Cap.11-Será?

222 17 10
                                    

        Callie estava na cozinha preparando chantilly quando eu me aproximei e me encostei no batente da porta, olhando seu cabelo ir de um lado para o outro enquanto ela cozinhava.
        -Que foi? Já sei do que houve no colégio e te aconselho a colocar aquelas roupas para lavar... Talvez junto com seus lábios.-Disse ela, sorrindo e colocando cobertura em cupcakes.
        -Para com a palhaçada. Aquela chuva...O que era aquilo?-Pergunto, me sentando na mesa de vidro.
        Percebi que Callie adquiriu um olhar preocupado, agora estava claro como água. Ela   realmente sabia de alguma coisa. O Anjo desviou seu olhar, calada.
-O que você sabe?-Ergo uma sobrancelha, desconfiada.
        -Filha...Ainda não tenho certeza. Mas o conselho admite que chover foi um erro nas muralhas. Os guardas não estavam atentos e bruxas jogaram um feitiço. Penso que isso é o começo de algo maior...-Pude sentir a mentira em suas últimas palavras.
        -Você não pensa nada. Você sabe que é. Foi por isso que me trouxe, né? A aberração capaz de trazer paz ao Céu novamente? Isso nunca se tratou de relações perdidas entre mãe e filha, não é mesmo? Foi tudo uma mentira deslava para que você pudesse me arrastar pra esse maldito lugar.-Eu soco a mesa e uma pequena rachadura surge.-Você é capaz de por a vida de sua filha em perigo para poupar o sagrado sangue de Anjinhos felizes? Você é pior que o papai.-Eu rio, seca.
        Callie levantou a cabeça e se virou, seu olhar parecia cansado como de alguém que passa noites sem dormir, seus cabelos desgranhados demonstravam o quão o ocupada e preocupada ela estava. Tentei ler seus pensamentos mas não consegui. Era como se ela tivesse construído uma barreira para eu não saber o que ela pensava. Havia algo que ela claramente não queria que eu soubesse.
        -Eu não tive escolha!-Ela gritou, agora parecendo furiosa.-O Conselho me obrigou! Se não o fizesse eles...-Ela suspirou, se acalmando.-Eles iriam te sequestrar a força e não haveria nada que pudesse fazer para impedi-los. Eu só preferi ficar com a opção menos dolorosa.-Ela encara o chão.
-Parece que Anjos não são todos bonzinhos como todos pensam.l.-Eu sussurrei.
-Ah, querida. Não existe raça, nem reino, nem países capazes de abrigar apenas pessoas completamente más ou boas. Sempre haverão exceções. Como Anjos Caídos e Demônios Puros. Por mais que nossa sociedade e a deles tentem convencer a todos do contrário.-Ela falou, com serenidade.
-Então o que faremos agora?-Eu perguntei, suspirando.
-Você irá começar a treinar enquanto eu.l.-Ela engasgou com as palavras parecendo sufocar.-Eu...-Ela segurou seu pescoço e de repente fechou olhos e tombou no chão como um corpo sem vida, antes de começar a tremer.
        -Callie!!!-Gritei eu, ajoelhando-me ao seu lado.-Callie! Pode me ouvir?!
        Uma fumaça vermelha começou a sair da boca dela e seus olhos se abriram, mas estavam completamente pretos. Ela começou a convulcionar e murmurar.
        -Guerra. Destruição. O fruto mestiço será destruído. Deve ser morto para não matar milhões. Batalhas. Morte. Sangue. Devem ser mortos. Deve-se derramar seu sangue. Todos. O Rei Obscuro está se levantando mais uma vez...
        Um grito ensurdecedor cortou o ar, a fumaça se dissipou e aquelas palavras pareciam nunca ter sido ditas, mas minha cabeça latejava intensamente, provando que tudo aquilo foi real e não apenas um sonho. Resolvi tentar novamente:
        -C-Callie?-A cutuquei e os mesmos olhos negros se abriram e ela voou em mim, me fazendo me deitar no chão, imobilizando com as pernas, apertando meu pescoço, cada vez mais forte. Eu me contorci, tentando me soltar de suas mãos, mas ela era extremamente forte, muito mais do que eu havia imaginado.
Eu tentei chamá-la mais uma vez, mas a minha voz não saía e não havia nenhum ar restante em meus pulmões. Meu olhar ficou turvo pelas lágrimas e pela falta de oxigênio, mas eu ainda tentava lutar, arranhando suas mãos, sentindo sua pele rasgada debaixo das minhas unhas. Eu até tentei enforcá-la também, mas ela conseguiu chegar par atrás o suficiente para eu não alcançá-la.
Tudo começou a ficar escuro, quando vi uma sombra bater em Callie com alguma coisa metálica e barulhenta, que a fez cair para o lado, inconsciente. Eu recuperei um pouco do ar, mas nem todo o ar do mundo parecia suficiente para que eu me fortalecesse de novo.
        Não aguentei mais e desmaiei, vendo o vulto humano se aproximar de mim lentamente, como num filme.

Demon's LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora