Cassidy convenceu o detetive Wilson de que precisaria visitar o homem no CTI. Se Brig ainda estivesse vivo, estava determinada a vê-lo. T. John sentia-se muito satisfeito por usar sua influência e acompanhá-la pelas portas de duas folhas, até o posto de enfermagem que ficava numa posição central, próximo de vários quartos com três paredes. De uma mesa que parecia o painel de controle de nave Enterprise, as enfermeiras podiam ler telas, assim como ver os pacientes em seus leitos, a não ser que as cortinas estivessem fechadas para dar alguma privacidade.
Fique calma, disse a si mesma ao passar os olhos pelos leitos ocupados. Três homens e duas mulheres ocupavam os leitos, dormindo ou sedados, tubos, fios e cateteres enfiados em seus corpos.
- Por aqui - disse T. John, com a voz branda, conduzindo-a ao terceiro cubículo.
Parecia que a medula de seus ossos iria congelar. Aquele homem acabado era Brig? Quase sem cabelos, rosto destruído, inchado, pálido e irreconhecível, quase sem respirar. Arames mantinham seu queixo no lugar. Gazes cobriam partes de sua cabeça, seus braços e pernas. Ela mordeu o lábio quando imagens dele jovem - homem saudável, irreverente, cheio de energia - passaram por sua mente. Brig com a cabeça jogada para trás enquanto ria. Brig com o corpo rijo, músculos tensos e reluzentes sob o sol, enquanto brigava com Remmington. Brig e seus olhos brilhantes, ameaçadores, quando acendia um cigarro. Brig beijando-a na chuva.
Cassidy conteve um pequeno grito de protesto e sentiu vontade de sair correndo, correr o mais rápido e para o mais longe possível. Fazendo um esforço, aproximou-se lentamente. Uma sensação de náusea cresceu-lhe na boca do estômago. Lágrimas arderam em seus olhos.
- Ele recuperou a consciência? - perguntou T. John a uma das enfermeiras que estava trocando as sacolas de soro.
- Não.
- Qual o prognóstico?
- O senhor terá que perguntar ao médico.
T. John olhou preocupado para o homem agonizante, enquanto Cassidy lutava para manter a postura. Não podia ser Brig!
- Você o conhece?
Ela balançou negativamente a cabeça.
- Seria impossível dar...
- Alguma sugestão plausível?
- Não - disse ela, chegando à conclusão de que, mesmo que aquele homem fosse Brig, ela manteria isso em segredo, pelo menos por enquanto. Ele estava fugindo havia muito tempo; ajudara-o a fugir muitos anos atrás, além disso, a verdade nua e crua era que não sabia, não podia ter certeza. Só porque estava com Chase e fora encontrado com uma medalha parcialmente queimada de São Cristóvão na mão não havia como provar. Se, pelo menos, ele abrisse os olhos e olhasse para ela, talvez ela conseguisse ver um pouco do homem que conhecera tanto tempo atrás.
- Sinto muito, mas, se a senhora for ficar mais tempo, terei que pedir a permissão do dr. Malloy.
T. John olhou de relance para Cassidy, mas ela negou.
- Então está bem - disse ele, pegando Cassidy pelo cotovelo, conduzindo-a para além do posto de enfermagem e depois pela porta que dava para o corredor externo. Os pés de Cassidy estavam pesados, seu interior, trêmulo.
O detetive levou a mão ao bolso em busca do tablete de chicletes.
- Quer um? - ofereceu, estendendo um pacotinho de Dentyne, mas ela o recusou com um gesto, mal ouvindo suas palavras.
- Uma visão nada agradável, não é?
- Não.
Ele desembrulhou o chiclete, transformou o tablete numa bolinha e colocou-a na boca.
- Os médicos estão surpresos por ele estar resistindo por tanto tempo, sabe como é. Já era para o coração dele ter parado, mas ainda está batendo. Ele é um filho da puta duro na queda, justiça seja feita. Ainda aguentando firme. Não só está todo queimado por fora como ferrado por dentro, sabe como é; perdeu litros de sangue quando uma das vigas caiu em cima dele. Eu diria que ele teve sorte de ter chegado até aqui, mas...
- Ele não me parece sortudo. - Finalmente conseguira dizer alguma coisa, embora sua voz soasse estranha, como se estivesse tentando falar através de um vidro.
T. John olhou-a de relance.
- Talvez fosse melhor você se sentar.
Em vez de discutir, Cassidy deixou-se cair numa poltrona na salinha de espera, onde outras pessoas preocupadas - certamente amigos e parentes de pacientes do CTI - permaneciam sentadas ou caminhando. Pálidas, com rugas de preocupação marcando seus rostos e mãos nervosas amassando pedaços de lenços de papel, elas aguardavam notícias de entes queridos lutando pela vida. Como Brig... mas aquele homem não pode ser Brig!
- Posso pegar um pouco de água para você... quem sabe café?
- Não. - Cassidy dispensou qualquer demonstração de gentileza e lembrou-se de que não podia confiar nele. Do lado da lei ou não, T. John Wilson era o inimigo. Pelo menos por enquanto. - Estou... estou bem.
- Tem certeza?
- Tenho.
Ele aguardou, recostando-se numa coluna, braços cruzados na altura do peito, botas cruzadas na altura dos tornozelos, enquanto ela tentava se controlar, enquanto tentava impedir que sua imaginação galopasse para longe. Se aquele homem fosse Brig, o que ele estaria fazendo na serraria? Por que se encontrara com Chase? Há quanto tempo Chase sabia que Brig estava vivo? Apenas recentemente ou será que vinha mentindo havia meses, talvez até mesmo anos? Talvez desde o primeiro incêndio, aquele fogaréu que parecia ter acontecido uma vida inteira atrás.
O mundo pareceu se desfazer sob seus pés. Será que Chase sabia que seu irmão estava vivo quando eles começaram a namorar e, simplesmente, deixara de mencionar? Cassidy sentiu-se tomada de náuseas e achou que iria vomitar. Engoliu duas vezes em seco e, finalmente, se pôs de pé sobre pernas trêmulas.
- Tem certeza de que está bem?
Não! Nunca mais serei a mesma! Ai, meu Deus...
- Estou - mentiu, com mais convicção do que sentia. - Acho... Acho que vou visitar o meu marido.
T. John encarou-a tão friamente que ela sentiu vontade de se encolher.
- Achei que vocês dois tivessem se separado. Não tiveram uma briga séria naquela noite?
- Já expliquei...
Ele levantou a mão.
- Estou apenas lembrando o fato de que, na noite em que seu marido quase foi assassinado, vocês discutiram, você disse a ele que queria o divórcio, não foi?
Dando um suspiro, Cassidy concordou. Tentara parecer o mais confiável possível para o detetive.
- E depois ele saiu furioso e mal-humorado. E você... o que fez? Ficou em casa trabalhando em alguma matéria?
- Exatamente.
Obviamente, T. John não acreditou nela.
- Espero que não esteja mentindo para mim, sra. McKenzie, porque não gosto muito de ser enganado.
- Nem eu, detetive. Também não gosto de ser tratada como se estivesse atrapalhando uma investigação. Não segui meu marido até a serraria naquela noite, se é isso o que está querendo insinuar.
- O seguro de vida dele é bem alto.
Cassidy encarou-o.
- Não ligo para dinheiro.
- Ah, sim. Você é uma das poucas mulheres no mundo que tem o suficiente para viver. E, mesmo assim, quis se divorciar...
- Eu não quis. Senti que... que não havia outra saída.
- Mas agora se sente moralmente obrigada a ficar do lado do leito dele segurando sua mão? - Wilson não fez questão de esconder seu descrédito.
- É o que quero fazer.
Com o lábio inferior levemente projetado, o detetive semicerrou os olhos enquanto mascava, pensativo, seu tablete de Dentyne. Nada parecia lhe escapar e, apesar de sua aparência relaxada, do tipo "não dou a mínima para essa porra", ele parecia inquieto. Não, Cassidy não podia confiar nele.
- Ainda sou casada com Chase.
- É, eu sei.
- Ele precisa de mim agora.
- Pelo que ouvi, nunca precisou tanto.
A espetada doeu, mas ela não se deixou dominar pelos sentimentos.
- Você não o conhece.
- Mas irei conhecê-lo, minha querida - assegurou-lhe quando ela se dirigiu ao elevador. - Antes de tudo isso acabar, pretendo conhecer seu marido de trás para frente, de frente para trás, por dentro e por fora.
Não tenha tanta certeza. Ninguém conhece Chase McKenzie. Pode acreditar, eu já tentei.
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O último grito
RomanceProsperity, Oregon, 1977. Um incêndio criminoso no moinho da abastada família Buchanan faz Cassidy, filha caçula de Rex Buchanan, dono da propriedade e de metade da cidade, ver sua adolescência e seu amor serem levados pelo fogo. A autoria do incênd...