(Should I Stay or Should I Go - The Clash)
A porta da sala se abriu, e eu automaticamente dei um passo para trás. Era Donna, a mãe de Roxie.- Café na mesa, queridos! Venham, venham! - ela pegou cada um com uma mão e nos puxou pela biblioteca.
- Mãe, sabemos ir sozinhos! - Roxie pareceu incomodada, mas eu havia sido salvo.
E bem na hora. Estava prestes a dizer que não conseguiria ser só amigo dela, que queria a beijar de verdade, e que aquele selinho só havia aumentado essa vontade. Ela ia me dar um tapa, me mandar parar de ser maníaco e sumir da vida dela. Isso, na melhor das hipóteses.
- Corre. Enquanto você pode. - Roxie sibilou para mim, me fazendo rir. - Não vai dizer que eu não te avisei.
- Sem cochichar, vocês dois. - chegamos a uma sala que eu ainda não conhecera e entramos. - E então, Dylan, como foi essa mudança repentina para a Ferdinand?
Havia uma mesa de madeira enorme ali, e por alguns segundos tive certeza que voltara alguns séculos no tempo. Havia quadros enormes em todas as paredes, janelas que iam do chão até o teto, retratos de família... E então vi Benedict e a irmã de Roxie já sentados, e reparei na abundância de coisas que haviam na sobre a mesa. Roxanne parecia ter prendido a respiração ao meu lado e começava a ficar corada.
- Bom, meus pais viajavam muito, e eu passei por muitas escolas, senhora Donna...
- Só Donna, querido, só Donna. Sente-se aqui, Dylan. - ela indicou a primeira cadeira da mesa.
Benedict estava na cadeira da ponta, e Donna sentou-se na cadeira aposta a minha. Aimée estava ao seu lado, e Roxie sentou-se ao meu lado, ainda muda. Tive a impressão de que ela ia explodir a qualquer instante, ou tentar enfiar a cabeça no chão.
Contei minha história e Donna foi uma ótima ouvinte, fazendo as exclamações nas horas certas e rindo sempre que o momento pedia. Pude ver Aimée revirar os olhos em uma dessas risadas e eu, que até então achava que a irmã de Roxie não tinha nada haver com ela, vi na minha frente uma versão mais jovem e com cachos loiros de Roxanne. Suas feições eram idênticas, apesar de leves toques que as deixavam diferentes. Ao revirar os olhos as duas eram quase a mesma pessoa.
Benedict permaneceu sério, perguntando sobre meus pais e as viagens, mas sem ser tão caloroso como Donna. Diria que ele até parecia reprovar a atitude da esposa.
- E essa peça que vocês vão fazer, você se inscreveu para algum papel, Roxie? - Donna perguntou, sorrindo para a filha, e eu temi que Roxie fosse desmaiar ao meu lado.
Ela definitivamente não estava bem.
- Margaret me obrigou a tentar o papel feminino principal, pra variar. - ela respondeu um tanto sem emoção.
- Ah! Perfeito, você vai ser uma ótima Julieta! Eu tenho alguns vestidos que o Teatro poderia fazer um bom uso nessa peça...
O queixo de Roxie caiu, e, depois que ela o voltou no lugar, ficou levemente tensionado. Donna não percebeu, e continuou tagarelando. Eu contei algumas das histórias mais engraçadas de meus pais e até mesmo Aimée começou a rir. Discretamente, mas sim. Eu queria apertar a mão de Roxie, tentar confortá-la, mas nem a mais engraçada de todas as histórias pareceu relaxá-la.
- Ah, querido, como seria bom ouvir essa história direto do seu pai! Ele parece ser um comediante nato. - Donna se abanava, corada.
- Quem sabe? O dia que eles vierem para cá eu posso avisá-los.
- Oh, por favor, o faça!
E isso continuou até que nem mais uma uva coubesse no meu estômago. Tortas, bolos, pães...
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A Melhor Amiga "Lésbica" Dele
Teen FictionUm aluno novo interessante, um boato antigo e um mal entendido. Uma amizade cheia de segundas intenções, um amor escondido e evitado a todo custo. Uma peça de teatro, um clube de dança, um baile de inverno... Inseguranças, incertezas e muito rock'n'...