Capítulo 8 - It's the way you do the things you do to me.

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(The Tide Is High — Blondie)


— Hoje você vem com a gente! — Lou me puxou da cadeira com autoridade.

Eu realmente estava planejando continuar minha leitura de "As Flores do Mal", do Charles Baudelaire (o livro que havia pego na biblioteca), mas já tinha minhas suspeitas de que esse plano não daria muito certo. E por que a sala de Geografia era no terceiro andar, mesmo? Tantas escadas pra descer... O sinal do intervalo já havia soado há uns bons cinco minutos, e essa era uma das poucas aulas que nenhuma amiga estava comigo. A solitária aula de geografia política no terceiro andar. Não havia vindo de carro hoje, mas só porque papai queria passá-lo em uma revisão antes de deixá-lo comigo. Estava quase comovente essa repentina importância que ele estava dando para a minha vida. Tudo bem que eu iria levar seu anjo, Aimée, junto comigo, mas pensar que tudo aquilo era por minha causa podia ser reconfortante.

— Espera. — Louise empacou assim que chegamos na escada, e eu trombei com ela.

— O que foi, maluca?!

Ela pediu silêncio, colocando um dedo na minha boca sem nem olhar o que fazia e, consequentemente, quase acertou meu olho. Desviei de uma possível dedada e comecei a ouvir um som de violão vindo do lado oposto do corredor, onde ficava a minha querida sala velha de música.

— Não pode ser o Tim, eu o vi descendo para o pátio. — Lou explicou, pensativa. — Você tá aqui, e eu tô aqui também... Quem será?

Deixei quieta a oportunidade de zoar Lou com sua brilhante observação de que ela e eu estamos aqui e não na Lua, porque uma curiosidade crescia dentro de mim, provavelmente a mesma que crescera nela. Ninguém lembrava que aquela sala existia além de nós.

— Vamos dar uma espiadinha? — sugeri. Lou riu baixinho e me puxou para o fim do corredor. A porta da sala tinha uma janelinha de vidro um pouco acima da maçaneta, nos agachamos ao alcançá-la. Devia ser um garoto, sua voz vinha baixa e quase rouca ao sussurrar algumas palavras com a música que tocava. Aos meus leigos e humildes ouvidos, pareceu Bob Dylan, e aquele timbre não me parecia tão estranho...

— No três? Só uma espiadinha, heim? Um, dois, três!

Subimos até nossos olhos conseguirem ver quem estava sentado na minha cadeira com o meu violão. Ok, nem a cadeira e nem o violão são meus, mas quando só você usa algo essa coisa acaba virando sua, mais o menos, não? Não? Ah.

Meu queixo caiu quando meu cérebro processou aquela cena, e Lou me puxou parar baixo ao notar que eu não faria aquilo sozinha. Santo Deus, onde eu me meti?

— Roxie? Respira!

Peguei o máximo de ar possível e inspirei de uma vez, ficando zonza com tanto oxigênio. Expirei desesperadamente e consegui piscar. Tentei concentrar na piada pronta, "É claro que seria o Dylan tocando Bob DYLAN hahahahah" mas nem a minha capacidade para fazer piadas ruins ajudou muito.

— Uau. Ele... Toca bem, né? — engoli em seco, e Louise me encarou, séria.

— É, ele toca. Vamos descer, agora?

— Eu... Eu acho que... Devia, hm, conversar com ele, pra não ficar estranho, sabe, depois do jogo dos dados... — me praguejei mentalmente por estar soando como se tivesse removido o cérebro de dentro no meu crânio. O que estava acontecendo comigo, afinal?

— Vocês ainda não se falaram depois disso? — Louise fez uma careta.

Não, Lou, eu estava fugindo dele!

— Não, eu não... O havia visto, ainda. E é melhor assim, né, sem ninguém por perto pra evitar que as coisas fiquem mais constrangedoras. - sorri, sem convicção.

A Melhor Amiga "Lésbica" DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora