Minha licença para sair do hospital veio duas semanas mais tarde, quando eu já não tinha mais pontos no couro cabeludo e nem na nuca. Minha cabeça ainda doía, mas minha recuperação fora rápida, então, não havia motivos que me prendessem ali.
George me visitava todos os dias no hospital e sempre conversávamos por horas. Ele me deixava a par de como andava a documentação para minha adoção, e, no dia de ir embora, eu não vi Madame Towne pelos corredores ou no quarto.
Algo me dizia que o destino, depois de tanto ferrar as coisas para o meu lado, estava me dando uma ajudinha, quase um pedido de desculpas por tudo que já me fizera passar. George e sua proposta de nova família eram meus ideais naquele momento.
Eu queria ir embora logo. Dar tchau àquela parte da minha vida e começar de novo, do zero! Queria conhecer a nova casa e as pessoas que ele tanto falava. Eu sabia que moraria a cinco estados de distância o que, convenhamos, era a deixa perfeita para esquecer tudo o que eu já vivera até ali. Sabia que no novo lar eu encontraria uma madrasta, Erin, segundo ele 'a mulher mais tranquila e exagerada de todos os tempos'. Também conheceria a pequena Charlote e o bebe Edward. E o filho mais velho, claro, Andrew.
Eu já sabia tanto deles quanto era possível, afinal George adorava me dar pequenos detalhes sobre cada um. Eu não podia estar mais ansiosa para conhecer todos.
Em meio a toda alegria, para ficar ainda melhor, eu não vi nenhuma outra vez mais Madame Towne, nem mesmo quando deixamos o hospital. E, para ser sincera, eu não fazia a mínima questão de me despedir dela.
Enquanto seguia até o lado de fora do hospital, me peguei pensando em como podia ter uma sorte daquelas ao mesmo tempo de um momento tão ruim. Também não saia da minha cabeça, apesar da empolgação, por que justamente eu, com uma idade já alta, havia sido escolhida para a adoção. A família de George não era pequena e não parecia faltar espaço em branco a ser preenchido com uma nova criança.
Parte de mim queria perguntar isso, mas desisti quando vi o carro preto e um homem abrindo a porta para nós.
Para ser absolutamente sincera, nenhuma vez na vida eu havia parado para pensar na classe social que meus pais adotivos poderiam ter. Na verdade, eu imaginava que eles teriam uma casa bonita e confortável, e nas minhas melhores fantasias eu teria um quarto só para mim, que eu decoraria ao meu gosto com o tempo, enchendo as prateleiras de ursos e livros.
Meu espanto foi grande ao ver um motorista particular. Pelo visto, George e sua família não tinham uma condição de vida tão simples.
Logo, por que não adotar mais um filho? Era uma ótima boa ação para levar para a vida.
Me apeguei a essa teoria, fez todo sentido. Não me pareceu educado perguntar isso a ele, portanto me contentei com minha linha de raciocínio. Eu não sabia como me portar quando fosse adotada, afinal, nunca me pareceu que isso um dia fosse realmente acontecer. George falava com tamanho empolgação sobre eu ser incluída em sua família, eu nunca havia experimentado isso com nenhum outro casal que já tivesse passado alguns dias.
Ele continuou a elogiar por horas sobre sua família, a falar sobre como todos estavam empolgados com a minha futura chegada, inclusive Charlote, que falava por horas sobre como seria maravilhoso ter uma irmã. Quando questionei sobre o irmão mais velho, ele deu de ombros com um suspiro e disse que eu entenderia quando chegasse lá e o conhecesse.
O motorista seguiu caminho e virou à esquerda, o lado oposto do orfanato. Não que eu saísse muito por aqueles lados da cidade, mas eu sabia que o orfanato St. Vincent ficava à direita.
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O atraso certo (FINALIZADO)
Teen Fiction(Livro 1 da Duologia) Por quase dezoito anos, Amelie viu a vida passar diante dos seus olhos sem que pudesse fazer nada para muda-la. No entanto, em uma manhã de domingo, depois de um acidente que poderia ter acabado com a sua vida, ela vê uma nova...