macumba - o terreiro da morte

Capitulo XXV - ...estripador. estuprador...

XXV -... estripador, estuprador, espancador, matador, estrangulador, raptor, serial killer, assassino, facínora, pistoleiro, ladrão, sedutor de donzelas, pedófilo, gayófilo ...

A boate referendada era muito conhecida nos meios GLBT. Reinaldo e Joca foram escalados para uma visita a este antro de perdição dos prazeres masculinos. Quando ingressaram naquele ambiente fresco passava das vinte e três horas. A casa de festa estava lotada. A turma freqüentadora do pedaço tinha experiência com os mais diversos tipos passando por ali. Assim como os homens héteros conhecem as bichinhas de longe, pelo andar, pela fala, pelo cheiro, pelas vestes etc, o mesmo se dá em relação ao conhecimento delas com os homens. Quando os dois pisaram no lado de dentro do território rosa-choque, todos os olhares gays grudaram neles. O andar era indisfarçável. As maneiras de pisar firme em solo escorregadio, a fala grave e outros detalhes másculos foram percebidos no ar.

Como um odor forte contaminou tudo quanto era gay nas redondezas, parecendo um imã atraindo ferro. O ouriço foi geral, até aquelas meninas, ocupadas com seus pares, remexeram nas poltronas. Pelo menos uma olhadela não podia ser perdida. Representavam bofes do mais suculento manjar e eram como carne nova, de primeiríssima, no açougue. Todas as donzelas gostariam de levar algum deles para o matadouro particular. Joca caminhava à frente e percebeu o cheiro de confusão, parou empacado na hora perigosa. Disse ao parceiro, do tamanho da encrenca a vista. Reinaldo sugeriu falar imediatamente com o gerente, avisando sobre eles serem policiais em visita extra-oficial a trabalho, não desejando intimidades com ninguém da casa.

Precisavam fazer algumas perguntas e somente isto. Como bons observadores, examinaram o ambiente, escrutinando os cantos e recantos possíveis d'alguma armadilha. Nestes ambientes, sempre homiziam malandros gastando dinheiro de ganho fácil nas quebradas da noite. Nas muitas investidas contra o submundo, fizeram inimigos ávidos por encontrá-los desprevenidos. Sempre se gabavam de não dar sopa para o azar. Precisavam esforçar para continuar valendo o riscado. Reinaldo parou o olhar, estupefato com a visão encontrada. Voltou a visada com a velocidade do raio, para conferir o detalhe.

Um delegado de polícia, tido como linha dura e bronqueiro com todo mundo, estava sentado no colo dum marmanjo barbudo e musculoso em uma das mesas. Quando Reinaldo conferiu e teve certeza, chegou a retirar os óculos e limpá-los para não ter dúvida. O homem nem se tocou, olhava impassível em sua direção fingindo nunca ter visto nenhum dos dois. O policial percebeu a mancada na hora. Como se tivesse encontrado a mulher de algum amigo com o amante, disfarçou o mal-estar. Dirigiu-se para onde se encontrava o parceiro. Joca estava mostrando uma fotografia a uma pessoa impecavelmente vestida de smoking preto. O gerente olhou o retrato de Marcola e disse: ele vinha sempre ali! Tem um caso com o Carlinhos Grude e costumava aparecer para dar uns trancos nele, principalmente quando estava sem dinheiro.

Ao perguntarem pelo tal Grude, o gerente apontou uma mesa vazia aos fundos, ele chegaria mais tarde. Quase todo dia bate ponto na casa e por isto tinha mesa cativa. O gerente, vendo os rapazes muito desconfiados, resolveu oferecer-lhes uma cerveja, como cortesia. Aceitaram sentando-se nos tamboretes estofados do balcão, de costas para o ambiente principal. Ao contrário do desejado, informando a condição de polícia, ou seja, afastar as pretendentes indesejáveis, a notícia assanhou mais ainda a moçada pó-de-arroz. Uma das meninas já ouvira falar daquela dupla. Viu os dois num programa de TV onde explicavam a prisão duma gang de traficantes. O apresentador fizera uma festa com eles, informando-os da elite policial e representavam a linha de frente da delegacia onde estavam. Pertenciam a linha dura das atividades de polícia. A informação "linha dura" chegou a dar calafrio nalguma delas.