CAPÍTULO 41

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Oswald Sweeny confirmou o que Cassidy já sabia: Marshall Baldwin não tinha passado. Nem infância, nem adolescência, nem um primeiro amor, nem história, por mais medíocre que fosse. Nenhuma avó gentil respondeu a quaisquer indagações, nenhuma irmã esquecida telefonou em busca de mais informações, nenhuma professora de escola lembrou-se dele.
- É - respondeu Sweeny, a voz clara, embora ainda estivesse no Alasca -, parece que o nosso rapaz simplesmente apareceu por volta dos dezenove anos. Chequei os arquivos da Califórnia, e adivinha o que encontrei? Havia um Marshall Baldwin que nasceu em Glendale, em 1958, mas, quando chequei mais a fundo, vi que ele havia morrido seis meses depois de ter nascido. Síndrome da Morte Súbita Infantil. Eu mesmo conversei com a mãe dele; está morando em Freno agora.
Cassidy sentiu o estômago ficando apertado. Nada disso era novidade - ouvira praticamente a mesma coisa de Michael Foster, e isso significava que Bill Laszlo e suas fontes logo teriam a mesma informação.
- Não havia outros meninos com o mesmo nome?
- Alguns... mas eu chequei todos eles, e vivos ou mortos, não podem ser levados em consideração. Quanto ao menino de Glendale... essa é uma identidade que poderia ser facilmente assumida.
Ai, meu Deus!
- Não posso deixar de me perguntar se Baldwin não era Brig McKenzie - disse Sweeny, como se adivinhando os pensamentos de Cassidy.
- Pode ser - disse ela, com a boca seca.
- Não poderia ser mais parecido, considerando o acidente.
- Acidente? - repetiu ela.
- É. Baldwin teve um acidente esquisito num galpão. Alguma coisa saltou de uma das serras, um pedaço de madeira que saiu voando e o atingiu no lado esquerdo do rosto. Precisou fazer uma cirurgia. Enfim, isso não quer dizer que o cara não seja o McKenzie. Quer que eu investigue? - Ele parecia ansioso, como se, finalmente, tivesse descoberto alguma coisa em que poderia fincar as garras.
- Não, obrigada... - Cassidy mal podia se concentrar na conversa. - Você fez mais do que o esperado. Se puder me mandar a nota dos seus serviços... aqui para o escritório.
- Sem problemas.
Cassidy desligou o telefone, ergueu os olhos e viu Bill Laszlo recostado na divisória, os olhos fixos nela.
- Más notícias? - perguntou, um sorriso confiante estampado no rosto.
- Só você mesmo. - Selma deslizou a cadeira de rodinhas em torno da divisória. Bill teve de se mover com rapidez para não ser atropelado. Penteando os cachos macios e rebeldes com os dedos, disse: - Você sabe que, se não parar de importuná-la, ela vai mesmo acabar cedendo ao cigarro.
Laszlo a ignorou e pegou um peso de papel da mesa de Cassidy.
- Parece que você viu um fantasma.
- O que você quer, Bill? - perguntou Cassidy.
- Uma confirmação.
- De quê?
- De que Marshall Baldwin era mesmo Brig McKenzie.
- Não sei dizer.
- De que McKenzie provocou o primeiro incêndio - levantou um dedo - e o segundo. - Outro dedo foi levantado.
- Você está inventando notícias agora, não as publicando.
- Mais do que coincidência ele ter estado presente nos dois incêndios... o que você me diria?
- Eu não diria nada. Você não tem fatos, Bill. Apenas conjecturas, e a última notícia que ouvi é a que o Times não publica especulações.
- Isso não é algo sobre o qual você ainda não tenha pensado. Nem a polícia. Todo mundo achava que o desconhecido era Brig, então ele apareceu com essa identidade de um tal de Baldwin, mas acho que tudo isso é só uma cortina de fumaça. A pergunta de verdade é por que o seu marido está mentindo.
- Você não sabe se ele está...
- Apenas lhe diga que eu estou passando para falar com ele.
- Ele não vai conversar com você.
- Vai.
- Como? Táticas da Gestapo?
- Vá se catar! - murmurou Selma. - Vamos lá, Cassidy, hora de um pequeno intervalo para o câncer pulmonar. - Pulseiras tilintaram quando ela pendurou a bolsa no ombro.
A irritação de Bill se fez presente nos cantos apertados de sua boca.
- Não há como você me evitar, sabe bem disso. Da forma como vejo, você pode trabalhar comigo ou contra mim. Pode fazer uma reputação para si mesma ou simplesmente ser mais uma fonte no jornal.
- Vou deixar passar. As duas opções. - Cassidy desligou o computador e pegou a pasta e a bolsa. - Vou tirar os próximos dois dias de folga. - Não suportava ficar no escritório nem mais um minuto, não queria nem tentar evitar as perguntas maliciosas nos olhos de Bill, e sabia que seria inútil tentar se concentrar em qualquer história que não lhe dissesse nada.
Tudo o que podia pensar era que Brig estava morto e Chase havia mentido. Quantas vezes lhe perguntara sobre Brig? Com que frequência lhe havia sugerido que o desconhecido poderia ser o seu irmão? E ele mentira. Porque sabia. Tinha de saber.
Quando dirigiu para casa, seus pensamentos rodaram com a mesma rapidez que os pneus de seu jipe. Se Brig estava morando no Alasca com outro nome, com uma nova identidade, por que teria voltado a Prosperity? Quando voltara? Durante quanto tempo Chase sabia da verdade sobre o irmão que ele fingia estar morto? Será que haviam planejado a reunião com Brig? Será que Sunny sabia?
Sua cabeça latejava quando estacionou o jipe na garagem. Não se preocupou em se acalmar, não parou para contar até dez. Queria respostas e as queria naquele momento. Sem mais mentiras. Sem mais jogos.
- Chase! - gritou, entrando com ímpeto pela porta dos fundos, o estômago em nós, a raiva lhe correndo as veias. Ruskin, deitado debaixo da mesa da cozinha, pulou para cumprimentá-la. Cassidy acariciou-lhe a cabeça por um segundo e foi entrando em casa. - Chase?
Encontrou-o mancando na porta do quarto. Nu da cintura para cima, usava calças de moletom cinza, úmidas na altura da cintura, o peito despido e encharcado de suor. Tinha o rosto ruborizado, os cabelos molhados como se estivesse se exercitando, fazendo os execícios dolorosos de fisioterapia para fortalecer os músculos. Desde sua briga com Derrick, ia até o limite todos os dias. Agora, preparava-se para o que viria, recostado na parede.
- Marshall Baldwin nunca existiu - despejou de imediato, exercendo pressão com seu olhar severo.
- Sobre o que está falando?
- Eu chequei, o departamento do condado também, Bill Laszlo e Oswald Sweeny também.
- Sweeny... o detetive que você contratou?
- Sweeny morava em Portland, mas se mudou para Anchorage. - Deu dois passos na direção do marido. - Antes de completar dezenove anos e trabalhar em algo parecido com manutenção de oleodutos, Marshall Baldwin não tinha vida. Nem no Alasca, nem na Califórnia. E sabe o que mais? O único Marshall Baldwin que poderia ter nascido na data correta e ter a mesma idade, na Califórnia, morreu quando bebê. Síndrome da Morte Súbita Infantil.
- Quem disse que Baldwin nasceu na Califórnia?
- Não minta para mim, Chase! - quase gritou. - Eu sei. - Bateu no peito do marido com a palma da mão, os dedos abertos. - Sei que o desconhecido ou que Marshall Baldwin, ou seja lá como queira chamá-lo, era Brig. É só uma questão de tempo até que isso seja provado.
- Pelo amor de Deus, Cassidy! Ouça o que está dizendo...
- Eu sei, droga! - De tão nervosa que estava, tremia a ponto de segurá-lo pelos braços, as unhas enterrando fundo em seus músculos. - Mereço saber a verdade!
Seu maxilar tencionou e relaxou, e seus olhos ficaram da cor do céu da meia-noite. Com a aparência de um homem condenado, Chase suspirou e fechou os olhos.
- Está bem. Quer tanto ouvir isso. Brig era Baldwin.
Seu mundo caiu. A verdade, durante tanto tempo escondida, esmagou-a com seu peso.
- Ai, meu Deus! - murmurou, os braços largando os dele, como se sob efeito de carga. Quase caiu ao tentar se afastar, ao tentar encarar a dor. Braços fortes a acolheram. - Você sabia. - Cassidy sentiu um nó na garganta, e uma onda de emoções a dominou. - Por que não me contou? Por que mentiu?
O abraço dele intensificou-se, e ela fez força, tentando desvencilhar-se.
- Por que, Chase? - gritou, lágrimas escorrendo de seus olhos. Prometera a si mesma que nunca mais derramaria nenhuma lágrima por Brig McKenzie, que o consideraria morto anos atrás, mas sempre existira uma pontinha de esperança dentro de seu coração.
- Ele queria assim.
- Não estou entendendo.
- Ele sabia que, se você achasse que estava vivo, talvez nunca desse jeito na sua vida, nunca se encontrasse.
- Sabia disso o tempo todo? - Sua voz saiu como um suspiro, os lábios se movendo contra o peito do marido quando ele a puxou para si.
- Há muito tempo.
- Antes de nós nos casarmos?
Ele hesitou. Sua respiração acelerou-se.
- Sabia.
- Ai, meu Deus!
- Ele me fez jurar que guardaria segredo.
- Chase... - Levantou a cabeça e sentiu os lábios dele contra os dela. Sentiu o sal das próprias lágrimas e o odor da transpiração de seu corpo. Sentiu-se invadida de calor e, apesar do sofrimento ou por causa dele, rendeu-se ao puro desejo físico que despertou fundo em seu íntimo.
Por instinto, passou os braços pelo pescoço dele e, quando a língua de Chase fez pressão urgente contra seus dentes, abriu-os voluntariamente. Pensamentos distantes passaram por sua mente, imagens traiçoeiras de que fazia amor com o homem errado, que se dar a ele seria compactuar com suas mentiras. No entanto, bloqueou a mente contra tudo, exceto contra a sensação de seus músculos rígidos em contato com seu corpo, contra o odor masculino que entrava por suas narinas, contra o gosto de sua pele. Tirando-a do chão, Chase fez força para levá-la para seu quarto, onde a deitou na cama.
Ainda a beijando, deitou-se ao seu lado, dedos ansiosos tirando os botões de suas casas apertadas.
- Cassidy - murmurou em contato com sua pele. Abrindo-lhe a camisa, beijou o centro de seu peito, os lábios úmidos e quentes, como se sentindo a batida de seu coração sobre a caixa torácica.
Ela mal podia respirar e, quando ouviu o ruído suave do zíper sendo aberto, fechou os olhos. Fazia tanto tempo. Acariciou-o por toda a parte, sentindo sua pele lisa, seus músculos rijos, seus quadris firmes.
Chase lhe abriu o sutiã e passou o rosto em seus seios, o hálito roçando em seus mamilos. Excitou-a com a língua, chupou-a, mordeu-a, e o desejo surgiu como um redemoinho quente e bem-vindo, que começou a girar em círculos que se alargavam e a envolviam.
- Eu tinha me esquecido de como você era bonita. - Beijou-a novamente e fechou as mãos sobre suas nádegas nuas, os dedos explorando o interior de suas coxas. Tremendo por antecipação, Cassidy contorceu-se sob o corpo dele, sentiu-o abrir-lhe as pernas com os joelhos, percebeu vagamente que ele mudava de posição, de forma que o peso caísse sobre a perna mais forte.
- Você me deseja, Cassidy? - perguntou.
- Desejo. - Mal podia falar.
- Por quanto tempo?
- Para sempre.
Uma sombra passou por seus olhos quando Cassidy o encarou.
- Se ao menos... - Fechando a boca, moveu-se de repente, penetrando-a. Entrando com força. Com voracidade. Como se, ao fazê-lo, pudesse expulsar o passado, o sofrimento, as mentiras. Como se a estivesse marcando de dentro para fora, e seu corpo estivesse respondendo da mesma forma, molhado e quente, como uma parceira disposta.
Enterrando os dedos em seus ombros, Cassidy agarrou-se a ele, quando o sangue correu quente em suas veias, quando as costas se arquearam e o envolveu com as pernas. O quarto pareceu sumir de cena, a casa não mais existia e, de repente, eles estavam sozinhos no universo. Um homem, uma mulher, um amor.
Chase. Brig. Amor. Imagens giraram em redemoinho atrás de seus olhos.
- Ai, meu Deus, não consigo parar! - gritou ele, quando seu corpo ficou rígido, e soltou um grito desesperado de tanto prazer.
O corpo de Cassidy convulsionou-se sob o de Chase, o mundo explodindo, as estrelas colidindo, o ar tão quente que ela não conseguia respirar.
Com a respiração ofegante, Chase caiu sobre ela, que deu boas-vindas ao seu peso, os braços em torno de seu dorso suado, os dedos apertando os músculos fortes de suas costas.
- Senti sua falta - sussurrou ela, lágrimas brotando em seus olhos.
- E eu senti a sua. Se ao menos soubesse quanto... - Ainda respirava com dificuldade, as palavras permeadas por um desespero que ela não conseguia entender.
- Apenas me abrace.
- Pelo tempo que eu puder, meu amor - sussurrou novamente contra as mechas umedecidas de seus cabelos. - Pelo tempo que for possível.

O último gritoOnde histórias criam vida. Descubra agora