Cap.1-Callie

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     Sentei-me numa grande pedra de frente para o sol que pairava levemente sobre o rio, com Hilary ao meu lado. A única que tinha os mesmos poderes que eu... Quer dizer, metade deles. A metade que ninguém mais tinha, e que era compartilhado apenas por nós duas
      -Emma...-Começou a dizer, e apesar de eu já saber o que viria, não seria mais fácil de ouvir.-Meu pais eles...não gostam muito de você... Acham você estranha...e me pediram para me afastar de você...me disseram que você é uma má influencia...
        -E, deixa eu adivinhar, você disse que é só por causa dos meus poderes, que eles nem me conheciam direito e que não iria abrir mão da minha amizade?-Disse eu, virando-me para ela.-Acho isso muito engraçado, afinal, você também tem esses poderes.-Eu disse, irritada, jogando uma pedrinha na água cristalina.
        Ela colocou uma mecha ruiva para trás da orelha e os olhos azuis dela mostravam um preocupação misturada a sua rebeldia habitual.
-Mas os seus são...-Ela começou, pausando para escolher as palavras certas.
-Mil vezes mais poderosos. Já sei, já sei, não precisa ficar repetindo. Ser uma aberração é uma bosta, mas ser lembrada disso toda a vez que seus pais e os meus pais resolvem nos dar um sermão é realmente uma dureza.-Eu desabafei, olhando para o horizonte, onde a floresta e a cidade se encontravam.
        Sabia que um milhão de pensamentos rondavam por sua cabeça. Ela tentava achar as palavras para me dizer. Mesmo sabendo que não precisava dizer para eu saber. Eu podia ler a mente dela, ela não recusava se dar ao trabalho. E aquilo era uma das várias bizarrices que me rodeavam, fazendo com que as pessoas me odeiem, quem tenham medo.
        -Eles me puseram pra fora...eu sou adotada. -Ela começa a falar, com a voz embargada.- Sou um anjo. Por isso eu tenho os poderes. Eu sou do Céu. Fui sequestrada de lá durante uma batalha.-Ela relata, triste, sem me olhar nos olhos.
         O espanto me consumiria, se eu não soubesse disso o tempo todo. Não é tão difícil de acreditar, afinal. As asas dela eram brancas com as pontas dourada, feitas de uma plumagem macia e fina, que mais parecia seda, típica de anjos. E muito diferente das de demônio, que poderiam ser vermelhas ou (e principalmente) negras com detalhes prateados nas pontas, feitas de penas impermeáveis a água e que pareciam cobertas de óleo. As minhas eram incomuns, como tudo em mim. Suas penas eram lilases com as pontas em bronze, eram macias, impermeáveis, pareciam reluzir ao sol, e eram muito grandes.
        Mas óbviamente, elas ficavam escondidas na maior parte do tempo, para que eu pudesse me misturas com os humanos na Terra.
       Mesmo sendo um demônio, eu nunca fui para o Inferno. Meu pai costumava dizer que era um lugar hostil demais para uma "criança" como eu.
         -E agora? Irá para o Céu?-Eu perguntei, sentindo pontadas de desespero me atingirem. Uma das únicas pessoas que não me trata como se eu fosse um E.T. irá embora. Mesmo sabendo que seria exatamente aquilo que ia acontecer, eu me recusava a acreditar que poderia ser verdade.
         -Sim. Amanhã.-Ela disse, com a voz baixa e lágrimas silenciosas a rolar por seu rosto, caindo na água do rio que corria rápido como o vento.
         -Não acredito que minha única amiga irá embora.-Digo, de olhos marejados, mas nunca me permitindo chorar.
           -Vamos para minha casa?-Eu perguntei, tentando claramente aproveitar o pouco tempo que teria com Hill.
           -Sim.-Diz Hilary levantando e limpando as lágrimas.
           -Bora, celestinha.-Eu falei, sorrindo e a envolvendo com um de meus braços.

                                              ×××

           Entro na minha casa e me deparo com meu pai sentado no sofá com uma mulher de cabelos loiros e olhos castanhos. Ela sorri, talvez por algo que meu pai tenha dito, ele era mantido a engraçadinho, exatamente como eu quando estava de bom humor.
            -Quem é ela pai?-Pergunto, parando em pé, de frente para os dois, ligeiramente desconfiada.
            -Você lê mentes...Faça mais esforço.-Diz ele calmamente como se uma presença de um completa estranha fosse normal
            Se bem que aquela mulher...me parecia familiar...será que é algum parente distante que veio me visitar e eu fui rude? Não... ninguém na minha familia tem cabelos loiros...apenas eu.
            Diante deste último pensamento ela dá uma risadinha e diz mentalmente: É aí que você se engana.
            Eu pulei de susto. Ela era uma telepata, assim como eu. Isso era impossível, certo?
            -PAI. QUEM. É. ESSA. MULHER?!?!-Pergunto, dando um passo para trás e esbarrando em Hill que ainda estava ali do meu lado, alheia a conversa.
           A mulher se ergueu e finalmente decidiu de manifestar. Ela me olha, e tem um olhar tão calmo que eu instantaneamente me sinto mais relaxada.
           -Callie, meu nome é Callie, e por incrível que pareça, já nos conhecemos muito bem.-Ela diz, sorrindo.

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