O Caso de Erza Scarlet. - Você de novo.

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" - Erza, você achava mesmo que eu me importava com tudo isso aqui? Com ele? Sinto muito, mas... tenho muito mais para ver e viver, do que simplesmente ficar enclausurado nesse mundinho limitado. Adeus.

Eu apenas observava as suas costas enquanto ele se dirigia à porta. Para nunca mais voltar.

- Eu.."

- ... não acredito que você está dormindo no horário de trabalho, mocinha! – uma voz estridente berrou.

Levantei-me da cadeira abruptamente. A supervisora dos estagiários estava à minha frente, e todos os outros novatos, que geralmente me buscavam para pedir ajuda, me olhavam torto. Em minha mesa, o trabalho feito pela metade era perceptível. Especialmente quando a empregada em questão estava com o rosto todo amaçado, e quando os papéis tinham uma peculiar mancha de saliva.

Minhas bochechas coraram, em constrangimento. Me curvei o máximo possível, desculpando-me pela minha ação incorreta.

- Caso deseje, pode descontar o dia de hoje do salário, no fim do mês. – sugeri, desejosa que ela tivesse piedade.

Ela bufou em descontentamento.

- Espero que não se repita. Não é de seu feitio negligenciar com suas tarefas.

A supervisora se virou para ir embora, pisando fortemente com seus saltos finos. Suspirei de alívio. Se havia algo que eu não poderia perder, era aquele emprego.

Trabalhar em uma empresa de contabilidade não era a coisa mais fácil do mundo, mas o salário era o suficiente e, de um modo ou de outro, era uma boa experiência para o futuro. De ano em ano, a empresa contratava adolescentes para cuidarem da papelada, seguindo o esquema de separar, grampear e carimbar. Além, claro, de muitas vezes sermos chamados para ajudar em algum projeto maior – geralmente como garçons ou faxineiros. Éramos, basicamente, os faz-tudo.

Depois de dois anos trabalhando lá, eu conseguira um cargo de destaque entre os estagiários, me tornando uma "gerente" entre eles. Isso era bom, pois meu salário subira um pouco. Não podia deixar que ele abaixasse, que o conceito que a supervisora tinha sobre mim se rebaixasse.

Por muito tempo, eu vivera de favores. Para me manter na Fairy Tail a partir da minha quinta série, comprar meus materiais e viver na Fairy Hills, Makarov praticamente me adotara. Abstendo-me de qualquer custo, ele me permitira ter estudos, casa, comida, amigos... Um ambiente familiar. A partir do momento em que foi possível, desejei começar a retribuir tudo isso. Ao menos o aluguel de minha casa, eu pagaria. Saí da Fairy Hills para morar sozinha. Mas isso não era o suficiente.

Talvez por isso, disciplina fosse a coisa mais importante na minha vida, naquela época. Não podendo devolver de modo material tudo o que eu recebia, tinha que pelo menos orgulhar a todos que próximos a mim ficavam, era necessário poder, ao menos, mostrar que todo o investimento em mim não fora em vão. Queria andar com orgulho de quem eu era. Queria me tornar independente o mais rápido possível, para ajudar ao invés de ser ajudada.

Isso pesava mais do que parecia. O costume de ser sempre exemplar não necessariamente era uma dádiva. Todosesperavam sempre mais de você. Para não desapontar, dedicação completa era necessária. Das poucas pessoas que chegavam perto de me entender, estavam os meus amigos. Todos na Fairy Tail pareciam criar um ambiente de aceitação para aqueles que pacificamente desejassem se aproximar.

Claro que, mesmo entre amigos existiam os momentos desconfortáveis, mas isso fazia parte. Se fossem eles Natsu, Gray, Lucy, e todos os que os rodeavam, eu não me importava em me abrir mais. Até com a novata, Juvia, que em certo momento pareceu estar na mesma situação que eu. Não havia muitos assuntos que mexessem comigo emocionalmente, de todo modo. Conseguia me manter com um olhar imparcial e frio sobre a maioria das coisas.

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