O Caso de Chelia Blendy. - Eu quero mudar

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Não ter nada de excitante para fazer em uma tarde de domingo nunca tinha sido novidade para Chelia Blendy. Isso é, para mim. Sendo uma primeiro anista nadadora, o pouquíssimo tempo que sobrava para minhas atividades "extracurriculares" era ocupado pela natação. Tal coisa acontecia com todos no Casarão, na verdade. E não é como se eu pudesse reclamar, vendo como Juvia conseguia fazer tudo isso e ainda trabalhar. Fazer tudo isso e ainda... Insistir.

Ela insistia e persistia, e isso, por fim, parecia ter algum efeito. Ok, quando eu digo isso é claro que não me refiro a insistir "em geral". Por mais que ela fosse indiretamente rejeitada por Gray a todo o momento (ou ao menos era como eu via a situação, considerando a falta de atitude dele e a obviedade dos sentimentos da garota), ela não demostrava se abalar ao ponto de fraquejar. Eles pareciam estar ficando mais próximos, não importando em que sentido. Nem quando eles tiveram uma discussão feia, da qual ouvi falar, ela pareceu desistir.

E... Bem, tudo ocorreu exatamente por causa dessa briga.

Eu externava muito mais meu entristecimento em relação a rejeições - não era como se conseguisse controlar. Minha raiva por Juvia surgira pelo fato de que, em uma situação semelhante à minha, além de conseguir amolecer um pouco alguém bem mais duro do que Lyon, ela ainda realizara a proeza de, sem querer, fazer o cara pelo qual eu me interessava a muito tempo se apaixonar por ela. Ela o rejeitou e foi sincera, e, ao mesmo tempo em que não a entendia, cheguei à conclusão que não estava dentro do "correto" eu odiá-la ou algo semelhante. Já me sentindo a mais inexperiente dentro do grupo de nadadores, só seria pior, para mim e para a minha "imagem", se começasse a agir como uma criança mimada que pune os outros pelo que não consegue. Busquei esconder e destruir o sentimento ruim, exatamente por saber que ele era errado. Já fizera isso muitas vezes, mas era difícil, e em geral o que se conseguia era apenas camuflar os meus "podres". Tentei então transformá-la, de certo modo, no meu modelo base para "como não desistir", não que ela fosse meu livro de autoajuda secreto nem nada.

Isso não me impedia, no entanto, de me sentir extremamente incomodada toda vez que Lyon desabafava comigo sobre como ele se sentia e como queria que Juvia... O visse de um modo diferente.

Pois é.

Eu estava estudando química, acho, quando ele irrompeu porta adentro, considerou fechá-la com força, empurrou-a, segurou-a, e então a encostou lentamente até ouvir o "clique" da fechadura. Ele se jogou na cama e colocou a cabeça entre dois travesseiros, provavelmente não me notando, como se quisesse se isolar do mundo por alguns momentos. Eu sabia exatamente o que ele tinha saído para fazer. Depois de ouvir a gritaria de cerca de uma hora mais cedo, enquanto ele me ajudava no mesmo exercício que eu ainda tentava terminar, Lyon dissera que ia checar o que estava ocorrendo, já irritado, e a próxima vez que o vi foi saindo pela porta do andar inferior com Juvia. Ela, meio curvada, foi levada por ele até algum lugar desconhecido. O garoto estava aceitando ser "gato e sapato", ou seja, estar lá sempre que ela quiser e sem esperar nada em troca. Só que isso acabava com ele por dentro. E acabava comigo duplamente.

Esperando alguns segundos, considerei levantar-me do travesseiro no qual estava sentada, em um dos cantos do cômodo, e marchar de fininho para fora, em silêncio. Deixe-me explicar: na verdade, eu estava no quarto de Lyon. Nunca fora incomum eu entrar ali por vontade própria, para tentar conversar com ele, mas desde que ele voltara... Não, desde que fora rejeitado e eu o ajudara, se tornara habitual passarmos tardes juntos ali. Falando da escola, de esportes, de música, de... Juvia. De um modo ou de outro, eu já me sentia confortável em perambular pelo local, muitas vezes ficando lá sozinha.

− Eu sei que você está aí. – ele murmurou, com a voz abafada pelo pano.

Eu estava no meio do caminho, com os livros empilhados nos braços e na ponta dos pés. Ao ouvir isso, larguei tudo no chão e fui até a beirada da cama. Ele estava disposto a conversar. Eu queria ouvir o que acontecera. No final, minha relação com ele se assemelhava em muito com a dele e a azulada. Eu sabia que aquilo só me faria mal, porém insistia.

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