Capítulo 17

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Andrew dirigiu por quase uma hora até chegarmos ao limite da cidade. Percorremos um morro íngreme, uma rua mal asfaltada, e quando finalmente chegamos ao nosso destino, ele não parecia exatamente um lugar.

-Aqui? – olhei ao redor tentando disfarçar meu cenho franzido, mas não consegui. Andrew assentiu, tirando o cinto e estacionando o carro.

-Você confiou, lembra? – sorriu debochado.

Assenti novamente. Eu ainda confiava.

Quis dizer que, apesar da confiança, estávamos apenas em uma rua sem saída, porém quando ele saltou do carro com a mochila em seus ombros, parecia bem certo do que estava fazendo. Eu o acompanhei para fora do carro e segui ao seu lado pela mata alta.

Enquanto caminhávamos, apesar de confusa, eu consegui admirar a beleza daquele lugar tão simples. Havia apenas relva alta e algumas arvores no lugar, mas exalava um cheiro tão puro e uma paz tão incomparável que eu logo soube porque ele havia me levado ali.

Ao final do percurso, eu notei que estávamos no fim de um alto penhasco. Abaixo de nós, uma cacheira enorme se estendia e podíamos ver o fim dela e ouvir o som da água quebrando nas pedras.

Aquele lugar parecia ter saído de algum livro, mas não, ele era real. E eu não precisei de nenhum beliscão para acordar. Foi preciso apenas que Andrew me levasse até a beira e segurasse meu braço à frente da queda d'água.

-Consegue sentir isso? – ele sorriu me olhando com expectativa. A fina garoa deixou minha mão encharcada por alguns segundos e eu assenti depressa – Essas gotas são aqueles babacas da escola. Consegue ver que sua mão ainda está inteira?

Eu soltei uma pequena risada, assentindo. Imaginei que sua teoria fosse mais parecida com "olha esse buraco, pula que tudo vai melhorar", mas, pensando bem, não fazia sentido mergulhar no que fazia mal quando tudo que me tocava eram algumas gotinhas.

-Eu não sabia que você era tão bom com metáforas. – brinquei. Ele deu de ombros, segurando uma risada.

-Eu não sou, mas você exige de mim um certo esforço. – rolou os olhos para provocar, me arrancando um sorriso sincero.

Soltei um suspiro que beirava a alivio antes de me sentar encostada a uma das arvores. Aquele lugar tranquilo, o barulho das aguas quebrando abaixo de nós e a sombra acompanhada da brisa me fazia ter certeza de que tudo ficaria bem logo. Eu só precisava esperar um pouquinho mais...

Andrew me acompanhou, porém ele deitou na grama, encarando o céu com os olhos apertados. Eu sorri, desistindo da sombra e o seguindo.

O sol estava forte e parecia voltado diretamente para a gente. Andrew tapou os olhos com um braço, porém eu não.

-Quando eu era mais nova, gostava de olhar para o Sol até os meus olhos doerem. – sorri. Eu me lembrava de uma vez ter encarado tanto o céu que queimara a vista. A explicação de que doía como se tivesse lixado a vista com lixa fina, foi a pior que dei em toda a minha vida – Não tive muito tempo de fazer isso desde que cheguei aqui.

Andrew me encarou e eu dei de ombros, assentindo. Ele sorriu e logo voltou a fitar o céu.

-Eu costumava ter ideias doidas sobre o sol. Como, que ele é grande, mas vive sozinho. – Andrew comentou.

Deixei escapar uma risada alta e ele me acompanhou. Enquanto fitava o céu, eu tentei imaginar como seria estar naquele lugar a noite, acompanhada das estrelas.

Na verdade, eu apenas tentei pensar em qualquer outra coisa que não fosse a escola e o pessoal que estava ali dentro. Ou em como eu me sentia idiota por ter acreditado em Logan, apesar de tudo sobre ele parecer verdadeiro. E eu estava conseguindo, até me lembrar disso.

O atraso certo (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora