Is that you, baby? Or just a brilliant disguise?
(Brilliant Disguise — Bruce Springsteen)
Eu fiquei ali encarando o sol por muito tempo. Sem nenhum vestígio de sono, com olhos tão abertos que era um esforço absurdo piscar. Tudo porque desde que ela levantou e saiu, cada merda que eu havia feito resolveu passar pela minha cabeça.
Começando com o dia em que eu decidi acreditar que ela era mesmo lésbica.
Agora, sabendo que era mesmo tudo um boato velho e imbecil, tudo o que eu conseguia ver nos meus atos era a palavra babaca em letras maiúsculas escritas bem na minha testa. E o pior era que, mesmo com todas as merdas que eu fiz, ela ainda falava comigo. Ela ainda estava ali. Eu sequer merecia respirar o mesmo ar que ela, e ela ainda... É claro que ela não viria correndo conversar comigo assim que descobriu o que eu pensava, pra explicar que eu havia entendido errado. Não apenas por orgulho, mas também por presumir que eu tinha que ser um babaca pra acreditar naquilo ao invés de acreditar no que ela me dizia com seus atos. Eu quis bater a minha cabeça na parede inúmeras vezes, mas é claro que eu sabia o motivo pra ter feito tudo aquilo. É claro, pelo menos eu tinha que saber o porquê eu havia sido um babaca daquela forma. Mais ninguém precisava entender, muito menos Roxanne, que nunca havia visto o Dylan pré-Ferdinand.
Não era obrigação dela saber o quão inseguro eu podia ser, ainda mais no quesito romance. E isso também não era desculpa suficiente por tudo que eu a havia feito passar. Nem todos os fracassos amorosos do mundo justificariam o que eu a havia feito passar.
Eu queria bater a cabeça no chão, com força.
Eu consigo corrigir tudo isso? Arrumar cada besteira que fiz e sarar cada ferida que deixei, ou eu apenas iria estragar mais as coisas? Ela quer que eu corrija algo ou aquele surto foi o exato momento em que ela desistiu de tudo?
Parece impossível que eu possa estragar mais isso.
Comecei a planejar estratégias, o que dizer, como dizer, o que fazer... E então levantei e procurei por ela em cada canto da casa. Inutilmente, claro, porque a casa é dela e ela devia saber como ninguém onde se esconder quando queria.
E do modo como suas mãos tremeram ao dizer aquelas coisas pra mim, eu aposto que ela queria muito se esconder.
Desci as escadas e olhei suas amigas. "Qual delas me odeia menos?", me perguntei, já que todas deviam saber o quão idiota eu havia sido nos últimos tempos. Jullie, nem pensar. Ela provavelmente aproveitaria a oportunidade pra me mandar de volta pra cidade a pé. Ela devia ser a que mais estava a par da situação. Izzy... Izzy era bem agressiva de vez em quando, também.
Restou Lou, que estava deitada junto a Brad.
Claro, Lou.
Em ocasiões normais eu nem teria pensado muito antes de ir até ela. Não era uma ocasião normal. Eu a cutuquei duas ou três vezes antes dela abrir um dos olhos.
— Onde a Roxie costuma se esconder? Você sabe? — perguntei para uma Lou sonâmbula.
— Hm? Dylan...
— Tem algum esconderijo aqui?
— Hm...
— A Roxie se escondeu em algum lugar e eu...
— Dylan, vai dormir. — ela murmurou, fechando os olhos.
Desisti, por algum motivo sendo atingido ao mesmo tempo por toda a exaustão do mundo. Deitei no colchão mais próximo e apaguei.
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A Melhor Amiga "Lésbica" Dele
Genç KurguUm aluno novo interessante, um boato antigo e um mal entendido. Uma amizade cheia de segundas intenções, um amor escondido e evitado a todo custo. Uma peça de teatro, um clube de dança, um baile de inverno... Inseguranças, incertezas e muito rock'n'...