Capitulo II-...um ferimento em cima dos olhos dividindo a cabeça em...

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II -... Um ferimento em cima dos olhos dividindo a cabeça em...

O rosto do homem tinha um ferimento acima do olho indo até o centro da cabeça. Algum instrumento pesado de corte havia acertado-lhe de forma violenta e se parecia com uma laranja cortada para tirar a tampa. O ferimento era compatível com arma branca de grande porte, talvez um facão, ou mesmo um machado. O ferimento era chanfrado e suficiente para esconder uma mão espalmada, tal a profundidade. O sangue escorreu intensamente até empoçar no chão onde havia vestígios de limpeza. O travesseiro estava empapado e o sangramento formava uma crosta preta. A visão do ambiente era dantesco. Aqueles que viram a cena ficaram enojados, alguns tontearam na emoção macabra. O delegado se refez do baque.

Sua imaginação de investigador aventou diversas hipóteses para o crime, alguma teoria poderia se aproximar mais dos fatos reais. A família tinha três pessoas, as possibilidades podia ser dalgum desentendimento entre eles. E se algum deles usasse drogas, poderia ter assassinado os outros. Pela força da pancada, teria sido um homem, o principal suspeito era o marido. O rapaz mais jovem foi encontrado morto, logo sobrava o marido e devia ser mesmo o autor da tragédia. Podia ter mais alguém ferido, precisando de ajuda ou capaz de dar explicações sobre os acontecimentos naquela noite trágica. Precisava examinar a casa e diante da brutalidade do assassinato tinha de tomar uma decisão. Não existia tempo para ficar divagando em especulações ou esperar uma ordem judicial para arrombar.

O caso era grave e por mais elitista que fossem os moradores do lugar, devia prosseguir na diligência e arrombar a casa, mesmo não dispondo de mandado judicial ou de uma situação de flagrante. Mandou pôr a porta abaixo, começando por aquela mais frágil, a da cozinha. Vendo o estado emocional do delegado diante do vitral quebrado, outros policiais vieram observar a cena tétrica. Diante da decisão já tomada, os policiais marcharam para quebrar a porta escolhida. Estava presa apenas por uma taramela. Com a primeira pesada do agente policial Joca a porta foi a baixo. O ambiente era simples e pobre. O odor de sangue vinha de seu interior misturado com lufadas de ar da rua invadindo. Uma pia bastante surrada estava coberta de pratos sujos, usados na última refeição. Os talheres estavam soltos sobre o móvel sem organização nenhuma. Em cima do fogão havia uma panela preta com carvão em toda a superfície externa denotando quem a usava não ser afeito á higiene. Estava sem a tampa e dava para ver os restos da última refeição: macarrão de roletas com feijão preto e costela bovina.

Uma pequena mesa carcomida pelo uso e encardida no sebo estava num canto. Sobre ela havia duas garrafas de aguardente vazias, onde tinha Jurubeba Leão do Norte. Três copos de vidro com restos da bebida denunciavam a farra bem regada com água-que-gato-não-bebe. Pelos copos, deduziu existir três pessoas bebendo antes da morte. Travejane passeou o olhar criticamente pelo sítio do crime escrutinando cada ponto do ambiente, em busca de vestígios do criminoso. Verificou três pratos sujos, fazendo corou com os copos. A passagem da cozinha para a sala não havia porta, apenas o vão aberto na parede provido dum portal de madeira. De relance dava para ver parte do outro cômodo da casa. Na parede rente da passagem existia um aparador fixado na parede, onde repousava um telefone. De longe examinou o aparelho, vendo-lhe o fio desconectado da tomada. O pequeno indício indicava um monte de coisas se desenrolando naquela noite lúgubre.

O criminoso queria a campainha do telefone sem chamar a atenção dos vizinhos se acaso tocasse muitas vezes, chamaria a atenção. Possivelmente o criminoso conhecia os hábitos da família e sabia que pela manhã alguém ligaria no telefone. Por hora sabia muito pouco do acontecido e precisava avançar mais nos vestígios deixados. Precisava colher mais informações e deduzir com a lógicas da zetética, para localizar algum interessado na morte. O telefone repousava numa pequena prateleira exclusiva da parede em cuja superfície pintada de âmbar existia muitos números semelhantes a linhas telefônicas garatujados, alguns seguidos de nomes. Pelas coisas observadas, a família não era dada ao zelo, haja vista a conservação do imóvel. Uma televisão colorida e um aparelho de som três em um, bastante antigos, estavam em cima de seus respectivos aparadores. Aparentemente nada foi roubado, descartando crime de roubo.

macumba - o terreiro da morteWhere stories live. Discover now