Capitulo XXIV - ...digitais na caneta...

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XXIV - ... Digitais na caneta...

O exame de DNA ficou pronto. A enxada foi manuseada apenas por Grampola. Todo o material coletado nos chumaços de algodão embebidos em soro especial tinha um único tipo de genoma. Outra pessoa não pegou naquela enxada recentemente. A comparação entre as unhas, as cutículas e o material questionado tinha proximidade de noventa e nove vírgula nove, ponto nove, nove... As impressões digitais da bainha do lençol cobrindo o rosto de Júlio eram de Grampola e possivelmente de Carmelita. Os peritos não puderam atestar com certeza em relação à mulher. Não existiam impressões de outras pessoas. A tomada do telefone e a maçaneta da porta da sala também tinham digitais dos dois. Na maçaneta da porta do fundo, no cadeado do portão e no chaveiro tinha digitais de Marcola. O laudo pericial trouxe outros detalhes importantes para a investigação.

As impressões deixadas na bainha plástica do lençol, na maçaneta da porta e no telefone eram contemporâneas. Aquelas do homem no cadeado do portão, do chaveiro e da maçaneta da porta dos fundos eram mais jovens pelo menos duas horas mais recentes. A perita do laboratório foi questionada sobre a idade dos vestígios e respondeu ter a maior segurança no que dizia, e escreveu. Ainda explicou ter usado o método Vucetti, re-estudado por Gabriel Chaplemaint da Universidade de Prymont na Inglaterra. Com relação ao material coletado no cabo da enxada, não podia dizê-lo com segurança, mas podia afirmar ser contemporâneo das digitais mais velhas.

Travejane repôs o telefone no gancho e viajou na informação da perita. Comparou as facilidades de agora com as provas periciais e a dureza do início de sua carreira. Imaginou um investigador do futuro, com alguns projéteis de arma de fogo. Certamente as "balas" seriam codificadas de tal forma a ter identidade de per si. Em outra investigação que presidiu sobre furto ocorrido em uma eletrônica, conheceu resistências elétricas codificadas com sete cores. O estanho do projétil deveria ser em cores seqüenciais dando um número para cada peça. Seria muito bom se pudesse ser um delegado de polícia, ou autoridade equivalente neste tempo futuro. Talvez daqui a vinte, trinta anos. Despertou-se dos devaneios futuristas, chamado pela escrivã Alcione. O pessoal intimado por ele o esperava na sala VIP (Você, os Indícios e a Prova). Nova reunião foi feita entre os investigadores de campo. Uma tremenda dúvida estava estabelecida quanto a autoria do crime. Carecia colocar os neurônios em funcionamento.

Acaso não tenha sido Marcola o autor do crime, onde ele estaria no momento dos assassinatos. Como era possível dele ser o autor dos crimes se os horários eram diferentes, conforme o registro dos momentos em que tocou os objetos onde foi encontrado suas digitais e a hora provável das mortes. A tal perita tinha certeza absoluta no diagnóstico com base em seus conhecimentos. Sempre confiou nas informações da ciência pericial e não ia duvidar agora. Sempre se deu muito bem seguindo as pistas indicadas pela prova inquestionável dos laudos. Precisava reciclar seus conhecimentos sobre os avanços nesta área. Quanto à participação de Grampola e de Carmelita não restava dúvidas, mas e o terceiro suspeito. Todos os indícios conhecidos sem as provas periciais apontavam para ele. Agora esta reviravolta. Que inhaca dos diabos.

Os parceiros daquela dura partida de xadrez com o bandido olharam-no buscando respostas e ele nãos as tinha. Da forma como era colocada a posição pericial, ninguém ousou discordar, apenas tergiversaram sobre o veredicto posto. Um cientista, quando termina um projeto duma experiência mal sucedida, volta para a prancheta de ensaios. Recomeça tudo do ponto zero. Quando obtém o ponto desejado ele próprio se pergunta como aquilo foi possível. Todos os experimentos que revolucionaram o mundo, o primeiro crítico foi seu próprio inventor, até se convencer totalmente a ponto de apresentar e convencer os demais. Policiais, quando esbarram no fim das pistas sem encontrar sucesso, tem de voltar para o local do crime, para os indícios primeiros. Quando descobrem o autor do crime, simplesmente testam todas as provas obtidas, para sentir se são firmes, justas e capazes de suportar um julgamento e uma condenação. Eis a dúvida na presente investigação.

A turma dele não era diferente, pelo contrário, era mais aplicada e disciplinada, razão de conseguir sempre melhores resultados. Travejane convidou os policiais para examinar a fita de vídeo gravada no dia do crime e revisitar os detalhes gravados. Tudo foi visto e apontado e a projeção parada muitas vezes para uma olhada em câmera lenta. Alguma explicação lógica tinha de existir para coadunar com as provas irrefutáveis da perícia. Em uma destas passagens, apareceu no canto do enquadramento da filmagem e apenas por meio segundo, um pequeno papel cor de rosa. A cena foi rápida se parecendo a um defeito da gravação. Estavam atentos e novamente o videocassete foi parado. O trecho questionado foi repassado em câmara super lenta, muito lenta. Agora aparecia o contorno de um bem bolado bilhete de espetáculos teatral. Não era muito nítido em razão da não especialidade do equipamento, mas tudo indicava ser um ingresso da boate gay Penélope Charmosa.

O papel aparecia se agitando para traz dum guarda-roupa e sua cor se confundia com o piso. Por isto não foi visto no dia. O olho mecânico da câmara foi muito mais eficiente que os experientes policiais. A fita foi levada ao laboratório técnico e lá examinada neste detalhe. Ao ser ampliado em equipamento próprio, descobriu-se a data do ingresso coincidente com aquela noite macabra do crime.

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macumba - o terreiro da morteWhere stories live. Discover now