Quando Melanie entra em sua nova casa, se admira com o fato dela ser completamente diferente da de onde morava antes, junto com seu pai.
A sala de sua mãe era maior do que ela esperava, com dois sofás de couro marrom de três e quatro lugares, ambos de frente para o outro, separados apenas por uma pequena mesa de vidro com um vaso de flores azuis em cima. Na parede oposta á da sala continha uma lareira feita de tijolos marrons, e na parte de cima continha três portas-retratos: um de um gatinho negro lambendo sua própria pata, outro de um bebê recém-nascido bocejando - que Melanie achava ser ela quando era mais jovem -, e o terceiro era das duas junto com Theodore. Os dois estavam com as mãos dadas enquanto Melanie, com sete ou oito anos de idade, estava na frente deles, com um enorme sorriso estampado nos lábios. Ela se lembrava desse dia. Tinham ido para o parque fazer o piquenique de família que sempre acontecia a cada domingo. Ela se lembrava também que seu pai tinha pedido para uma mulher - que estava passando pelo local naquele momento - tirar a foto para ele, para que em seguida pudesse paga-la com dez reais pelo serviço.
Ela se aproximou da lareira e pegou a foto gentilmente, como se fosse feita de porcelana. Seus olhos não focavam-se no retrato ao todo - mas sim no rosto sorridente do pai. Naquele dia seus cabelos estavam mais longos que o esperado, pois caíam até cobrir sua testa quase por completa. Mas o sorriso que estava estampado nele naquele momento foi o suficiente para ela começar a lacrimejar, mas apenas uma lágrima caiu. E ainda por cima contra sua vontade.
A gota de água deslizou pela bochecha de Melanie até chegar ao queixo, mas durante o lento trajeto um pensamento cruzou a mente da garota: não posso chorar. Quando isso aconteceu a lágrima parou de fazer o caminho que estava realizando e, como se a gravidade não existisse, começou a subir bochecha acima. Era como se estivesse refazendo o que fez agora a pouco. O lento trajeto de descida se tornou um rápido trajeto de subida, e quando chegou na lateral dos olhos entrou de volta para o olho azul de Melanie (um lugar que, na opinião da garota, ela nunca devia ter saído).
Mas, como pode-se supor, ela não notou nada disso; nem isso e nem o fato de que as costas de sua mão esquerda, que naquele momento estava junto ao corpo e por isso longe da visão da garota, começou a brilhar em tom azul-escuro - como a cor de seus olhos -, assim como também revelando a forma de gota de água.
-Filha? - perguntou a voz de Betih, que vinha de detrás dela. Quando a garota se virou, percebeu que a mãe vinha trazendo um objeto enorme - quase da mesma altura que ela -, embrulhado em um papel-madeira marrom. O encostou no sofá que ficava perto da porta e se encaminha até aonde a filha estava. - O que está segurando?
-Você ainda tem essa foto? - perguntou Melanie, mostrando o retrato para Betih, que para no meio do caminho.
-É claro - disse a mulher gentilmente, apesar de haver na voz dela um quê de deboche. Às vezes Betih era incompreensível. Ela se aproxima e retira o retrato das mãos da filha, o colocando gentilmente em seu lugar de antes. - Querida, pode me ajudar a retirar aquele quadro do papel? - perguntou ela, sem se virar para olhar para a filha.
Melanie lança um olhar gélido na direção das costas da mãe e se dirige na direção do quadro embalado. O olha de cima á baixo e retira um pedaço do papel que cobria a parte de cima do objeto. Depois vai rasgando até tira-lo por completo, revelando uma bela obra de arte. Era um quadro com uma moldura dourada, rodeando uma pintura feito á pincel de duas araras de penas vermelhas. Ambas estavam em cima de um galho, e atrás delas as folhas das árvores bloqueavam os raios ultravioleta. Quando viu aquilo, a primeira reação que ela teve foi de desconfiança. Não sabia que Betih, sua mãe, tinha gosto para arte. Nem que tinha dinheiro para comprar uma.
Mas quando avaliou a arte novamente, sentiu algo vindo da arara da esquerda - que fora pintada de forma que parecesse estar observando Melanie -. Era uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo calma e reconfortante.

VOCÊ ESTÁ LENDO
A Ordem Secreta - O Despertar do Fogo
Fantasy"Existem cinco Elementares: Fogo, Água, Terra, Ar e Gelo. Cinco jovens a cada geração são escolhidos para receber a Marca Elementar, sendo que em seguida começarão a dominar, cada um, um elemento da Natureza Divina". Melanie teve a sua vida mudada q...