X -... pelo amor de Deus, seu puliça. Não sou bandido não...
─ Teje preso... se mexer leva chumbo quente... encoste no muro. Coloque as mãos na parede, rápido. Vamos... vamos... É a polícia. Acha que temos a noite toda para ficar aqui enrolado com você?
Havia acabado de virar a esquina, vindo da casa da Maria Baixadão, onde tinha ficado até mais tarde daquela sexta-feira apalpando uma gostosona vinda do sertão e gastando uns reaisinhos com ela. Não rolou nada porque a manteúda queria uma fortuna para transar. No sábado, receberia sua semana de serviço como servente de pedreiro na construção do prédio ali perto e voltaria. Quem sabe ela estivesse precisando de dinheiro e fizesse um desconto.
De relance olhou no seu braço o relógio de plástico, contrabandeado da China: não eram nem onze horas da noite. Vinha apressado para chegar ao muquifo onde dormia nos fundos da construção em cima duns sacos vazios de cimento. Estava com um tesão dos diabos e capricharia uma "punheta" em homenagem daquela fogosa. Seu membro viril estava rijo como um pedaço de bambu e roçava na calça de doer. O brilho do giroflex da viatura policial chegando junto dele o assustou demais, nem pensou da bronca ser com ele. Que azar danado. Seu bilau duro igual a um pau foi murchando como um papo de anjo furado.
─ Pelo amor de Deus, seu puliça. Não sou bandido não...sou trabalhador da construção civil...estou trabalhando de oreia seca naquele prédio lá ó...e apontou o dedo fura-bolo para o outro quarteirão daquela rua..
─ Levante as mãos logo e se fizer qualquer outro gesto leva bala... "Seu cabo, este cabra da peste parece aquele caxangueiro arrombando as casas do bairro. O senhor tem o retrato falado dele aí?"
─ É mesmo, Severino. Vou pegar na algibeira e conferir.. olha aí. Foca a lanterna aqui...deixa-me ver a cara do bruto. Ou melhor... dá uma busca neste safado.... pode estar armado com algum trabuco.
─ Encoste no muro cabra safado...abre as pernas... depressa vamos... acha que tenho a noite inteira para ficar aqui com tu, malandro?
─Não sinhô.. ai não me bate.... eu faço o que vocês quiserem... não me batam... sou trabalhador...
─ Que trabalhador nada, malandro....pra quê este revorvão aqui na cintura? Explique, se não quiser levar uns catiripapos...
─ Uso para me defender. Aqui tem muito bandido. Durmo lá na construção e de vez em quando aparecem uns maconheiros querendo encostar para dar um tapa no cigarrinho fedorento. Se bobear rouba a gente...em troca de dormir na construção faço o serviço de guar...
─ Cale a boca estrupício. Seu cabo...acho que é este mesmo quem está fazendo as casas sem vigias daqui. Mostra a mão malandro. Se você é trabalhador mesmo vamos ver agora.
─ Olha Severino, só tem calo de pular muro. Cadê seus documentos. Pode deixar, nós mesmos vamos tirar a carteira.
─ Aqui tem oração de corpo fechado. Cartão dum alívio, constando o telefone e numero da OAB. Um pedaço de couro de lobo... Que é isto aqui, malandro?
─ È uns dolarzinhos que estou ajuntando para mandar pra mamãe...a oração foi dada por um colega de trabalho e...
─ Marcola Calistrato de Almeida. Isto é nome de gente? Seu cabo, acho que este documento é falso. Aqui na Paraíba a assinatura da otoridade é de caneta. Esta carteira aí tem só uma marca de máquina.
─ A gente leva e lá no distrito a civil checa isto. Se este couro for mesmo de lobo vamos enquadrá-lo por crime contra a natureza.
─ Este documento foi tirado em Goiás, por isto é diferente.. mais moderno...
─ Que cabra atrevido, superior...querendo dizer que aquele Estado lá das barrancas do Araguaia, cheio de índios e comedor de pequi é mais civilizado que nossa Paraíba? Que co'cê está fazendo aqui então?
─ Desculpe seu guarda, eu...
─ Se me chamar de guarda mais uma vez vou fazer oce engolir estes documentos sem água e sem mastigar.
─ Cale a boca, o malandro... Severino passe a algema no cabra. Ele vai ser levado para a DP por porte ilegal de arma. Aonde já se viu servente de pedreiro andando com cem dólares e ainda dizendo que são uns dolarzinhos...
─Podem ficar com o dinheiro e a arma. Deixe-me ir embora...pelo amor de De..
─Olha aqui, o Cabra da Peste, eu sou católico praticante e não aceito usar o santo nome do criador em vão. Cadê o registro e porte desta arma?
─ Olha, doutor, comprei isto do mestre de obra, Juca, há mais ou menos um mês e ele não me deu nenhum dicumento. Acho que o Senhor deve prender ele...
─Além de ser burro ainda é atrevido querendo dizer o que devemos fazer...este revólver ce já perdeu. Está confiscado pela lei e ainda vai levar uma cana para largar de ser besta...pode preparar mais ou menos umas três vezes o preço que pagou para acertar com um alívio e recolher a fiança. Isto se você não tiver alguma anotação no seu prontuário. Lá no distrito, vamos puxar sua capivara para ver sua conta com a dona justa.
─ Pelo amor....isto é, por favor me deixa ir embora.... faço o que o senhor quiser seu capitão.
─ Joga este estrupício no porta-malas da viatura e tranca bem a tampa. Ele pode querer fugir e enrolar a gente. Vamos levar um presente para o delegado Maltinha.
─ Olha, seu cabo, hoje tá acontecendo muito assalto em vans e toda hora tem chamado...vamos torcer para que o distrito esteja lotado e demorar pelo menos umas três horas para lavrar o flagrante...
─ Severino, agora tem uns delegados fazendo uns flagrantes modernos onde só se ouve a gente rapidamente e apreende a arma. Só tem de assinar e pode ir embora. Se for destes delegas moderninhos não vai adiantar nada... já, já estaremos de volta ao batente.
─ Olha aqui, oh malandro: nós vamos te deixar lá no Distrito sem nenhum catiripapo...se você reclamar qualquer coisinha já viu o que vai acontecer né...o dinheiro cê deu pra nois agorica mesmo, num é verdade? E a arma...bem...arma nóis já tem, mas dólares não, portanto...se ficar caladinho pode se livrar da coça que está reservada p'ro seu lombo. Caso reclame de termos pegado alguma coisa sua, vamos dizer que pode ter caído onde o prendemos, quando tentou reagir à prisão e vamos levá-lo de volta lá. Se você ainda não conhece o poço da lampreia, terá oportunidade de visitá-lo e provar em abundância o sabor de sua água. Penso que tu podes até querer fugir e a gente vai ter de usar os meios necessários para não deixá-lo escapar... vamos ver se este revolver presta, experimentando o chumbo quente dele no seu cocoruto.
Marcola foi levado para o Primeiro Distrito Policial de Campina Grande e entregue para o delegado de plantão daquela noite. Enquanto fazia o procedimento de flagrante, vez por outra, o preso olhava por baixo com olhos medrosos do seu Cabo, que tinha posto os seus dólares no bolso. Ele discretamente fazia um gesto característico com o dedo indicador como se fosse puxar um gatilho. Um arrepio corria o fio do lombo do infeliz e não falava nada sobre o acontecido. Terminado o flagrante, saíram do distrito para atender outra ocorrência. Os dólares foram divididos. Claro! A maior parte para o cabo, a autoridade em comando quem tinha a maior patente, tinha mais responsabilidade, ganhava mais e logo devia ter uma maior participação.
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macumba - o terreiro da morte
Action04 NOITE MACABRA Uma história envolvente narrando dois assassinatos ocorridos logo após uma sessão de macumbaria num terreiro de macumba. O pretenso pai de santo Grampola, se envolve com um homossexual enrustido e arrasta seu...