então, quando estava prestes a morrer, vi um par de asas brancas e negras voando para cima dele, enquanto eu estava caída, tentando me levantar.
O mascarado largou o meu coração e eu o peguei do chão, ainda fraca demais para olhar para cima e ver quem era meu salvador, apesar de já ter uma ideia.
Dylan deu um chute na boca do estômago do homem estranho e ele caiu, inconsciente.
O íncubo veio até mim e eu o abracei ofegante. Estava apavorada.
Dylan pôs o meu coração de volta em meu peito e eu finalmente me acalmei.
-Obrigada. Mas como...?-Eu comecei a perguntar, ofegante.
-Quando ele tava aqui esmagando o seu coração, você desejou ar pra respirar, desejou que esse cara largasse o seu coração, e desejou também uma segunda chance. Íncubos satisfazem desejos. Estes foram seus desejos. E eu não podia deixar você morrer. É importante demais pra isso.-Ele respondeu, com uma cara infeliz e respiração desregulada.
-Dylan...-Eu comecei. Eu não o amava, amava Mike, meu Mike. Não é mesmo? Mas então por que todas as vezes que olhava para o Perdoado eu me sentia atraída?
Por que ele é um íncubo.
Isso me deu uma frustração cegante, fazendo-me levantar e recuperar todas as energias.
-Ah, pare com isso, seu cafajeste!-Eu gritei, irada.
-Oi?-Ele perguntou, confuso.
-Fica usando seu charme de íncubo em mim. Pare com isso, sabe que eu tenho Michael!-Gritei.
Ele começou a rir, e a raiva se diluiu, se transformando em incredibilidade. Ele parou de rir, e me puxou para perto.
-Nunca forçaria você a gostar de mim. Nem você, nem ninguém. Parte dos poderes de íncubo foram tirados de mim, eu tenho sentimentos.-Ele disse, com as mãos na minha cintura, fazendo eu me acalmar.
-Você deve ter encostado estas mãos em todas não é mesmo?-Perguntei me afastando. Por que eu estava agindo daquela maneira.
-Na verdade não. Eu não agi muito como íncubo. Só uma vez. E eu me apaixonei e ela morreu. E eu fui perdoado por amá-la, por ter um sentimento puro demais para um lugar como o inferno.-Ele disse, calmo, porém claramente dolorido ao contar aquela história.
Eu fiquei chocada com a declaração dele. Eu sabia. Sabia que ele escondia algo, que não era como os outros. Ele mereceu ser perdoado.
Eu sorri. Não devia, tinha namorado, mas sorri.
-Então como explica eu estar atraída por você?-Pergunto, em um tom brincalhão e malicioso ao mesmo tempo.
-Sempre fui irresistível.-Ele disse, com suas mãos em minha cintura novamente
Ele chegou muito perto e eu senti aquele perfume dele, uma mistura de sândalo com amadeirado que era viciante. Eu olhei ele em seus olhos. Tão bonito. Tanto por dentro quanto por fora.
Dei um suspiro que entregaram meus pensamentos. Os olhos deles ficaram vermelhos e completamente irresistíveis. Ele era meu se eu quisesse. Mas havia Mike. E Ester.
-Nós não devíamos...-Comecei a falar.
-Dane-se o que devíamos ou não fazer. Ninguém vai saber.-Cortou ele roçando sua boca no meu pescoço.
Dei outro suspiro. Não ia resistir, e eu sabia. Puxei ele pela camisa para mais perto e nossos lábios se encontraram. Meu céus, que beijo. Queria mais. Queria bem mais.
-Vamos sair daqui. Vamos pra minha casa, não tem ninguém lá.-Ele disse me agarrando, cheio de segundas intenções.
-Vamos.-Eu disse com um sorriso, pulando em seu colo.
A gente foi aos amaços o caminho inteiro, e a porta da casa dele fechou com um estrondo.
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Demon's Love
ParanormalEmma se sente mal por ser um demônio. Sente que não era para estar onde está. Mas quando ela é convidada para habitar o Céu as coisas começam a mudar e ela conhece Mike, um garoto doce e amigável, que logo se apaixona por ela, e Dylan, um garoto mis...