XVIII - ...Uma bruxuleante luz dançando...
Reinaldo se juntou a Joca na saída do terreiro e entraram na camioneta para ir embora. Os demais não tinham muita pressa de deixar o lugar santo. Ficavam em rodinhas comentando coisas da função. Funcionou o carro saindo pela única estradinha de acesso. Se esperasse os outros carros, a poeira encobriria tudo. Estavam assustados com os mistérios vistos. Algo muito estranho aconteceu com eles e o pior era não poder comentar com ninguém. Correriam risco de ter de contar a história inteira, e aí seria uma gozação dos infernos. Para piorar ainda mais, não andaram um passo na investigação. Nem mesmo pistas novas podiam contabilizar. Ambos estavam calados, cada um matutando com passagens individuais da noite. Rodaram mais de hora e meia e chegaram à beira dum rio, a estrada não tinha saída, a não ser o embarque numa balsa, mas não havia nenhuma embarcação. Procuraram com lanternas rastros d'algum veículo embarcado e nada. E observaram ao longo do rio e da margem oposta no contraste da água com o céu de poucas estrelas, mas cadê a embarcação? Também não encontraram sinais de atracação, ou lugares para as amarras.
O caminho morria no barranco do imenso espelho d'água corrente e não havia vestígios recentes de balsas, ponte ou passagem de vau. Escutaram ao longe o roncado duma cachoeira muito grande. Olharam-se, cismados. Ao sair para a diligência não atravessaram nenhum curso d'água. Deduziram ter pegado a estrada errada. Entretanto não existia caminhos para confundir. Joca olhou abismado o imenso rio e consultou seu arquivo pessoal de mapas de águas do imenso Estado de Goiás: rio com aquela largura e volume d'água só existiam três: Araguaia, Tocantins e Paranaíba. Cachoeira com aquele ronco, somente a de Cachoeira Dourada, e esta tinha sido sufocada com uma hidrelétrica fazia muitos anos.
Manobraram a camioneta voltando pela mesma batida, mas a estrada parecia ser muito diversa da que acabaram de passar. Pararam o carro, desligando o motor para escutar algum movimento do terreiro ou outro barulho qualquer. Apenas reinava o silêncio da mata. Não acontecia um único pio. Nem o silvo duma coruja ou o grasnar d'algum curiango ou outra ave noturna. Nada. O silêncio era intrigante. No horizonte distante um clarão erguia a linha do céu anunciando a chegada da lua. Para quem estava perdido até seria um refresco se aparecesse um luar de mostrar aquele mundo desconhecido. Depois dalguns minutos, Joca perguntou a Reinaldo se sabia o caminho de ir embora. A confusão se estabeleceu entre eles. De qualquer forma não carecia mesmo saber os caminhos. Não existiam opções. No retorno tudo era novo em nada parecendo com o caminho de ida. Não viram outras estradas que os pudesse confundir. O jeito era tocar pelo único caminho à vista e assim foram até chegar numa encruzilhada com cerrado fechado de lado a lado.
Bem no meio do cruzamento, permanecia estacado um elegante cavalo branco. Sua crina enorme escorria pelo pescoço, com tamanho superior a dois palmos. A cauda do animal igualmente branca tocava o chão. A crina brilhava como cabelos de uma donzela, tratados com mimo e muitos cremes. O pêlo parecia escovado com esmero. O rebrilho dos raios lunares criava dúvidas nos policiais se o tratamento era com cremes ou xampu. Seu porte era altivo e mantinha a cabeça alta em estado de alerta. O animal estava no meio da estrada estreita e não se assustava com a chegada deles, ao contrário parecia desafiar.
Frearam a camioneta bruscamente, parando a menos de cinco metros do animal, tocaram a buzina acelerando o motor. O barulho assustaria até pessoas, animais então correriam espantados com o ronco. O cavalo nem se moveu. Joca olhou Reinaldo dum jeito timorato. Os pêlos de seu braço pareciam o rabo de um gato acuado por algum cachorro. A estrada era estreita, sem espaço suficiente para passar de um ou de outro lado do cavalo. Atropelar parecia a única saída, porém não se decidira ainda, precisava confabular com o parceiro. De repente o animal levantou o focinho dando um relincho assustador. De suas narinas saiu um facho de luz azul diferente. Não parecia fogo e embora brilhasse não era luz conhecida, mas sim raios brilhantes de tinta púrpura. O facho era igual ao rabo dum cometa, se desfazia em mil estrelinhas pipocando para o alto. Aquilo assemelhava-se à coisa do Demo. Reinaldo levou a mão instintivamente para as travas das portas, acionando-as.
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macumba - o terreiro da morte
Action04 NOITE MACABRA Uma história envolvente narrando dois assassinatos ocorridos logo após uma sessão de macumbaria num terreiro de macumba. O pretenso pai de santo Grampola, se envolve com um homossexual enrustido e arrasta seu...