Jed Baker batia com os dedos no volante ultramoderno de seu novo Corvette. Estacionado em frente ao Burger Shed, deixou as chaves na ignição e o rádio ligado enquanto tomava sua Coca, com o olhar fixado na área de piquenique, logo atrás do pequeno restaurante, onde algumas poucas mesas estavam reunidas sob a sombra de três árvores gigantes. Angie Buchanan e Felicity Caldwell, sua melhor amiga, estavam sentadas ali, lambendo distraidamente o ketchup das batatas fritas e tomando refrigerante, como se não percebessem que ele e Bobby estavam dentro do conversível, olhando para elas. "Hotel Califórnia", dos Eagles, tocava no rádio, as notas familiares saindo das caixas de som, embora Jed mal estivesse ouvindo. Franzindo os olhos contra o sol, disse:
- Ela ainda não sabe, mas eu vou tirar o cabaço dela. - Seus olhos se acenderam em deliciosa consideração enquanto balançava o gelo triturado da Coca-Cola.
- Sei, e eu vou ser o papa - respondeu Bobby Alonso, com um sorriso debochado. Terminou o milk-shake de chocolate num só gole e ficou observando pelo para-brisa, o olhar nunca se desviando de Angie.
Angie e Felicity. Que dupla! A filha mais velha do homem mais rico da cidade e a filha única de um dos juízes mais proeminentes do condado. As garotas riam e conversavam, sussurrando segredos, dando risadinhas maldosas e acomodando seus adoráveis lábios rosados em torno do canudo de seus refrigerantes.
Jed ficava de pau duro só de olhar para Angie e quase conseguia sentir seu sabor. Bobby podia não acreditar, mas Jed não estava brincando. Antes do fim do verão, ele planejava transar com Angie.
- Se quer saber a minha opinião, ela já transou - disse Bobby, jogando o copo descartável pela janela, acertando a lata de lixo. Havia calda escorrendo pelas laterais da lata e abelhas e moscas voando sobre restos de comida.
Os dedos de Jed se fecharam no volante.
- Com quem?
- Sei lá, mas ela é... tão gostosa. - Bobby lambeu o resto de milk-shake dos lábios. - Não pode mais ser virgem.
- Como se você entendesse muito do assunto. - Jed não conseguia esconder sua irritação. A ideia de mais alguém a tocando o deixava vermelho de raiva. Ela era tudo o que ele queria numa mulher. Boa aparência, sorriso atraente, seios fartos e rios de dinheiro. A preferida das filhas de Rex Buchanan, Angie, com certeza, herdaria uma fortuna quando o velho morresse e, mesmo que não herdasse, era uma mulher e tanto.
Um guardanapo ganhou impulso com a brisa, voando da mesa. Angie inclinou-se para pegá-lo. Sua saia curta cor-de-rosa subiu-lhe pelas coxas capazes de apertar as costelas de um homem até o ponto de se quebrarem. O tecido rosado esticou-se de forma sedutora por seus quadris, e Jed teve a visão de apenas um vestígio de renda - fosse de sua anágua ou de sua calcinha, e aquele pedaço de paraíso o fez gemer.
- Ela é minha - murmurou bem baixinho. Com a garganta subitamente seca, bebeu o último gole do refrigerante. Estava tão excitado que achou que iria explodir; não queria mais ninguém, a não ser Angie. Havia outras garotas - várias delas - que transariam com ele, mas não estavam à altura de Angie. Garotas fáceis. Corpos à disposição.
Quando girou a chave na ignição e o motor de seu carro ganhou vida, imaginou como seria pressionar seu corpo contra o de Angie na cama, seus cabelos despenteados como uma nuvem de seda negra, os olhos sonolentos e azuis, os lábios rosados sussurrando seu nome em ansioso abandono. Fantasiou como ela se debateria sob seu corpo, implorando por mais, oferecendo-se para fazer coisas com as quais ele só poderia sonhar.
Os pneus cantaram quando o carro saiu da vaga do estacionamento. Em seguida, ao ajustar o retrovisor, percebeu que Angie olhava para ele. Sim, ela estava interessada. E ele não podia esperar para lhe dar o que ela queria.
- Você está sonhando - disse Bobby quando Jed passou a marcha e saiu acelerando pela cidade.
- Quer apostar?
Lojas antigas com falsas fachadas do século XIX foram ficando para trás. O sinal ficou amarelo e Jed pisou no acelerador. O carro avançou, passando pela interseção assim que o amarelo virou vermelho. O velho moinho, uma relíquia da família Buchanan, passou como um borrão.
Bobby riu.
- Você é doido, mas vou aceitar a aposta. - Sorriu exibindo dentes brancos e alinhados. - Está valendo. Quanto?
- Vinte pratas.
- Cinquenta.
Jed não corria de uma aposta.
- Fechado.
- Mas eu preciso de provas.
- Como o quê?
- Uma foto dela nua.
- Ah, espera aí...
- Ou ela mesma poderia me contar. - Bobby sorriu com malícia, e Jed teve a sensação esmagadora de que seu melhor amigo a desejava também.
Baixando os olhos para a marcha, desviou o olhar até a virilha de Bobby. Com certeza, estava com o pau duro fazendo pressão contra as calças jeans. Diabo. Passaram pela placa que dava boas-vindas aos turistas.
- Talvez a gente pudesse fazer disso um lance mais interessante - sugeriu Bobby, com um olhar malicioso que já havia levado o coração de colegiais às alturas. - Que tal quem transar com ela primeiro ganhar a aposta?
Jed pisou no freio. O carro rateou. Pneus caros cantaram quando o Corvette deslizou para o acostamento de cascalho da estrada do condado.
Uma caminhonete que estava logo atrás desviou rapidamente, passando para a pista de mão contrária. A buzina soou com força. O motorista, furioso, praguejou de sua janela aberta assim que retornou à pista correta, escapando dos carros que vinham em sua direção, mas Jed mal ouviu as imprecações. A cabeça ainda estava confusa com a sugestão lasciva de Bobby.
- Não brinque comigo neste lance - advertiu-o, o queixo tão tenso que chegou a doer quando encarou o amigo, cheio de fúria. Sentiu as narinas se arreganharem e tremerem de raiva. - Ela é minha, e eu não estou brincando. - Agarrou Bobby pela camisa. O algodão macio amassado entre seus dedos gordos. - Entendeu? Ninguém mais bota as mãos nela. Ninguém! Eu não só vou transar com ela, como farei dela minha esposa.
Bobby teve a audácia de rir.
- Ah, porra, cara, você tá maluco.
Jed o sacudiu com força, mas Bobby não se sentiu intimidado. Muito embora Jed fosse maior, ele era atleta, a estrela do time de futebol do ano anterior e o melhor lutador de luta greco-romana de sua categoria no distrito. Os quinze quilos a mais do amigo não lhe seriam de grande valia, porque ele era muito ágil - conseguira uma bolsa para lutar no Estado de Washington. Se acabassem no soco, levaria vantagem, mas Jed não estava dando a mínima. Trataria o amigo da mesma forma como era tratado. - Ela é minha - afirmou novamente. - Só não sabe ainda.
- Quando você está planejando lhe dar a notícia? Antes ou depois de tirar o cabaço dela? - Os olhos escuros de Bobby se elevaram nos cantos. Ele estava rindo, mas aquilo não era piada.
Pela primeira vez, Jed ficou totalmente sério. Havia passado os últimos dois meses pensando no que queria de Angela Marie Buchanan. A resposta era tudo. Ele a amava.
- Em breve. Vou contar em breve. - Jed largou a camisa de Bobby, e sua raiva se dissipou no calor escaldante que parecia exercer uma pressão vinda do sol.
Bobby bufou.
- Já passou pela sua cabeça que ela poderia rir na sua cara? Que ela pode vir a mudar de cidade? Ouvi dizer que está indo para uma escola bacana no leste. Qual é o nome da escola naquele filme que passou uns anos atrás, Uma História de Amor, não era Radcliffe ou uma porra dessas? Ela talvez tenha outros planos.
O sorriso de Jed saiu lento e maldoso.
- Então ela vai ter que mudar de planos, não vai?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O último grito
RomanceProsperity, Oregon, 1977. Um incêndio criminoso no moinho da abastada família Buchanan faz Cassidy, filha caçula de Rex Buchanan, dono da propriedade e de metade da cidade, ver sua adolescência e seu amor serem levados pelo fogo. A autoria do incênd...