Capítulo XX... ele faz um discreto aceno

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XX _ ... Ele faz um discreto aceno...

Passado os incidentes investigando as atividades extras dos envolvidos no crime, houve tempo suficiente para que as provas requeridas ao Instituto de Criminalística fossem concluídas. As diversas fases da investigação sobre a vida do quarteto amoroso não surtiram muito efeito. Um deles havia cometido o crime, ficando entre Grampola, Marcola e Carmelita. Entretanto havia ainda a possibilidade de concurso de criminosos, em duplas ou trio. O tripé que sustentava as possibilidades do crime estava presente: Carmelita era preterida pelos homens viris do grupo e a rejeição aguçava seus instintos de vingança.

Durante aquelas investidas nos lugares onde eles passaram furando poços artesianos ficou patente que nas orgias, tanto Júlio quanto Marcola preferiam transar com Grampola deixando-a na mão, literalmente, por mais de uma vez. A paixão envolvendo Marcola, Júlio e Grampola começava a ir além do controle, principalmente de Júlio que, por ser mais novo, ainda não sabia lidar com os males do coração. Sentia Grampola fazendo charme com ele e seu padrasto. Muitas das vezes chegou a ameaçá-lo, principalmente quando era feito o acerto de dias trabalhados, queria sempre receber mais do que Marcola.

Também tinha motivo suficiente para querer despachá-lo desta para o andar de cima. Júlio era sempre uma ameaça ao relacionamento mais antigo com Marcola, por quem nutria uma paixão doentia. Quanto a Carmelita, era preterida há muito tempo pelos dois parceiros, motivo para se vingar não lhe faltava. Sempre aparecia algum problema a ser resolvido com urgência quando ela queria algum deles. As saídas de qualquer deles com o patrão para resolver problemas fora do escritório ou da obra eram constantes, mas nunca tinham prazo para ela. Fizera de tudo tentando prender Júlio consigo, mas não teve jeito. Estava apaixonada por ele, mas ouvia sempre a clareza que não a queria, se transava com ela alguma vez era por insistência sua. Naquela semana antes das mortes, procurou Júlio mais de uma vez, mas foi dispensada na maior escamação.

Estes fatos eram do conhecimento dos investigadores que haviam interrogado os suspeitos. Extra-oficialmente conversara com eles nas diversas vezes das idas ao escritório ou quando saiam com algum dos suspeitos para conhecer obras realizadas. Esgotados os meios de informações, precisavam reunir provas materiais da pericia. No sítio do crime, foi examinado o cabo da enxada usada para enterrar Maricota, com diversos chumaços de algodão embebidos em reagente próprio, coletando os vestígios deixados por quem usou a ferramenta por último. Partículas microscópicas de pele e suor seriam analisadas. Um exame de DNA acabava de chegar.

O perito precisava de material padrão para comparação nos exames. O pano usado para cobrir o rosto de Júlio tinha um embainhado de plástico e no canto dele ficou uma impressão digital de boa qualidade, possivelmente de quem o colocou sobre o corpo. O telefone desligado tinha boas impressões no bocal, o mesmo acontecia com a tomada lisa encontrada desconectada da parede. O cadeado do portão pelo lado de dentro tinha digitais de duas mãos diferentes. Um porta-chaves com as chaves da porta da sala e do portão encontrado na caixa do carteiro continha mais digitais. Todas as impressões papilares podiam ser comparadas com as pessoas suspeitas. Carecia colher o material padrão.

Travejane examinou os laudos periciais e os despachou de volta, informando que tanto Carmelita quanto Grampola possuíam identificação civil na Polícia Técnica. Apenas de Marcola não encontraram nada. As comparações poderiam ser feitas usando prova emprestada vinda do cadastro de pessoas civis, coletadas quando da feitura de carteira de identidade. Quanto ao exame de DNA tinha de intimar os dois suspeitos com endereços conhecidos para uma coleta formal. Marcola estava desaparecido e não havia nenhuma notícia de seu paradeiro. Os dois suspeitos foram intimados. Apresentaram-se acompanhados de advogados. Quando Grampola entrou no gabinete do delegado se fazia acompanhar do advogado Itacarambi, um antigo desafeto-cultural do investigador. O causídico entrou sentando-se ao lado do cliente sem dizer uma única palavra. Travejane apenas o olhou atravessado e pediu a carteira de identidade do intimado.

macumba - o terreiro da morteWhere stories live. Discover now