XXVIII - ... cela dos cabras tarados...
Reinaldo tinha caminhado poucos passos na lateral e virado nos fundos da construção, admirando o verdejante descampado do pasto embaixo onde algumas reses ruminavam à sombra duns pequizeiros. Estava a menos de três metros duma janela do barraco examinado e de repente ela se abriu violentamente com um homem saltando no capim de passo armado para correr. O tal vinha acuado lá de dentro e correndo em sua direção sem olhar para frente. Provavelmente treinara a possibilidade duma fuga por aquela janela. Deve ter observado o terreno e o sabia limpo de obstáculos para uma corrida desenfreada em momentos de aperto.
Não contava com a malandragem dos policiais vigiando a retaguarda. Sua preocupação era com a porta da frente ser arrombada, com policiais armados e possivelmente dando tiros. Respeitava como nunca um trabuco, principalmente se estivesse na mão de polícia, então nem pensava em correr. Precisou apenas ter certeza de suas suspeitas para azeitar as canelas. Mas que azar! Ao saltar de olhos visgados na porta da frente, deu uma peitada feia nalguma coisa macia imaginando um bezerro folgado naquela hora do dia ruminando na sombra do barracão. Embolou com ele e saiu rolando pelo pasto. Quando pararam longe, uns quatro metros do embate principal, Reinaldo saltou de lado.
Mandou Marcola se acalmar. Estava preso e se reagisse usaria contra ele a ferramenta da fazer defunto. Avisando daquela distância torar na bala até palito de fósforo, logo devia imaginá-lo atirando na perna ou na cabeça dele. O cano da semi-automática Taurus ponto quarenta estava apontada na sua testa a menos de um palmo, nem se quisesse daria conta de errar. Marcola olhou o bueiro de cuspir fogo e viu os trilhos retorcidos por onde passava a mensagem da morte. Ao fundo daquela visão do inferno, viu o tridente do Demo.
Tentou se levantar como mandava o "puliça". Não conseguiu ajeitar as mãos para impulsionar o corpo. Só aí percebeu o par de algemas prendendo-lhe os braços para trás. Pensou um minuto tentando imaginar o inusitado da cena: correria pasto a fora até encobrir-se no meio das vacas, eram mansinhas. Deitaria junto delas, passando despercebido. Nunca o imaginariam escondido no meio do gado. Como aquele puliça o algemou com tanta rapidez naquela luta imaginada com o bezerro. Na hora da topada nunca pensou ter trombado com um homem, ainda mais da lei. Concordou ter perdido a parada. Começou a rir de sua própria sorte. Joca escutou a voz do parceiro do outro lado do muro. Perguntou se precisa de ajuda. Pegou um caixote encostado na parede e subiu nele para espreitar. A cena o comoveu e refez seus pensamentos maldosos de há pouco a respeito do amigo. Vendo o capim tão fofinho, onde estavam o amigo e o preso, impulsionou o corpo e saltou.
Ali mesmo naquele pasto, resolveram conversar com o suspeito. Ajudaram-no a se levantar. Caminharam com ele para debaixo de outro pequizeiro livre de vacas. Começou o interrogatório. Marcola sabia enrolar, pensando que os puliças queriam envolvê-lo na morte de sua mulher e do enteado. Ele próprio achava custoso se safar da enrascada. Naquela noite maldita, logo depois do crime, voltava do mafuá e encontrou a desgraceira. Ao ver o tamanho da marafunda resolveu fugir. Se falasse sobre Carlinhos Grude, ia ser custoso provar este possível álibi. A bicha quando visse a cara dele, Marcola, na mídia e o soubesse envolvido no crime da macumba, negaria até mesmo tê-lo visto algum dia. Estava encalacrado.
Joca explicou ter conhecimento de como tudo aconteceu. Entretanto existiam provas suficientes para incriminá-lo nas mortes ou para livrá-lo. Dependia da história contada agora: se falasse a verdade e estivesse de acordo com o que conheciam poderiam ajudá-lo... do contrário se estrumbicará no presídio do CEPAIGO. Já podia pensar num casamento com outro homem, sua história com o Grampola chegará primeiro que ele nas celas dos cabras tarados por outros homens. Só que provavelmente lá teria papel inverso de antes. O suor enxumbrava-lhe a camisa e agora aparecia em grossos fios na testa.
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macumba - o terreiro da morte
Acción04 NOITE MACABRA Uma história envolvente narrando dois assassinatos ocorridos logo após uma sessão de macumbaria num terreiro de macumba. O pretenso pai de santo Grampola, se envolve com um homossexual enrustido e arrasta seu...