Capítulo VII - De volta para a cena do crime...

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VII -... De volta para a cena do crime...

Depois de muita conversa escorregadia, querendo sempre mostrar-se um homem másculo, Grampola disse de sua participação nos trabalhos espirituais feitos na casa de dona Maricota. Às vezes, iam fazer despachos nas encruzilhadas e nalgum riacho. Como tinha um carro, usava o veículo sendo a gasolina por conta de Marcola. Não recebia pelos trabalhos contratados por ele. Reinaldo tinha uma conversa cativante e foi levando a fera no papo. Conversavam afastados dos demais, falando baixo para evitar curiosos espalhar o teor do assunto. O homem afeminado vai folgando na vigília. Reinaldo aproveitou para jogar uma laçada no cabra. Diz ter encontrado na casa alguns comprimidos usados em coquetéis anti-aids.

Algum dos moradores daquela casa deveria ser soropositivo. Desconfiava de ser Marcola. O sangue da mulher e de Júlio seriam examinados e o resultado sairia em menos de doze horas. Como desconfiava do relacionamento de Grampola com algum dos dois, insinuou dele estar contaminado. Deduziu em razão disto na possibilidade dele ser o autor das mortes. Grampola suspirou fundo, olhando assustado o inquiridor. Disse nunca ter matado ninguém, nem mesmo um frango, não suportava violência. Desmaiava quando via sangue. Informou que Marcola era doador de sangue para um hospital público e havia feito doação na semana anterior. Caso ele fosse portador do vírus HIV, o banco de sangue não o aceitaria como doador. O grau de confiança estava estabelecido e o "machão" contou alguns lances entre ele, Marcola e Júlio. A desconfiança da pederastia dele foi se confirmando cada vez mais.

O policial se fez de cúmplice escutando o desenrolar dos encontros dele com Marcola e Júlio quando estavam trabalhando em fazendas das redondezas de Goiânia. Às vezes saía com algum dos dois para explorar os lugares onde seria montado acampamento e sempre rolava alguma coisa, mas nenhum deles era seu namorado fixo. Era noivo de Carmelita fazia cinco anos e só faltava marcar a data do casamento. Fora do serviço no campo evitavam amizade colorida para as pessoas não falarem do noivado ser somente de fachada. O policial analisou a situação e chegou à conclusão daquela bichona manter um caso amoroso com os dois, na esperança dum não saber do outro. O assunto era muito interessante, pelo menos do ponto de vista da fofoca. Aquilo renderia muitas piadas nos corredores da delegacia.

Depois de examinados na forma em que foram encontrados os dois corpos foram colocados nas morgues do IML para transporte e levados para necropsiar na sede do instituto. Os laudos do local do crime e corpo de delito dos cadáveres ficariam prontos e disponíveis ao delegado daí a três dias. Naquele mesmo dia houve a primeira reunião de trabalho dos policiais envolvidos na investigação para discutir as variantes do crime. Estavam presentes os agentes de polícia Reinaldo, Joca e a escrivã Elcione. Apesar dela não participar dos exames de campo, escutava as discussões sobre as variantes da investigação e muita das vezes falava como se tivesse andado com os agentes pelos locais onde o crime aconteceu. Costumava dar palpites espetaculares quando discutiam os indícios.

O primeiro a falar foi o delegado explanando a situação do crime e alinhando os indícios incriminadores de Marcola. Reinaldo apostava sua intuição sobre a autoria do crime, creditando suas fichas nele, justificando não tê-lo encontrado até o momento. Joca ponderou que talvez o suspeito estivesse impossibilitado de se fazer presente. Travejane falou sobre as sessões de macumba, mandando os agentes ouvir mais vizinhos sobre os trabalhos espirituais e determinar as minudências da última sessão, se havia algum objetivo específico. Enfim, detalhar o acontecido daquela noite trágica. Dependendo das respostas, os fatos poderiam ter outro curso e outro autor. Pelo visto ele também apostava na autoria ser de Marcola.

Reinaldo relatou sobre o assunto tratado com o patrão de Júlio. Existia absoluta certeza dele ser homossexual. Porém, Grampola usava o noivado como disfarce para encobrir sua veadagem. Falou do cruzamento virtual de informações feito entre as impressões digitais encontradas no telefone e aquelas do Marcola. Não havia semelhança suficiente de sete pontos coincidentes para os peritos afirmá-las do suspeito. Quantificou o tempo que o criminoso dispôs para limpar, fazer a cova rasa para despistar e arrumar as coisas. Quem cometeu o crime conhecia o interior da casa e deveria ter plena liberdade de locomoção sem levantar nenhuma suspeita. Segundo seu raciocínio, o perfil do criminoso incriminava Marcola. Entretanto, ponderou, ele poderia ter aberto a porta para alguém fazer a parte suja do plano. Ou até mesmo chegado depois do crime ter acontecido. Joca comentou sobre ter sido usado apenas a enxada como arma para cometer o crime e ter sido lavada e deixada ao lado do muro. Havia outras ferramentas disponíveis no quarto de Júlio e nenhuma foi tocada. Todas estavam impregnadas de teia de aranha, demonstrando fazer dias repousados no mesmo lugar.

macumba - o terreiro da morteWhere stories live. Discover now