Capítulo 2 - Olhares Penetrantes

1K 65 2
                                    

Só havia Melanie e Betih no cemitério. A chuva naquele momento estava fraca - não era por causa de Melanie -, chegando a quase parecer que não chovia

Na lápide á sua frente continha os dizeres: Theodore Serfy Limye - Um pai amoroso e amigo. Que descanse em paz.

Melanie continuava chorando, sentindo que as lágrimas desciam pela sua bochecha e caiam no chão perto de seus pés onde, a cinco palmas de terra abaixo, seu pai foi enterrado.

-Vamos, querida - disse Betih, colocando sua mão gentilmente nos ombros da filha.

-Eu quero ficar mais um pouco - argumentou ela, olhando por cima do ombro para a mãe; seus olhos azuis-escuros e tristes pareciam fazer um pedido á Betih: "Por favor".

Betih olha para seus sapatos salpicados de lama antes de seus olhos voltarem a encarar a filha.

-Tudo bem, mas só mais dois minutos - disse ela, colocando as duas palmas de suas mãos sobre cada uma das bochechas da filha. Esse era um ato que ela fazia desde que Melanie tinha seis anos de idade. Era uma forma da garota nunca esquecer de como era seu toque. E funcionou; graças a isso Melanie sempre se lembra da mãe e de suas mãos calorosas. Mas isso não a agradava. - A esperarei no carro. Mas não se esqueça que temos uma longa viagem até a nossa casa.

"Nossa não. Sua casa", pensou Melanie, mas não disse nada. Em vez disso olhou o monte de terra no chão perto de seus pés. Ficou encarando aquele ponto enquanto sua mãe ia na direção do carro. Sozinha, ela se agacha e olha as margaridas que estavam na sua mão, se lembrando que foram flores como essa que seu pai - Theodore - tinha lhe dado no dia de seu aniversário de quinze anos.

Diante dessa lembrança as lágrimas rolaram para fora de suas órbitas, e a chuva acima dela se tornou mais forte, com as gotas ampliando seu tamanho em duas vezes. Foi então que Melanie percebeu a marca brilhante nas costas de sua mão. Por força de instinto, rapidamente larga as flores - que caiem no chão em cima de uma rasa poça de lama - e balança sua mão o mais rápido possível. Mas a marca continuava ali. Tentou, com os dedos da outra mão, esfregar o desenho, tentar borra-lo. Mas não conseguia. A forma de gota de água continuava do mesmo jeito e ainda brilhava em uma tonalidade forte.

Então para a sua felicidade o tom azulado começa a perder forças, ficando menos brilhante a cada segundo, até que por fim a marca para de brilhar, e por fim some.

Melanie, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer, inspeciona os dois lados de sua mão - costas e palma -, mas a marca tinha mesmo sumido. Desaparecido como se nunca tivesse existido.

Quando seus olhos se fixaram nas flores caídas na lama, rapidamente ela se apressa para apanha-las, sem se preocupar com o fato de que tinha sujado a ponta de seus dedos. Com elas em mão, gira uma por uma pelo caule, as inspecionando. Infelizmente boa parte de quase todas elas tinham sido manchadas de lama.

Voltando a ficar de frente para a lápide, ela coloca delicadamente o buquê encostado na pedra, pedindo em silêncio para seu pai descansar em paz, e pedindo para Deus lhe dar forças para deixar aquele cemitério sem um nó no estômago e uma flechada no peito.

-Sempre esteja comigo, papai - disse ela, concentrando a pouca força que ainda restava em seu corpo fraco para se levantar. Ainda encarando a lápide, Melanie ouviu uma voz vinda de suas costas.

-Melanie - disse ela. Quando a garota se virou viu Brian, parado ao lado da entrada do cemitério. Seus cabelos estavam molhados devido a chuva, e seus olhos pareciam sentir a mesma dor que ela estava sentindo naquele momento. Havia dois dias em que ela não o via, desde o dia em que descobriu que seu pai morreu. Desde então ela não dormiu, enquanto sua mãe tentava organizar o funeral o mais rápido possível. Mas a única coisa que o dinheiro dela conseguiu pagar foi o caixão e o enterro. Sem uma devida cerimônia, Theodore Serfy Limye foi enterrado, em um dia de chuva com apenas duas pessoas presentes, sendo que apenas uma parecia gostar verdadeiramente dele. E essa pessoa não era Betih Serfy.

A Ordem Secreta - O Despertar do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora