Capítulo 34 - And his voice is a familiar sound.

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Nothing lasts forever, but this is getting good now.

(Wildest Dreams – Taylor Swift)


A treta ficou séria no Teatro, e eu lembrei o motivo pelo qual não queria pegar o papel principal no começo do semestre. Eu tinha que estar ali o tempo todo, à disposição não apenas de Margaret, mas também de todos os outros alunos. Desde o elenco até os figurinistas. Deus nos acuda se as cortinas da janela de Julieta não combinarem com OS MEUS OLHOS, sabe? Inferno, até as moças da limpeza perguntavam coisas para mim como "Será que esse produto deixa o chão limpo demais? Não vai ficar incongruente à época?"

Sim, eu sei, muito apertáveis! Elas também gostavam de encenar as falas. Coitadas, mal sobrava tempo para elas limparem o Teatro sem estarmos ali fazendo uma algazarra. Não, nós tínhamos que atrapalhar o trabalho delas também. Pelo menos, elas se divertiam.

Com a data da apresentação definida, tudo ficou completamente insano. Em casa, declarei formalmente que só apareceria para dormir, caso não acabasse acampando na escola, e comecei a nova rotina.

Nova rotina: quase não ver as belíssimas faces dos meus familiares. Tirando Aimée. Aimée ia comigo de manhã, afinal, e me ligava pelo facetime no fim da tarde para ter certeza de que eu estava bem – e não apenas viva, como também corada e bem alimentada. Ela trazia café quando saía da escola, de vez em quando um doce também. Glicose direto para as minhas veias.

Eu caminhava pelo jardim da entrada da Ferdinand sem me preocupar em passar despercebida, eu era provavelmente a única do grupo que havia feito a lista de questões de Literatura – tendo lido todos os livros citados nela. Todos iam querem dar uma espiada nas minhas respostas.

Os minutos livres do dia eram utilizados para colocar tarefas em dia e, por sorte, nas matérias em que eu sofria mais, Dylan era extremamente bom. Não apenas em resolver os exercícios, como também em explicar o que eu não entendia. E, novamente por sorte, estávamos passando boa parte do nosso tempo juntos.

Agora a escola estava cheia de cartazes de Reis e Rainhas, obviamente para o Baile de Inverno, incluindo o cartaz de um casal sensacional que fizeram um photoshoot completo que estava mais para "Rei e Rainha do RAP, YO!" que com certeza ganharia o meu voto, apesar de eu não gostar nem um pouco dessa coisa de Rei e Rainha do baile. Faria uma exceção por eles sem pensar duas vezes.

Os cartazes me lembravam do episódio homofóbico de alguns dias atrás, então, no geral, eu não gostava sequer de vê-los. Especialmente o que reunia uma das cheerleaders e um dos jogadores do time de basquete. Brancos, loiros, de olhos azuis, sorrindo o sorriso de opressão histórica exercida às cegas. Como esse tipo de ser humano gosta de afirmar, "racismo inverso" da minha parte. Em verdade, esse é o termo errado para o sentimento despertado no âmago do meu coração.

É só ódio, mesmo, do maldito sorriso opressor. O sorriso que diz o que se passa naquelas cabeças, além de vento. Superioridade. Eu sou tão melhor que vocês, esquisitos. Como ousam serem esquisitos assim na minha presença? Não. As coisas são assim, porque afinal ninguém inventou nada, né? A sociedade já nasceu pronta, então por que nos preocuparíamos em mudar algo? Vocês são loucos. Esquerdinhas.

Argh.

A gente tem que se preocupar quando simples Direitos Humanos vira uma coisa de esquerda. 

No entanto, em meio aos nauseantes cartazes do Baile de Inverno, havia outro cartaz que passava batido. Muitas vezes coberto por outros cartazes, esquecido. Eu mesma só passei a reparar nele quando Phill chegou com um na nossa mesa.

A Melhor Amiga "Lésbica" DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora