V - A macumba nas sextas-...
Joca se aproximou do delegado apresentando-lhe o dono do armazém. O chefe convidou o visitante para falar em separados, indo para o interior da casa. A sala estava desimpedida de curiosos e da polícia. Abancaram-se no sofá da sala, aparentemente limpo, talvez porque ser um móvel semi-novo. A autoridade policial queria saber como vivia aquela família, quais seus principais hábitos, se sabia de inimigos, se recebiam muitas visitas. Seu Antônio foi passando as informações conhecidas. A morta vivia com o filho e o enrabichado, tinha a aparência duns trinta e oito anos de idade e estava bastante conservada, se cuidava. Eram pessoas caseiras, de poucas visitas, exceto os freqüentadores do centro espiritual. Não sabia de inimigos. Ouvira dizer que o ex-marido dela, lá de Manaus, estava casado com outra mulher e nunca tinha vindo a Goiânia. A morta recebia renda de três salários mínimos do aluguel de um sobrado lá de onde veio. Este imóvel era proveniente do divórcio.
O casamento tinha acabado por causa do Marcola intrometendo na vida dela enlouquecendo-a de amor. Quando da separação o filho mais velho preferiu vir morar com ela. Estava em Goiânia porque dona Carlinda, mãe da morta, tinha problemas de saúde e aqui fazia tratamento num hospital de olhos. Visitava Goiânia com freqüência mensal. Maricota fixou moradia aqui, para dar-lhe suporte logístico quando a mãe viesse. Havia se mudado por imposição dela na tentativa desesperada de afugentá-la das garras daquele macumbeiro ruim. Marcola descobriu a manobra, talvez ajudado pela amante. Sua chegada em Goiás coincidia com a data da mudança de Maricota.
Dona Carlinda, quando fez a primeira visita à filha, a imaginava em exílio local por amor. Temia uma recaída na senvergonhagem dela enlouquecida pelo tal Marcola. Entretanto ao conversar com a filha por telefone teve um arrepio, na certeza da presença dele em Goiânia. Ficou fula da vida. Aquilo era um despropósito sem medida. Tanto empenhara com palavras e recursos para tirá-la das vistas do garanhão, por nada. O tal não tinha eira e nem beira, além dos comentários de ser criminoso de sangue na Paraíba.
Agora, conforme havia prometido, estava obrigada a pagar as contas do armazém, exclusivamente com alimentação, acertando regularmente entre o dia quinze e vinte de cada mês. Pagava o aluguel da casa pontualmente. Nas vezes que não podia visitar a filha e o neto, passava o dinheiro por ordem de pagamento bancário. Na primeira vinda a Goiânia, de propósito não avisou à filha sobre a viagem. Era exatamente visando dar um flagrante na situação, torcia muito para não acontecer e não encontrar o malandro no desfrute. Ao chegar à casa da filha, o "genro" não estava, ficou aliviada, mas foi puro engano. Devia ter sido avisado, porque viu o neto sair logo depois com uma sacola de supermercado e parecia ter roupas nela. Não perguntou o que levava, mas teve a certeza de serem coisas pessoais do macumbeiro. Melhor assim, pelo menos enquanto estivesse com sua filha, não teria o desprazer da presença daquele estorvo.
Marcola sumiu por um par de dias. Vez ou outra viu Maricota falando discretamente ao telefone, ao perguntar quem era dava nome de amigas. Desconfiava d'alguma coisa de ruim ainda acontecer com seus parentes de Goiás. Era só a velha tomar o rumo do aeroporto que o dito-cujo encostava. Certas ocasiões a mãe de Maricota ainda se encontrava no aeroporto aguardando embarque e o atrevido, aproveitando a ausência do neto ajudando com as malas e vinha rolar na cama da filha dela na maior orgia. Certamente Marcola ficava de atalaia nas proximidades, algumas vezes estava no seu armazém, num reservado bebendo com alguns amigos de macumba.
Voltava sempre com uma fome de sexo de arrasar. Depois da libertinagem, bebia Jurubeba Leão do Norte até empanturrar. Ficava folgado na certeza de ter no mínimo um mês de folga. Se acontecia de não terem dinheiro para comprar a cachaça, ele pegava pacotes de arroz, de feijão, litros de óleo de soja e outros comestíveis, marchando no rumo do armazém do seu Antônio para trocar pelas malditas garrafas. Às vezes a família ficava sem comer até dois dias, dado a preguiça do trio em fazer comida. Entretanto, nestes dias de pura lassidão, consumia sem pestanejar litros e mais litros de jurubeba. O que mais chateava dona Carlinda era a possibilidade de sua filha e neto viciarem em bebida alcoólica. Pela forma como encontrara seus familiares, ficou deverasmente preocupada. Avaliou os riscos, e concluiu ser impossível proibir e obter êxito naquele namoro, talvez sua oposição até estimulasse o desejo pelo proibido.
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macumba - o terreiro da morte
Action04 NOITE MACABRA Uma história envolvente narrando dois assassinatos ocorridos logo após uma sessão de macumbaria num terreiro de macumba. O pretenso pai de santo Grampola, se envolve com um homossexual enrustido e arrasta seu...