Eu e Dylan voamos o mais rápido que podíamos até os muros assim que terminamos de avaliar a situação. Mike, Hillary, meu Pai e minha mãe estavam já no chão fazia um tempo. Eu pousei e os quatro se aproximaram de nós.
-Como está a situação?-perguntou Hilary, que parecia extremamente inquieta.
-Terrível. Eles são muitos. Nós precisaremos de todos os soldados disponíveis e todos os voluntários. E mesmo assim, deve haver pelo menos dez para cada um.-disse Dylan. Eu me mantive quieta, pois sabia que ele estava mentindo. Deveriam haver mais de cinquenta para cada um.
Eu me aproximei de meu namorado e lhe dei a mão. Ele me deu um sorriso fraco e eu o puxei para um beijo rápido, sentindo o gosto doce e familiar de seus lábios.
-Não se atreva a morrer.-eu disse, de olhos fechados, ainda bem perto dele.
-Pode deixar capitã.-Ele disse, sorrindo. Eu me afastei de Mike e olhei para a minha família. Todos sorriram para mim, antes que eu me virasse, para assumir a liderança.
-Anjos! Arcanjos! Mestiços! Puros e Perdoados! É a hora de mostrar para eles do que somos capazes. De honrar a nossa espécie, o nosso lar e a nossa família. Por Deus, nós lutaremos!- Eu gritei, andando entre o meu exército branco. Eles soltaram um grito de guerra, e eu quase sorri ao ver que todos eles lutavam por que acreditavam.
Alguém na linha inimiga fazia um discurso repleto de terror e palavras sangrentas. Algumas delas eram proferidas em uma língua desconhecida e que eu realmente não queria aprender. Os demônios, lobos, vampiros, íncubos e súcubos urraram. Um arrepio correu pela minha espinha e eu respirei fundo, tentando me concentrar.
Um silêncio metálico e agressivo se instaurou por um momento, enquanto os dois exércitos se preparavam para a invasão.
-Atacar!-Gritei em uníssono com o líder do Inferno.
Eu voei, para combater os demônios de cima, junto com o resto da minha família e dos arcanjos. O resto lutava abaixo de nós. Um calafrio me atingiu quando os dois exércitos se chocaram. Os demônios voaram na nossa direção. Meus amigos, como Ester e seu novo namorado, o Scott, me seguiram, assim como aquela menina com quem eu discuti no primeiro dia de aula, a Angelina.
Eu dei um grito, e peguei o meu arco e minhas flechas, atirando nos demônios que tentavam se aproximar. Não tinha coragem de matar, então atirava em suas asas, para que não pudessem mais atacar.
Atirava em braços e pernas também, para que empunhar armas e andar se tornasse uma tarefa complicada. Os arcanjos e minha família não partilhavam de minha fraqueza. Acertavam onde deviam, ou onde conseguiam.
Quanto mais perto aqueles seres repugnantes chegavam, mas impraticável se tornava a tarefa de utilizar o arco. Optei pelas facas que eu havia escondido nas minhas botas, então. Eu não via o que atingia, tentava me concentrar apenas em fazer justiça.
Justiça, justiça, justiça... Cometi um erro grave. Olhei nos olhos de um demônio. Isso me quebrou por dentro. Eu vi que eles acreditavam em alguma coisa. Que acreditavam que iriam vencer. Eu parei de lutar por um segundo, para tentar respirar. Cometi outro erro, olhei para baixo. Para a batalha que se desdobrava embaixo de mim. Era um banho de sangue negro e dourado para todos os lados e eu me senti confusa e perdida.
Respirar se tornou algo difícil então. Eu arfava em busca de ar. Dylan se aproxima de mim, e eu vejo sua lança ensanguentada. Ele tinha uma ferida no ombro. Olhei ele nos olhos. Ele assentiu para mim, me incentivando a continuar.
Respirei fundo, e indireitei o corpo. Estava mais controlada. Me preparei para voltar a lutar, mas antes que pudesse voar um centímetro que fosse, algo agarrou as minhas asas.
O pânico tomou conta de mim. Eu tentei lutar, mas o que quer que fosse, tinh uma força enorme, e conseguia segurar minhas asas de uma maneira que eu não podia movê-las nem um pouquinho que fosse.
Eu me distanciava da batalha, e era levada para o coração da cidade. Eu tentei me contorcer e me livrar do que me prendia, mas a coisa só me apertou mais. O que me carregava entrou por uma janela, e então notei que estava no palácio de Deus. O ser me largou no chão duro de mármore branco, e eu senti um osso estalar.
Ótimo. Quebrei uma costela. O que quer que me tenha levado até ali, deu meia volta e saiu voando, sem eu nem poder ao menos distinguir o que era.
Sentei no chão, respirando com dificuldade. Abri os olhos, e me vi de frente para porta que dava para a sala do trono. Era uma porta de ouro, repleta de anjos entalhados. Eu me levantei, sentindo dor em várias partes do corpo. Abri a porta de ouro com um estrondo e vi um homem de cabelos negros até os ombros, olhos vermelhos, com uma estranha armadura, asas completamente negras e que deveria ter uns vinte anos, mais ou menos. Ele me deu um sorriso demoníaco. Havia alguém ajoelhado à frente dele, mas eu praticamente não dei importância a quem quer que fosse. Olhava para o causador de toda a minha dor. De todo meu desespero e ódio.
-Olhe só quem chegou para a festa.-Ele disse, rindo baixinho, se apoiando em uma lança estranha. Havia uma súcubo no canto da sala. Ela mantinha os olhos em uma prancheta, e anotava várias coisas enquanto nos observava. Parecia uma aluna, fazendo anotações em uma sala de aula. Só a visão dela já me enojava.
Mas o pior era que ela tinha um professor, e este estava a minha frente, com uma coroa na cabeça, sorrindo como um vitorioso, mesmo ainda não o sendo. Andei alguns passos, para mostrar que não estava assustada (mesmo estando completamente aterrorizada por dentro).
Eu empinei o nariz e me mantive ereta. Mantive-me com o máximo de imponência que possuía, mesmo com uma das costelas em frangalhos. Eu precisava ser forte. Eu precisava não ter medo, e mostrar que sou a Escolhida de Deus, e que estava pronta para lutar até o fim, mesmo que isso significava dizer adeus a minha vida, no final das contas.
Eu estreitei os olhos, mas não deixei o ódio me consumir. Nunca mais o iria deixar penetrar minha alma, pois era isso que ele queria.
E eu me recusava a dar algo que ele desejasse. Por mais leviano que que fosse. Continuei encarando Lúcifer, tentando não enfraquecer nem que por um segundo diante da visão inegavelmente intimidadora.
Mas então, ele desviou o olhar para quem quer que fosse o ajoelhado diante dele. As asas do lacaio eram azuis marinhas, com algumas penas em tons de bronze. Asas que eram tão familiares para mim. Asas que eram macias, como as de um anjo, mas praticamente impermeáveis, como as de um demônio.
-Olhe só filhinho. Olhe só quem veio até nós.-Disse Lúcifer, calmamente, com uma voz quase que venenosa de se ouvir.
O mestiço ajoelhado diante dele se levantou e se virou para mim. Eu senti o meu coração e tudo a minha volta congelar. Eu não respirava, ou piscava. Dei alguns passos para trás, mas ainda não conseguia emitir sons.
Ele não carregava nenhum sinal de arrependimento ou sofrimento. Apenas um olhar frio e cortante. Um olhar que até um minuto atrás sempre me fez derreter. E seus lábios nem sequer tremiam, não havia medo, frustração, nem nada que mostrasse que era obrigado a estar ali.
Não havia qualquer sinal de ter sido sequestrado, como eu. Apenas uma aura imponente e indiferente a minha existência.
Apenas costas eretas, e toda a majestade que um herdeiro deve possuir. Mesmo sendo o herdeiro da escuridão. Olhei para quem um dia foi o meu amor. O meu amor demoníaco. O amor que agora se quebrava em um zilhão de pedaços, juntamente com o que um dia foi o meu coração.
Juntei letras o suficiente, assim como força e coragem para proferir qualquer palavra que fosse dizer. Não imaginava o que sairia de minha boca, até o fazê-lo.
-M-Mike?
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Demon's Love
ParanormalEmma se sente mal por ser um demônio. Sente que não era para estar onde está. Mas quando ela é convidada para habitar o Céu as coisas começam a mudar e ela conhece Mike, um garoto doce e amigável, que logo se apaixona por ela, e Dylan, um garoto mis...