Capítulo 19

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-Andrew, não quero ir. – cruzei os braços, esfregando-os com as unhas.

Sabia que estava parecendo uma criança birrenta tentando convencê-lo, mas só de pensar em ouvir as mesmas risadas sugestivas da outra semana eu já sentia calafrios.

-Amelie, não podemos faltar hoje de novo. – Andrew tentou mais uma vez.

Soltei um pequeno suspiro enquanto olhava para o lado de fora da escola pelo vidro. O jardim ainda era o mesmo, as florezinhas não haviam mudado, e, o pior, os alunos ainda eram os mesmos.

Andrew me fez companhia por uma semana em casa, e a parte de resolver para que não nos déssemos mal por termos faltado a alguns testes surpresas, ficou toda por conta de George.

Andrew me distraiu tanto quanto pôde. Chegamos a um nível de proximidade que ele até mesmo sugeriu que eu o chamasse de Andy, mas, apesar de parecer mais íntimo, Andrew soava infinitamente melhor que qualquer outra coisa.

Eu fui levada para conhecer alguns dos seus lugares favoritos na cidade. E, apesar de tudo, essa foi a parte mais maravilhosa. Eu tive inúmeras primeiras vezes ao seu lado. A primeira vez em um ringue de patinação (também, a primeira vez que meu bumbum doeu tanto com um tombo); A primeira vez em um parque de diversões; A primeira vez que visitei um museu; A primeira vez assistindo o famigerado filme Harry Potter.

Ele aproveitou esse tempo para me mostrar as maravilhas da cidade e alguns pontos foram novos até mesmo para ele. Andrew também foi beneficiado com aquelas pequenas férias, visto que desde que chegara a cidade apenas olhava os pontos ruins de Londres, sem buscar algo saudável que o distraísse. Desde então, seus olhos tinham um brilho e uma leveza que nunca desde que eu o conhecera haviam estado ali.

Ele também bloqueou o número de Logan, que insistia em me ligar.

Claro, ele fez isso depois de atender uma ligação e gritar em alto e bom som com ele pelo meu aparelho.

Eu decidi que durante aquele tempo não precisava do meu celular. Eu não queria esperar por uma ligação de Cassie ou de qualquer pessoa, então o mantive guardado a sete chaves.

Eu acabei por ceder e aceitar que toda aquela situação real e desisti de fugir dela. Eu tentei superá-lo. Era fácil quando eu estava em um ambiente frio e aconchegante ao lado de Andrew, escutando várias gargalhadas de famílias alheias. Ou quando estávamos no topo de uma roda gigante dividindo algodão doce. Ou quando eu gargalhava dele se agarrando nas beiradas da pista com medo de cair.

O problema era ali, com a realidade embaixo do meu nariz. Quando eu precisava encarar todo mundo mais uma vez e forçar uma coragem que eu não tinha exatamente.

O caso era que, apesar de tudo, eu não podia simplesmente abandonar a escola. Não podia fingir que aquele momento não havia acontecido. Eu precisava enfrenta-lo, por mais lagrimas que eles me arrancassem.

-Temos mesmo que ir hoje? – engoli em seco, voltando a olhá-lo.

Apenas quando seus olhos me fitaram por cima, eu notei a diferença de altura. Eu mal notei que havia me encolhido no banco do carona, ou que minhas unhas haviam deixado meus braços completamente vermelhos. A imagem me lembrou o começo da nossa relação, quando suas palavras me ofenderam tão profundamente que eu tentei tirar o 'cheiro' do orfanato do meu corpo me esfregando com a bucha até meus braços começarem a sangrar. Tentei disfarçar me ajeitando depressa novamente no lugar.

A lembrança, porém, não me confortou nem um pouco.

-Não podemos, sei lá, ir aquele jogo que você falou? Não é hoje? – tentei.

O atraso certo (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora