Capítulo 38 - Estados Físicos

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   No começo, uma leve chuva caiu pela rua abandonada. Não passava de uma fraca garoa. Mas aos poucos, conforme Melanie fundia seus poderes à água, o que antes era fraco e benigno se tornou forte, com as gotas da chuva ganhando o triplo do tamanho original.

   Toda SkyFall se refugiou no abrigo mais próximo que encontrava. Podia ser em suas próprias casas, ou embaixo de algum teto de um estabelecimento qualquer. Mas, depois que a misteriosa chuva começara, ninguém se aventurou a ficar na rua.

   As pesadas gotas de água caíam sobre a face de Mitchell, que aos poucos foi acordando depois do golpe dado por Natalie. Cambaleando, se levanta e, desorientado, olha ao redor. A paisagem estava nebulosa, já que a chuva não se deixava olhar mais do que um palmo de distância. Estreitando os olhos, Mitchell tentou achar vestígios de algum dos membros da Ordem Secreta. Achou Nicky, não muito longe de onde estava, ainda desacordado.

   Antes que pudesse correr na direção dele, sua visão panorâmica captou algo, mais à frente. Focando naquele ponto, acabou vendo um leve brilho azulado, que ele logo percebeu se tratar de uma Marca Elementar. Provavelmente da Água.

   E então ele percebeu que o que estava acontecendo: a luta agora era entre Água e Ar. E ele sabia que, se se intrometesse, não seria o melhor para ele.

   Agora, apenas uma sairia viva.

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   Felicia olhava para o céu com tanto receio. Estava em umas das cafeterias mais privilegiadas da cidade, e por isso, quase sempre estava lotada. Naquela tarde não estava diferente. Estavam todos fazendo o que julgavam ser normais - mas alguns com manias bem peculiares -, quando os pingos grossos começaram a cair contra o vidro da enorme janela do estabelecimento, quase ocupando toda a parede onde se localizava. Não demorou muito para que uma jorrada de pessoas, que passavam por ali, procurassem abrigo no interior. Em poucos segundos, todo o estabelecimento estava quase que lotado. Um mar de pessoas estava ao redor de Felicia, e a mulher começou a sentir-se claustrofóbica.

   Se levantando de sua poltrona estofada, ela procurou uma forma de ultrapassar a barreira que tinha se formado ao seu redor. Sempre procurando frestas que pudesse transpor, aos poucos ia se aproximando do local onde queria chegar. Enquanto caminhava, uma voz soou acima de todos os murmúrios que enchiam o recanto. Felicia logo percebeu, pelo tom, que era uma das garçonetes: a mesma que havia lhe atendido há exatos vinte e um minutos.

   -Senhoras e senhores! Peço que todos fiquem em silêncio e me ouçam! - disse ela. Estava em cima de uma mesa, para que pudesse ser vista por todos. Quando, aos poucos, os burburinhos foram parando, até que apenas o barulho das hélices dos ventiladores de teto fosse ouvido - além da chuva forte no exterior - a funcionária continuou - Entendo que todos estão procurando abrigo da chuva. Mas, por favor, não atrapalhem os fregueses. E sempre lembrem de falar o quão baixo possível. O barulho da chuva é o suficiente no momento.

   Assim que a garçonete desceu da mesa, os murmúrios voltaram, da mesma forma que antes. A funcionária se dirigiu à uma porta dupla ao fundo do estabelecimento, provavelmente levando até a cozinha. Lá, pelo menos, poderia encontrar o silêncio que procurava - ou pelo menos um ambiente mais sossegado -.

   Felicia continuava seguindo. Sua face estava revirada de horror. O contato com aquelas pessoas fazia um nó em seu estômago. Tudo o que ela queria naquele momento era sair, mas a chuva fazia com que sua permanência fosse quase obrigatória ali.

   Finalmente chegou ao seu destino. Havia um espaço vazio em torno de um metro de distância entre a parede e a multidão. Parecia que ninguém queria ficar perto da enorme janela, provavelmente temendo que o vidro fosse explodir. Mas a mulher aproximou-se lentamente. Quando encostou a palma da mão contra o vidro, sentiu fortes vibrações partindo dele, como se a qualquer momento ele fosse ceder.

A Ordem Secreta - O Despertar do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora