A Ordem Secreta - O Despertar do Fogo

Capítulo 36 - A Elementar Do Ar Negro

Amanda poderia ter morrido. Poderia, mas infelizmente o destino não foi satisfatório para o plano meticuloso de Natalie.

Antes que Amanda pudesse entrar dentro do olho do furacão, algo incrível acontece: uma raiz, tão enorme em seu comprimento e largura, cresce do chão não tão longe de onde Natalie estava localizada. Quebrando o concreto para abrir passagem, ela se desenrolou ainda mais, à cada segundo provando ser mais alta do que o provado anteriormente. Seus braços de galhos cresceram para os lados, e um, em especial, foi alongando de forma tão rápida que chegava a ser descontrolável. Suas pontas, resistentes como se fossem feitas de aço, se fecharam ao redor do tornozelo de Amanda.

Como se tivesse vida própria, a enorme planta começou a encolher, trazendo Amanda para fora do furacão, despertando a parte da fúria de Natalie que até aquele momento estava adormecida.

-Ora... Pelo visto a cavalaria já chegou.

Do outro lado da rua, se encontravam Mitchell, Melanie e Nicky. A Marca Elementar brilhava nas costas da mão do líder da Ordem Secreta - que por si estava em forma de punho, cravando a ponta das unhas fundo na mão do garoto -. Seus olhos estavam irados, e sua respiração pesada era visível, já que seu peito subia e descia fervorosamente.

-O que está acontecendo aqui, Natalie? - perguntou, no exato momento em que sua planta pousa o corpo de Amanda cautelosamente no chão, não muito longe de onde estava. A garota estava com os olhos fechados, provavelmente desacordada devido ao susto que levou ao conhecer o "olho do furacão" por si mesma.

Natalie ri de forma aguda, uma gargalhada genuína que percorreu todo o perímetro da rua. E foi nesse momento que Nicky entendeu. Aquela não era uma risada que um Elementar puro daria. Algo demoníaco tinha tomado conta do ser de sua amiga. E o pior: ela parecia gostar.

E foi quando ele desviou o olhar para o local onde deveria estar a Marca Elementar do Ar que percebeu a negritude que tinha tomado conta desta.

-Ela foi corrompida. - sussurrou ele, mas ninguém o ouviu devido à força dos ventos do furacão, que parecia ter tornado-se mais forte.

-Você não precisa se preocupar, Nicky. - disse Natalie, tentando soar o mais convincente possível. Para tornar sua atuação ainda mais promissora, ela tratou de afinar a voz, tentando soar amável. - Nem você, e nem os outros. Eu estava apenas... tratando de certos assuntos com Amanda. Nada demais!

-Então porque você tentou matá-la? - perguntou Mitchell, dando um passo para a frente. Em sua mão, uma enorme bola de fogo flamejante brilhava. Se ele precisava usá-la como forma de defesa, não iria ceder por um segundo sequer.

Quando Natalie olhou para a bola flamejante, não sentiu-se intimidada, ou sequer com medo. Ela não sentiu nada.

Ao levantar o olhar, encara os três membros da Ordem Secreta à frente como se eles fossem as bestas do coliseu, e ela, o guerreiro destinado à matá-los. Com esse pensamento aflorando em seu subconsciente, um lampejo em seus olhos foi perceptível para todos, menos para si própria: seus olhos, antes com as íris de cor azul, se tornam totalmente pretos. Foi como se a pupila tivesse se ampliado, tomando conta das íris e da esclera.

Todos recuaram, temerosos e surpresos com o que acabara de acontecer. Com a perda de concentração de Nicky, a enorme planta acaba murchando, até explodir em bilhões de partículas.

-O que foi? Ficaram com medo de mim? - perguntou Natalie, com a voz em estilo robótica. Ao rir, foi como se as portas do Inferno tivessem sido abertas, desencadeando um mal profundo e avassalador. Até mesmo Melanie sabia que a Elementar do Ar tinha perdido sua alma para sempre. - Vocês deveriam se envergonhar disso! Receberam a tarefa Divina de proteger o mundo, mas temem quando eu me manifesto.

-Quem é você? - perguntou Melanie, se preparando emocionalmente para começar a usar seus poderes quando necessário, mesmo sabendo que não conseguiria um bom progresso diante de uma pressão tão grande.

-Quem sou eu? - e, de repente, a criatura pisca, e novamente os olhos de Natalie foram devolvidos ao seu rosto majestoso. Vê-la dessa forma tornou quase tudo normal, como se nada daquilo tivesse acontecido. - Eu sou Natalie: a Elementar do Ar Negro.

Ao ouvir aquelas palavras, o furacão atrás dela torna-se mais denso, canalizando mais ventos do que antes, ampliando a sua largura, crescendo de forma absurdamente rápida. A principal preocupação dos outros Elementares era de que os Mortais pudessem ver aquilo e assistirem à cena se desenrolando naquela rua abandonada da cidade. Se isso acontecesse, o segredo da Ordem Secreta acabaria para sempre.

-Por que você usou magia negra? - perguntou Nicky, mexendo sua mão no ar, criando formas estranhas que apenas ele conseguiria reproduzir. Não muito depois, as árvores ao redor começam a se retorcer, criando vida como se tivessem acordado de um sono profundo de milênios. - Por que você corrompeu à si própria?

-Por quê? Você quer mesmo fazer essa pergunta? Por quê? - e então, quando piscou novamente, seus globos oculares nada mais eram do que meros buracos negros sem fundo. - Todos vocês devem admirar à si mesmos, além de seus poderes. - disse, com a voz abafada de antes (que tem um resultado semelhante se colocar a mão na frente da boca). - Mas eu não! Meus poderes nunca chegaram à evoluir. E o pior era que parecia que estavam definhando à cada dia. Eu não suportaria ser a mais fraca do grupo. Eu não poderia permitir! - a mudança de humor causou modificações no tempo. Vendavais corriam de leste à oeste. Além disso, alguns trouxeram nuvens carregadas de chuva para acima da cidade, fazendo o céu ficar enegrecido.

-Você não precisava ter feito o que fez apenas por causa de seus poderes! - exclamou Nicky, sentindo no fundo de seu ser os poderes da Terra. Com a concentração atingindo o nível que ele pretendia, o Elementar conseguiu sentir a vida das árvores ao redor. Pôde senti-las respirar. - Saiba que os poderes puros são mais fortes do que os corrompidos.

Natalie riu mais uma vez.

-Não têm como acreditar nisso. - disse, voltando ao normal. Porém, seus olhos azuis-esbranquiçados escondiam um brilho diabólico. - Você não pode sentir o poder correndo pelas veias assim como eu posso. Saber que tudo pode ser seu sem dificuldades. É isso que é ter poder.

Nicky ficou quieto. Não tinha o que falar que pudesse convencê-la do contrário: Natalie já tinha se voltado para o Mal.

-Sabia que era mais esperto do que aparenta...

-Eu a desafio! - gritou Nicky. As três palavras despertaram surpresa em todos: principalmente em Natalie, que tinha paralisado suas feições quase em cem por cento.

-O que você está pensando em fazer? - perguntou Mitchell, se manifestando pela primeira vez depois de um certo tempo. Essa pergunta também corria na mente de Melanie.

Mas Nicky fingiu que não ouviu os dizeres do amigo. Manteve-se firme, e seus olhos não desviaram de Natalie.

-E por que eu deveria aceitar seu desafio? - perguntou. Mesmo tentando, ela não conseguiu esconder o interesse que passou a ter da situação.

-Para me provar o que diz com tanta destreza: que o Mal é melhor que o Bem.

O sorriso que apareceu nos lábios de Natalie foi mais apropriado do que mil palavras que pudessem sair do fundo de sua garganta. A decisão já estava tomada. A luta, travada.

-Está bem. Me convenceu. - ela piscou profundamente mais uma vez, só que desta vez seus olhos não mudaram, o que tornou tudo ainda mais assustador: significava que ela estava fazendo aquilo de forma sana, entendendo cada decisão tomada. - Iremos lutar. Mas só vou ressaltar apenas um ponto que precisará se cumprido... - Natalie falou de forma lentamente, saboreando cada palavra. - Só pararemos de lutar quando um de nós morrer.