III - Atrás da cortina...
Em cima da cadeira, mais perto dos pés da cama, estava jogada uma camiseta regata. O delegado pegou a peça de roupa e a elevou à altura dos olhos. Ao virá-la encontrou uma nódoa acinzentada e uma pequena mancha de sangue, observou de a situação ser uma tentativa de limpar alguma coisa com esfregões. A roupa foi reposta na cadeira. O perito foi convidado a examinar mais detidamente. Abaixaram-se sobre ela e concluíram ser a primeira mancha composta de restos de massa cefálica. Foi colocada num saco plástico e separada como prova a ser examinada no laboratório. Joca puxou o pano da cortina com cuidado com o objetivo de examinar algum vestígio. Em outros crimes investigados encontrou marcas deixadas distraidamente por criminosos no sítio do crime. Por mais cuidadoso que fosse o meliante, a pressa ou a emoção do momento do cometimento do delito, o fazia esquecer o zelo recomendado pela ocasião. Acima da cama, numa altura compatível com alguém debruçado sobre o cadáver, descobriu um rastro de mão impregnado com sangue. O perito e o delegado foram chamados e examinaram a recentividade da marca. A poderosa câmera que o profissional da ciência pericial trazia foi ajustada para um close.
Um instantâneo das marcas foi batido. Em seguida, retirou de seu porta-treco um chumaço de algodão embebido em solvente especial passando-o sobre a marca. O material recolhido foi para outro saco plástico. Foram feitas anotações rápidas na parte própria para escrever no invólucro. Dr. Geraldo examinou o tecido da cortina descobrindo nela alguns traços muito tênues de sangue, possivelmente esguichou d'algum sangramento, da vitima ou do criminoso. Novamente ajustou o foco da máquina fotográfica, desta feita para fazer fotografia em preto e branco, a fim de obter melhores detalhes. Um repórter achou incrível, ser possível ver mais detalhes numa foto batida com aquela tecnologia antiga de fotografar em preto branco, que com o recente processo colorido e comentou com outro do seu lado. O perito achou o pequeno borrão insuficiente para colher amostras.
Travejane conjecturou com seus policiais e o perito sobre como teria acontecido o horrível crime daquela noite macabra. A pessoa assassinada na cama do primeiro quarto ainda não fora encontrada. O cadáver encontrado não mostrava vestígios de ter sido removido da outra cama, mas sim ter sido assassinado ali mesmo. As informações dadas por vizinhos eram de três pessoas vivendo na casa. O histórico levantado até o momento não indicava a existência de pessoas estranhas à família no local de crime. A suspeita mais provável era do autor do delito ser um dos homens da família. Conforme informações da vizinhança, o adolescente da família tinha problemas de relacionamento com o padrasto e estava morto, conforme reconhecimento feito por um vizinho, logo sobrava apenas o marido... mas onde ele estava? Muito provavelmente quem foi morto na cama de casal devia ser a mulher. Se fosse o homem, o suspeito em primeiro plano haveria uma reviravolta e tanto nas conjecturas dos policiais. Carecia investigar muito, muito mais.
Sob a cama foi encontrado um par de chinelas de dedos bastante surrada. A plataforma de espuma especial tinha sido comido no uso total de um lado. O formato do calçado era feminino. Mas onde estaria a dona do calçado? Se foi assassinada, onde foi parar o cadáver? Se foi apenas machucada, estaria agonizando nalgum lugar? Seria grave os ferimentos? Seria leve? Teria fugido em busca de socorro? Quanta duvida a povoar a imaginação de todos, sem nenhuma resposta concreta para uma pista do criminoso. Com as possibilidades de a ferida ter saído para fora, tinha de existir uma trilha de sangue marcando o caminho por onde andou. O piso de vermelhão estava limpo. A quantidade de sangue encontrada empapando o colchão informava de não ser possível ter forças para andar e fugir, ou teria? Precisavam investigar mais coisas. Carecia estudar melhor os vestígios, discutir as evidências e encontrar uma pista.
O delegado conectou o telefone e o aparelho tocou uma... duas vezes.. . Certamente quando a tomada foi conectada, já havia alguém ligando para aquele terminal. Olharam inquisitivamente o perito, fazendo-lhe gestos se podiam atender, procediam como se quem estivesse fazendo a ligação ouvisse. No local de crime, a autoridade maior era o perito e era dele quem decide o que pode ser tocado, o que pode ser mexido. O delegado Travejane sempre fez questão de respeitar esta autoridade, mesmo porque esta hierarquia trazia frutos positivos para o laudo pericial. O terceiro toque encheu a sala silenciosa, como se quem chamasse pudesse escutar. Até os repórteres diminuíram a intensidade de seus movimentos, talvez para melhor ouvir o futuro diálogo e fofocar a respeito em suas colunas. Todos cessaram o burburinho como se a campainha fosse um sinal de advertência. O perito finalmente acenou que sim. Podiam atender ao telefone. A úvula eletrônica emitia seu lamento pela quarta vez, sendo interrompida no meio de seu curso. Joca atendeu.
YOU ARE READING
macumba - o terreiro da morte
Action04 NOITE MACABRA Uma história envolvente narrando dois assassinatos ocorridos logo após uma sessão de macumbaria num terreiro de macumba. O pretenso pai de santo Grampola, se envolve com um homossexual enrustido e arrasta seu...