Cap.18-Brincando com o Fogo

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     Dylan, Michael e eu estávamos vendo filmes na sala. Mal estava conversando com Mike aqueles dias, ele tinha andado muito ocupado e nunca me dizia com o que. Hillary e eu estivemos lendo o livro que ela achou a semana toda e naquele dia ela havia ido até o mercado, para comprar mais Sorvete Celeste.
        -Vou pegar mais pipoca.-Disse Mike, se levantando e indo em direção a cozinha com o balde de pipoca na mão.
        -Ei gata.-Falou Dylan assim que Michael saiu.
      Começou. Pensei, revirando os olhos.
        -Que foi Dylan?-Perguntei, já rindo, mesmo que aquilo fosse um pouco irritante na maior parte do tempo.
        -Acredita em amor à primeira vista?- Perguntou, sorrindo.
        -Não.- Respondi, comendo meu Kit Kat e assistindo ao filme de super heróis.
        -Ah, tá, então espera um minuto que eu vou passar de novo.-Ele diz, ameaçando levantar.
       Eu seguro ele no sofá e dou um tapa nele, rindo. Olhei para cozinha ouvindo o barulhinho de um saco plástico se abrindo. Mike estava demorando. Devia estar fazendo a pipoca.
       -Sabia que você é linda?-Perguntou Dylan baixinho, tomando cuidado para meu namorado ciumento.
       -Tanto quanto sei que você é terreno perigoso.-Disse, olhando para ele de soslaio.
       E que terreno. Pensei, maliciosa. Não me incomodaria nem um pouco em me enterrar ali, se não estivesse com Mike.
       Os olhos de Dylan ficaram vermelhos. Ele ouviu, e ganhou um brilho divertido nos olhos.
       -Convencido!- Gritei o empurrando para o outro lado do sofá, dois segundos antes de Mike chegar, com dois baldes de pipoca quentinha.
      Ele entregou um balde a Dylan e estendeu o outro para mim, mas antes que pudesse alcançá-lo, ele o afastou.
      -Pedágio.-Ele disse, rindo.-Um beijo e a pipoca é sua.
      Hillary voltou bem nessa hora e Dylan foi ajudá-la com o sorvete e algumas outras coisas que ela havia comprado. Eu puxei Michael para mim e colei nossos lábios, em um beijo rápido.
     -Não, não, não. Quero mais.-Ele disse, me puxando pra perto de novo, com um sorriso travesso no rosto.
      -Olá, pombinhos.-Cumprimentou Hillary, sentando-se do meu lado.
      Dylan sentou do lado de Mike, silencioso. Eu sabia que ele gostava de mim, mas ele era um Íncubo, gostava de todas que passassem em seu caminho. E eu amava Mike, ele era tão diferente de Dylan. Mike só andava de camisa social jeans, calças jeans e sapa tênis. Era gentil, observador e delicado, sabia conversar sobre. Já Dylan usava roupas escuras e jaquetas de couro, era fechado, anti social e às vezes, mau humorado.
     O filho de Lúcifer. Pensei. Poderia ser Dylan o filho de Lúcifer?- Isso explicaria muitas coisas. E se Lúcifer o havia trazido para cá clandestinamente?  E se ele nunca foi realmente perdoado, e se ele nunca realmente tivesse se arrependido do mal que fez? E se tudo que ele contou para mim foi uma mentira?
     Pare de bobagens, Emma. Repreendi a mim mesma, balançando a cabeça. Dylan era gentil e doce, apesar de um tanto egocêntrico.
     Mas Michael...Ele sim era perfeito para mim. Ele nunca deixou de sorrir para mim, mesmo quando eu estava nos meus piores dias, e não sentia ciúmes de Dylan e eu. Ele sabia que eu era completamente louca por ele. E eu não conseguia deixar de suspirar perto dele, o que era atípico, já que eu nunca fui muito de ligar para garotos. E Dylan sabia, ele podia sentir. Mas ele também sabia de algo que eu não tive coragem de admitir nem para mim mesma nesses três meses que haviam se passado.
    Eu gostava dele. Gostava de Dylan involuntariamente, enlouquecidamente. Era o efeito Íncubo. Só podia ser. Afinal, eu amava Mike.
      Quando o filme finalmente acabou, eu me despedi de Hill e Mike, enquanto Dylan tirava seu DVD do Player. 
       Ele sorriu para mim. Tinha que tomar cuidado para aquele sorriso escaldante não me derreter.
     Algo em seu semblante me impressionou naquele dia, porém. Ele me encarava parecendo com vergonha de me perguntar algo, logo ele, que nunca teve vergonha de nada.
       -Eu... Sei que não somos mais que amigos mas... Meu pai e minha mãe queriam conhecê-la.-ele encara seus sapatos, falando rápido.- Sabe, é a primeira vez que tenho uma melhor amiga. É tudo novo para mim.-ele falou, com um sorriso tímido.
        -Ah, claro. Você mora no 105 né?- perguntei, com um sorriso, mesmo que também  estivesse tímida.
        -É. Vamos?-ele perguntou. Parecia nervoso. Nunca mencionou seus pais, nenhuma vez sequer.
       Ele e eu descemos múltiplos andares antes de entratmos em um apartamento quase como o meu, mas bem mais desorganizado. O lugar tinha pequenos detalhes com tons mais escuros, mas o branco perseverava na decoração.
     Uma mulher de cabelos cor de fogo e olhos escuros como os de Dylan corria atrás de uma menininha loira de olhos azuis, que ria e disparava com seus pés  minúsculos de um lado para o outro. Íncubos podem não seguir a genética dos pais, assumindo a forma que quiser durante a vida, também.
       Uma menina de cabelos negros e olhos azuis estava mexendo no celular, e um homem de cabelos cor de mel e olhos verdes estava desfazendo o nó da gravata, parecendo cansado.
      Família grande. Casa cheia. Parecia tão diferente dos ares da minha casa. Era tudo barulhento e desorganizado, mas parecia um ambiante mais vivo, mais mortal, muito mais parecido com aqueles da Terra dos quais eu sentia tanta falta.
      -Pai, mãe, esta é a minha amiga, a Emma. Ela é lá da escola.-o homem foi o primeiro a me encarar, antes de dar um sorriso capaz de iluminar o mundo.
      -Uma mestiça! Olá querida! Dylan nos contou que é nova no Céu. Espero que esteja se adaptando.-ele disse, vinto até mim e apertando minha mão.
      Mesmo mais velho, ele era lindo, assim como seu filho. Dylan é mais meu tipo. Pensei distraída. Os olhos do pai de meu amigo ficaram vermelhos, assim como os de Dylan e de todos os outros na casa.
     Mas nada estava mais vermelho que eu, e disso eu podia ter certeza. Precisava ter cuidado com o que pensava por ali. Estar ali era brincar com o fogo. Nenhum deles pareceu se importar, apesar de Dylan estar com um sorriso convencido no rosto.
       -Estou me adaptando muito bem, obrigada senhor Sparks.-eu disse, sorrindo, um pouco envergonhada.
      -Dylan falou muito de você, querida.- disse a mãe de meu amigo, sorrindo, dando uma ênfase na palavra "falou"  
       Eu sorri. Acho que ela queria dizer "pensou". Dylan me levou até seu quarto, que era incrívelmente organizado para alguém que viveu no inferno. "O inferno muda as pessoas". Meu pai disse, uma vez. "Você acha que as conhece agora, mas só conhecerá mesmo depois que voltarem de lá, se voltarem."
      Ele pediu que eu ficasse sentada na cama, esperando enquanto ele ia no banheiro. Eu fiquei sozinha no quarto, até a irmã de Dylan, Lucyana, entrar no quarto. Ela não parecia muito feliz.
       -Só quero dizer para que cuide de meu irmão. Não negue, eu sei que você gosta dele. Sei que vacila entre dois amores, e também sei algo que não sabe, algo que ser amor por seu namorado pode lhe trazer. Não digo isso apenas para que fique com meu irmão, isso é escolha sua. -Ela falou, rápido.-Namorar Mike lhe trará dor, Emma. Isso eu posso lhe assegurar. Antes que pergunte, eu sou médium. Conheço o seu futuro, Em. Mas faça o que quiser, srta Rogers. Ninguém te impedirá de nada nesse mundo.
       -Eu...-comecei a dizer. Ela foi embora, e depois de nossa conversa, agiu como se nada houvesse ocorrido. Será que ela estava certa? Me perguntei. Não. Não podia estar.
      Mike e eu nos amávamos. Ele nunca me machucaria, não é mesmo?

Demon's LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora