Capítulo 22

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Eu não tive tempo de dormir ao chegar em casa. Andrew e eu subimos pela janela, com muito custo, e quando eu me aconcheguei na cama, quando comecei a me sentir embalada pelo mar imaginário da minha mente, e quando finalmente consegui respirar o cheiro delicioso de Andrew que estava impregnado em mim, meu celular despertou.

Tive vontade de chorar. Minha cabeça começava a dar pontadas doloridas e meu corpo estava pesado. Eu pensei em inventar alguma desculpa ou uma doença para não ir à escola naquele dia, mas eu me lembrei que Andrew estaria lá. Que nós iriamos no mesmo carro, que conversaríamos, daríamos risadas, e que ele faria meu dia melhor, como vinha fazendo. Isso foi o necessário para eu saltar da cama em direção ao banheiro para um bom banho.

Eu já estava um pouco atrasada sem ao menos ter dormido. Tomei um banho fresco levando embora todo sal da agua do mar e a areia, e me vesti com roupas simples para o dia de sol. Quando fitei como a roupa havia caído em mim, meus olhos quase saltaram para fora do lugar.

Eu precisei me aproximar do espelho para ver se aquilo realmente era de verdade. No meu pescoço havia marcas roxas e vermelhas, que começavam quase desde o meu queixo, e seguiam pelos ombros, como pude ver quando afastei a blusa. Minha pele inteira parecia estar com alergia. Eu quis morrer enquanto pensava em uma maneira de cobrir aquilo decentemente.

Escolhi a maquiagem de Erin, e fiz como já havia visto ela e Cassie fazerem. Mas, ao invés de passar pelo rosto, eu esfreguei pelo pescoço. Passei corretivo, base, pó, qualquer coisa que pudesse amenizar o estrago que aquilo estava. Pelo menos deu certo, e as marcas só podiam ser vistas se eu encarasse muito atentamente. Pedi baixinho que o sol não me dedurasse durante aquele dia.

Escolhi algumas pulseiras, e ao prende-las em meu pulso, as marcas ainda estavam ali me lembrando que elas nunca sumiriam completamente. Tentei esconde-las com os fios de prata pendendo corações e flores. A ideia de usar uma coisa tão bonita para esconder algo tão feio ainda martelava em minha cabeça de que não era certo.

Balancei a cabeça para afastar os pensamentos, mas me arrependi em seguida. O álcool da noite passada começava a vir cobrar com juros, e qualquer movimento que mexesse com meu crânio podia ser considerado de risco. Peguei uma aspirina na gaveta do armário e engoli depressa. Eu torci para que manter os olhos abertos durante o restante do dia não fosse uma missão quase impossível, como já vinha sendo.

Eu não estava tão atrasada quando desci para o café, porém Erin e George já haviam terminado a refeição. Andrew ainda estava a mesa, com o braço apoiado na madeira, e o olhar concentrado no pote de cereal com leite. Charlote falava incansavelmente. Erin reclamava que ele ficaria gordo e sem saúde comendo só aquelas porcarias pela manhã. Quando eu me sentei ao lado de Andrew e o cutuquei, ele coçou os olhos e me encarou assustado.

Ele havia cochilado. Isso me fez rir incessantemente, até minha cabeça doer. Ele revidou com sons absurdamente altos para mim.

Certamente zoar um ao outro não era uma escolha muito boa aquela manhã.

-Parece que você dormiu mal, filho. – George brincou tentando acompanhar o clima suave que havia se instalado na cozinha, apertando o ombro dele. Andrew deu de ombros antes de bocejar e se levantar, subindo as escadas, sem dar ouvidos ao pai.

Apesar do clima leve que ele e eu havíamos adquirido até dez segundos antes, eu fiquei sem jeito com a forma que George suspirou e forçou um sorriso para mim, antes de beijar meus cabelos e sair da cozinha. Era óbvio até para uma porta que a relação ruim dos dois o magoava profundamente.

Eu foquei na minha fruta com cereal e em brincar com Charlote que exclusivamente aquele dia havia acordado cedo e falava pelos cotovelos. Quando Andrew desceu, eu me despedi de todos – por mim e por ele, já que o próprio não disse absolutamente nada... – e o segui para seu carro.

O atraso certo (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora