O Caso de Erza Scarlet. - Nos acostumando um com o outro

531 52 19
                                    

Depois de uma corrida de quase uma hora, eu estava exausta. Desde que eu passara da fase das regionais, ficara mais animada com a competição, e desejava melhorar meu desempenho físico. Por isso, todo dia, no horário em que normalmente retornava do trabalho, eu corria pelas redondezas do bairro em que morava. Trocava de roupa logo antes de sair do prédio da empresa e só voltava para o apartamento às sete da noite.

O período do dia não era dos melhores, mas foi a única parte da minha programação diária que estava disponível. Sobrava pouco tempo para qualquer coisa que não fosse estudos, trabalho e preparação, mas vencer de Mirajane com certeza compensaria.

Nós duas havíamos sido alguns dos destaques na primeira fase, o que, falando realisticamente, não fora grande surpresa. Fora poucas exceções, a maioria dos estudantes da região não era grande coisa no judô. Isso era mais um motivo para a competição entre eu e Mira acirrar: ambas considerávamos o talento uma da outra. Em momentos como aquele, a amizade não era lá muito relembrada.

Quando alcancei a portão do complexo de apartamentos, tirei da minha pequena bolsa um espelho de mão. Soltei os cabelos, limpei o suor. Esperei até o momento em que parara de ofegar. Só aí resolvi que estava tudo bem eu subir as escadas e entrar na minha casa.

Essa era uma das coisas que tinha mudado desde que Jellal fora morar ali: eu não me sentia muito confortável em ficar "feia" ou descabelada na frente dele. Não que ele me criticasse – isso não era nem um pouco do seu feitio e era algo que eu não toleraria −, mas eu meio que... Queria estar bonita. Coisa que eu nunca admitiria para ninguém.

Ao abrir a porta, imediatamente senti o cheiro forte de algum tempero, e não foi difícil deduzir que ele estava cozinhando. Inesperadamente – já que ele provavelmente nunca precisara fazer isto −, ele gostava e era bem melhor que eu na culinária. Conseguia transformar meus restos de refeições em coisas que eu nunca imaginara, e, na maioria das vezes, assumia a posição de quem preparava toda a comida. Segundo ele, depois que a faculdade de arquitetura acabava e ele estudava um pouco, não tinha muito que fazer.

− Boa noite... – eu enfiei a cabeça para dentro da cozinha, o avistando mexendo em algo que parecia um purê e com um pano velho enrolado na cintura.

Eu estava corada só pela situação em que nos encontrávamos: era muito estranho o clima familiar depois de tanto tempo. Principalmente quando era com ele.

− Boa. – ele exibiu o sorriso sofisticado com o qual eu me acostumara. – Eu já deixei o aquecedor de água ligado para você.

− Ah, obrigada.

Eu dei um risinho nervoso e me dirigi ao meu quarto. Na sala, qualquer um poderia notar uma arrumação diferente: havia uma mala aberta em um canto e colchas e travesseiros sobre o sofá. A TV fora trocada de posição, e o ar tinha um odor diferenciado. Masculino. Era ali que ele dormia, e, apesar de que eu soubesse que não era o melhor dos lugares, não havia nenhum quarto além do meu. Ainda assim, ele se mostrava completamente satisfeito.

Separei minhas roupas e me dirigi ao banheiro, que tinha se tornado compartilhado. Enquanto eu não podia deixar de notar a escova de dentes dele ao lado da minha, ou sua loção pós-barba, tentava não pensar em como aquilo nos fazia parecer um par de recém-casados. Se eu me permitisse, iria me perder em ilusões.

− Ainda bem que ele não é do tipo que larga as cuecas por aí. – eu estremeci ao me forçar a dar atenção à outra coisa.

Se bem que, provavelmente, ele só não fazia isso porque eu estava por perto...

Somebody To YouOnde histórias criam vida. Descubra agora