CAPÍTULO 16

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- Shh. Cass. Sou eu. - A voz de Brig simplesmente fez o coração já acelerado dela bater com mais força, em contraponto com a chuva que batia no telhado da cocheira.
- Brig? - sussurrou, quando ele abaixou a mão e repousou-a sobre seu ombro. Cassidy tentou ignorar o toque de seus dedos, almofadas quentes que a queimavam através da camisa. - O que, o que você está fazendo aqui?
- Era para eu me encontrar com a Angie.
O coração de Cassidy pesou como uma pedra.
- Mas ela estava com você... na festa.
- Eu me separei dela há algumas horas. Deixei-a no centro, onde estacionou o carro. Nós nos encontramos mais cedo... Acho que ela não queria que eu viesse aqui de Harley para pegá-la ou trazê-la para casa.
- Por que não?
- Disse que teve uma briga com Derrick. Parece que o seu irmão tem algumas contas a acertar comigo. Ameaçou-a e parece que até o seu pai concordou que ela não deveria me ver.
- Mas ela se encontrou com você mesmo assim.
- É. Saiu com alguma desculpa esfarrapada sobre ir à casa da família Caldwell mais cedo, então me encontrou no centro da cidade.
- E você concordou.
- Sua irmã... ela sabe ser convincente.
- Então você não é tão imune a ela, afinal de contas.
- Apenas gosto de ganhar do garoto riquinho.
Cassidy sentiu-se como se uma bola de chumbo tivesse se formado em seu estômago. Tentou desvencilhar-se de Brig, mas seus dedos, ainda firmes em seu ombro, apenas afundaram mais.
Ela tentou disfarçar o sofrimento contido na voz.
- Angie ainda não chegou em casa, e o Derrick está à procura de briga.
- Comigo?
Ela sentiu o sorriso em sua voz.
- Isso não é brincadeira, Brig. Ele está armado e convencido de que estará prestando um grande favor a todos, inclusive a Angie e ao resto da cidade, se... se...
- Se o quê?
- Se matar você.
- Encenação de garoto mimado - previu Brig. - Não se preocupe com ele.
- Ele estava falando sério - respondeu ela, o coração acelerado de tanto medo. - Acredite em mim, ele vai matar você.
- Deixe-o tentar. - Brig suspirou. - Onde está Angie?
- Precisa dela para alguma coisa?
- Não, droga - disse ele, em seguida, retratando-se. - Ela é que me pediu para encontrá-la aqui.
- Na estrebaria?
- Foi o que disse. O problema é que estou um pouco atrasado, porque Jed Baker quis arrancar um pedaço do meu couro. Estou me sentindo um cara popular esta noite.
- Derrick está determinado.
- Jed também estava.
Ele parecia não estar entendendo. Pelo pouco que Cassidy pôde ver dele, dos contornos de seu rosto iluminado pela luz pálida que era filtrada pelas janelas, ele não estava muito preocupado com o irmão dela, embora ainda houvesse traços de sangue em sua testa por causa da briga com Jed.
- Olha só, Brig - disse ela, ainda ciente de que ele a tocava -, o Derrick andou bebendo e pode ficar muito violento quando está embriagado. É melhor você ficar longe dele.
- Talvez alguém precise lhe dar uma lição.
- Não. Não vai dar certo. Outras pessoas já tentaram. - Cassidy balançou violentamente a cabeça e desejou que houvesse formas de convencê-lo de que estava em perigo. - Derrick fica mais do que violento. Às vezes... às vezes acho que ele gosta de machucar as pessoas. Fica excitado com isso.
- Hora de mudar.
- Não. Não é você quem vai fazer isso. Não esta noite. - Desesperada, ela o segurou com os dois braços. - Vá para casa... não, vá para qualquer outro lugar seguro, algum lugar distante. Espere o Derrick ficar sóbrio.
- Para que ele possa me pegar numa próxima vez em que esteja com mais gente?
- Até ele encontrar outra pessoa para Cristo.
- Como quem? Você? - perguntou ele, e Cassidy empinou o queixo.
- Posso cuidar de mim.
- E eu não? - O escárnio pontuou suas palavras, e ela se sentiu tola e criança, uma menina envolvida em emoções adultas.
- Derrick... ele se preocupa comigo. Não me machucaria. Mesmo se não gostasse de mim, tem medo do papai, do que ele faria se descobrisse que está me importunando.
- Ou a Angie? - perguntou Brig, a voz baixa.
- Ou a Angie. O papai... ele nos protegeria. - Magoava-a o modo como ele falava de Angie. - Por que você concordou em encontrá-la aqui?
- Não devia ter concordado - disse, dando um suspiro. - Mas ela estava... - Sua voz falhou. - ...assustada.
- Com o quê?
- Não sei.
- Talvez estivesse fingindo - comentou Cassidy. Conhecia muito bem a irmã, e, embora não conseguisse compreender claramente o que andava deixando Angie aborrecida nos últimos dias, tinha certeza de que Angela Maria Buchanan nunca ficara assustada de verdade com nada na vida.
- Talvez. - Brig não parecia convencido, e o silêncio se prolongou entre eles com a chuva batendo no telhado e o cheiro abafado dos cavalos impregnando o ar. - O que você está fazendo aqui?
- Pensei... pensei em sair para cavalgar.
- No meio da noite? Na chuva? - Ele não se deu ao trabalho de esconder seu ceticismo. - Isso é loucura, até mesmo para você.
- Eu...
- Você o quê? - perguntou ele, o rosto tão perto do dela que seu hálito quente cheirando a cigarro acariciou-lhe o rosto.
- Eu ia procurar você - admitiu, percebendo que ainda o tocava, que suas mãos ainda estavam em seus braços e que ele havia se aproximado, cobrindo a pequena distância entre eles.
- Procurar por mim?
- Para avisá-lo sobre o Derrick.
- Posso dar conta dele.
- Eu lhe disse... ele está... ele está armado. - A mão de Brig aproximou-se de seu pescoço, e a pele dela arrepiou-se por onde passaram as pontas de seus dedos.
- Então você estava tentando me proteger. - A voz dele estava baixa agora, sensual.
- Ele é perigoso. - Brig estava tão perto que ela mal podia respirar. Seu coração ressoava em seus ouvidos.
- Eu também. - Levantando-lhe o queixo com um dedo longo, ele a beijou, e, dessa segunda vez, ela pareceu derreter por dentro. A língua de Brig invadiu-lhe a boca, que se abriu prontamente, como uma flor para o sol. Seus braços a cercaram, e os joelhos de Cassidy tremeram; seus ossos relaxaram. Brig tinha a boca firme, faminta, ávida.
Cassidy ficou excitada, muito excitada, e as mãos dele apenas alimentaram o fogo que ardia sob sua pele. Me ame, gritou, em silêncio, por favor, Brig, me ame. Pressionou o corpo contra o dele, querendo mais, sabendo que somente o toque dele aliviaria o desejo que a fazia suar desde a espinha. Ansioso, ele lhe tirou a camiseta, e ela se atrapalhou com os botões de sua camisa. Seus mamilos saltaram por cima do sutiã e roçaram nos cabelos macios de seu peito.
- Cassidy - sussurrou ele, a voz estrangulada, como se quisesse parar, mas não conseguisse encontrar forças para isso. Abriu o sutiã dela, e seus seios saltaram para suas mãos calejadas. - Cassidy, minha doce, doce, Cassidy.
Com os polegares, acariciou-lhe os mamilos, que responderam ao seu toque, contraindo-se quando um calor líquido começou a correr por seu sangue. Ajoelhando-se, deu beijos molhados em sua pele e enterrou o rosto entre seus seios, apertando sua pele maleável contra as faces.
Em seu interior, Cassidy começou a gemer.
Um gemido lhe escapou dos lábios, e ela entrelaçou as mãos pelos cabelos de Brig, mantendo-o perto de seu corpo. O hálito dele soprou seu mamilo antes de Brig tomá-lo em sua boca, deixando-a com as pernas bambas. Brig a beijou, tocou, e segurou suas nádegas com as mãos em concha.
O desejo transformou-se numa necessidade sombria que latejava entre as pernas de Cassidy.
Ela sentiu o botão da bermuda se abrir e ouviu o barulho sequencial do zíper descendo aos poucos pelo trilho, quando então sua braguilha se abriu, convidativa, para as mãos de Brig. As bermudas surradas caíram no chão, e Brig afundou o rosto em sua barriga, seu hálito lhe queimando a pele, as mãos se fechando em torno da parte traseira de suas coxas, acariciando e excitando.
- Deus do céu, como eu te quero - disse ele, a voz rouca, os lábios umedecidos e cheios de promessas ao roçarem tão intimamente a pele dela, por sua seda. Seu hálito quente invadiu a barreira frágil das calcinhas de Cassidy, e ela tremeu por dentro.
Seu coração se elevou.
- Eu... eu te quero, Brig.
- Não! - disse ele, com veemência. - Você nem sabe direito o que quer; tem... tem... Deus do céu, tem apenas dezesseis anos!
- Me ame, só isso.
- Eu não... não... não posso. - Brig deixou as mãos caírem e jogou a cabeça para trás, apertando os olhos. Tremendo, inspirou forte, como se, ao agir assim, pudesse conter o desejo que corria por seu sangue.
- Por causa da Angie.
- O quê? Angie? - Seus olhos se abriram. - Não... - Em seguida, controlou-se.
- Não? - perguntou ela, mal conseguindo acreditar que ele pudesse rejeitá-la. Cassidy estava se oferecendo para ele, oferecendo sua virgindade, seu amor, e Angie se colocava no caminho. Lágrimas de vergonha ameaçaram seus olhos.
- Ela não tem nada a ver com isso.
- Mas você disse que você e ela...
- Menti - admitiu ele, afastando impacientemente os cabelos do rosto. - Menti para que você me deixasse em paz.
- Mas eu vi vocês dois juntos, ao lado da piscina...
- Você viu o que quis ver.
Cassidy queria desesperadamente acreditar nele. Com todo o seu coração, precisava acreditar naquelas palavras. Ficou de joelhos e, colocando o rosto dele entre as mãos, beijou-o, forte e demoradamente.
- Não faça isso, Cass - avisou-lhe.
Mas ela não parou. Seus dedos correram pelos músculos fortes de seus braços, afastando-lhe a camisa antes de explorar a massa robusta formada por suas costelas. Ele gemeu, praguejou baixinho, tomou-a em seus braços e a beijou como se sua vida dependesse disso. Os dois deixaram-se cair no chão coberto de palha. Sem mais prevenções, sem mais tremores de negação. Brig aceitou o que ela oferecia com tanta vontade. Tinha as mãos em seus seios, tocando-os, apertando-os, fazendo promessas silenciosas à medida que, com a boca, acariciava sua pele. Contornou seu umbigo com a língua, empurrando-a para que se deitasse. Cassidy tremeu, um líquido quente corria em redemoinho dentro dela. Sua pele estava em brasa, e ela não podia pensar em mais nada a não ser na urgência de ter o corpo dele junto ao seu.
Brig lhe arrancou as calcinhas e as atirou para o canto. Em seguida, tirou as botas e os jeans. Beijou-lhe as coxas, as nádegas e então subiu, o hálito quente, a língua molhada, os lábios persistentes. Fechando os olhos, Cassidy sentiu a terra começar a mover quando ele a beijou no mais proibido dos lugares. Uma necessidade quente e úmida surgiu entre suas pernas. Seu sangue corria rápido, à medida que ele se movia e ela se contorcia, ansiosa por mais, desejando algo que não sabia nomear, sussurrando seu nome em ofegos curtos e velozes.
De repente, Brig estava sobre ela, nu, excitado, teso e suado.
Cassidy olhou diretamente para seus olhos escuros como a noite.
- Diga não - implorou ele, a respiração irregular, os lábios esticados sobre os dentes, em sinal de frustração.
- Não consigo.
- Pelo amor de Deus, Cassidy...
- Brig, eu amo você.
- Não...
- Sempre irei amá-lo.
O rosto dele se torceu, atormentado.
- Cass..., não posso lhe fazer promessas. Ah, inferno. Eu mereço levar um tiro por causa disso. - Em seguida, abrindo as pernas dela com os joelhos, cedeu ao desejo que ela viu estampado na saliência das veias em seu pescoço. - Não... - disse, tomado de emoção, quando seu corpo reagiu e afundou dentro dela, passando pelas barreiras de sua infância, fazendo dela uma mulher. - Não! Não! Não!
Cassidy ficou sem respirar durante uma fração de segundo de dor e percebeu um rasgo, não da pele, mas da adolescência da qual tão avidamente queria abrir mão. Agarrou-se a Brig enquanto ele se movia lentamente no início, deixando-a zonza, fazendo com que prendesse a respiração no fundo da garganta, criando um caleidoscópio de cores em sua mente. Ela sentiu os quadris deixarem o chão ao acompanhar seu ritmo. A transpiração umedeceu seus corpos, gemidos de prazer escaparam de seus lábios. O mundo pareceu girar cada vez mais rápido, e, de repente, a lua, o sol e as estrelas acima do teto da cocheira se estilhaçaram num flash de luz que clareou a noite.
Cassidy teve convulsões, e ele a segurou.
- Brig! Ai, Brig! - gritou, agarrando-se a ele, sussurrando com uma voz que não reconhecia como sua, antes de tombar suada e exausta no chão.
- Cass... - gritou Brig, tremendo e caindo por cima dela. Ali ficou, a respiração pesada, o suor se misturando ao dela, os braços protetores em torno de seu corpo. O coração ainda batia com ímpeto, a respiração ainda não havia abrandado o ritmo quando se apoiou sobre os cotovelos e a encarou com olhos torturados. Engolindo em seco, afastou uma mecha de cabelos de seu rosto.
Por alguns segundos, tudo o que ela ouviu foi o sussurro do vento, a batida acelerada de seu coração e a chuva batendo no telhado e nas paredes. Aconchegou-se a ele, repousando a cabeça em seu ombro.
Os músculos dele se retesaram.
- Ai, meu Deus, o que foi que eu fiz? - Sua voz saiu carregada de ódio, e ele suspirou com amargura.
Como se a estivesse vendo pela primeira vez, apertou os olhos.
- Droga, droga, droga! - Esmurrou o chão com o punho livre.
- Brig...? - Ele agia como se houvesse algo de errado, como se estivesse aborrecido consigo mesmo. Com ela.
Rolando até ficar de pé, Brig pegou a calça jeans e a encarou de forma tão ríspida que Cassidy desejou sumir dali.
- Não foi nada - respondeu, o ódio permeando suas palavras enquanto vestia as roupas. - Errei. Levar um tiro seria pouco para mim. Eu devia ser pendurado pelo saco. - Chutou furiosamente um montinho de palha. - Merda, onde eu estava com a cabeça?
- Brig...?
- Você era virgem - acusou-a, como se isso fosse pecado.
- Eu... claro... Eu nunca. Você sabia...
- Sabia, mas não me importei. Meu bom Jesus! Uma virgem de dezesseis anos! - Jogando a cabeça para trás, ficou olhando para as vigas do telhado. - Sou apenas um idiota, Cass. Um perfeito idiota. - Chutou novamente, dessa vez um balde vazio que saiu rolando, batendo ruidosamente nas paredes. Os cavalos relincharam nervosos. - Inferno, que erro!
- Erro? - rebateu ela, chocada, o brilho diminuindo e a humilhação lhe queimando o cérebro. Encontrou a camiseta e se cobriu com ela. Não precisava ter se incomodado com isso, pois ele não estava lhe dando a menor atenção. Ao contrário, fazia caretas, virado para a janela, franzindo veementemente a testa para a tempestade do lado de fora.
- Você sabia, Cass, eu não queria fazer isso.
- Você podia ter desistido.
- Quer dizer... Eu queria e não queria.
- Agora está claro - rebateu ela, magoada.
- Foi um erro.
- Você fica repetindo isso - disse ela, com raiva e pesar correndo por suas veias.
- É porque eu sei.
- Sabe o quê?
Seu sorriso parecia frio quando ele puxou a camisa que estava sobre o feno e enfiou os braços pelas mangas.
- Que tipo de confusão o sexo pode causar.
- Foi mais do que sexo.
- É exatamente sobre isso que estou falando. Não foi...
Cassidy largou as roupas e aproximou-se dele, completamente nua.
Colocando o dedo sobre seus lábios, disse:
- Não minta para mim, Brig. Não me importo com qualquer outra coisa que faça, mas não minta para mim.
- Não estou...
- Deixe de besteira! - Apontou o polegar na direção do próprio peito. - Eu estava ali, droga. Sei o que senti, o que você sentiu. - Mortificada, sua voz falhou.
- Não faz ideia alguma do que sentiu. Foi a sua primeira vez, mas não a minha.
- Que quer dizer? - Ela mal ousava respirar, tendo dúvidas se gostaria de ouvir sua resposta.
A voz dele foi rude. Enfática.
- Você terá outros orgasmos, mas não serei eu a lhe dar. Isso foi só sexo, Cass, nada mais. Acontecerá com mais uma dúzia de caras...
A reação dela foi instantânea. Recuou e deu-lhe um tapa. O estalo ricocheteou pela cocheira.
- Nunca!
- Para o diabo que não! - Brig passou a mão pelo rosto, e Cassidy viu a dor estampada em seus olhos, acreditando, com seu coração ingênuo, que ele estava tentando ser nobre.
- Brig, sinto muito. Eu não queria...
- É claro que queria. Exatamente como quis antes. Cresça, Cass - disse ele, dirigindo-se a passos largos para a porta. - Mas não conte comigo para ajudar você.
- É porque você ama a Angie, não é? - Ela se sentiu tão estúpida e jovem... tão ingênua.
Cada músculo no corpo de Brig se retesou, e sua coluna ficou repentinamente rígida. Quando se virou para encará-la, as linhas em seu rosto fizeram-no parecer dez anos mais velho.
- Não amo a Angie - afirmou, entre dentes apertados. - Não amo você. Não amo ninguém, é assim que eu gosto.
Cassidy sentiu-se como se tivesse sido ela a levar um tapa. Sentiu um nó na garganta e uma ardência nos olhos.
- Você vai superar - disse ele, embora suas palavras carecessem de convicção.
- Não vou.
- Claro que vai. E, um dia, quando for mais velha, irá se casar com alguém que tenha os mesmos sonhos que você... alguém que seus pais irão aprovar, alguém que irá merecer você.
- Brig...
- Eu não te amo, Cassidy. Portanto, não me inclua nas suas fantasias bobas. Não vai dar certo.
Ela o observou passar pela porta e para fora de sua vida. Uma parte sua, aquela que era a de uma menina tola, parecia murchar e morrer, à medida que a chuva se espalhava e fluía pelas calhas empoeiradas, e os cavalos batiam nervosamente com os cascos em suas baias. Cassidy sentiu as lágrimas arderem em seus olhos e juntou as roupas. O que esperara? Juras de amor eterno? De Brig McKenzie? Era uma sonhadora. Lembrou-se de que ele estava lá esperando Angie.
Ouviu o ronco do motor da Harley. Cascalhos voaram e as engrenagens zuniram, produzindo um ruído ensurdecedor, até ele passar a marcha e o barulho desaparecer na chuva.
- Já vai tarde - disse ela, embora não sentisse uma palavra do que dissera. Se Brig retornasse naquele exato minuto, Cassidy acabaria o beijando e fazendo amor com ele, mais uma vez.
Fazendo amor. Fora o que fizera. Ao contrário da irmã, seduzira Brig McKenzie. Tal pensamento fez seu estômago se encher de náuseas. Vestiu a calcinha e pensou em Angie. Onde estaria ela? Por que quisera se encontrar com Brig? Ao vestir as bermudas, encontrou a resposta. Angie planejara seduzi-lo de novo. Em vez disso, sua irmãzinha fizera as honras da casa.
Piscou com força, abotoou a blusa e chegou à conclusão de que não podia mais pensar naquele assunto. Amava Brig de todo o coração, mas ele nunca a amaria.
Mesmo assim, Derrick ainda estava por aí. Com uma arma na mão. Ela se sentiu congelar por dentro.
Calçou os sapatos, agarrou as rédeas de Remmington e, com o cavalo em seu rastro, saiu da cocheira. Seguiu-se um movimento na sombra próxima à porta, e ela quase gritou assim que o som do motor de um carro aproximou-se e as luzes dos faróis a alcançaram, vindo da direção da entrada de carros. Como uma corça flagrada sob o clarão de uma caminhonete, ela congelou. Um carro que não reconhecia parou abruptamente, e sua mãe, parcialmente tonta, desceu.
- Obrigada pela carona. - Dena abriu o guarda-chuva quando o carro partiu, deixando-a em pé, cara a cara com a filha, na chuva.
- O que você acha que está fazendo?
Cassidy precisou mentir.
- Só vendo se está tudo bem com o Remmington.
- Humm, só isso? - Dena estava ligeiramente bêbada. - Ele me parece bem e não é para você montá-lo. Principalmente à noite, na chuva.
- Eu sei, mas... - Estava preocupada. Precisava salvar Brig. Salvá-lo de Jed. De Derrick. De Angie. De si mesmo.
- Não discuta comigo. - Dena balançou o dedo na frente do nariz da filha. - Guarde esse animal e saia da chuva. - Tirou um pedaço de feno do cabelo de Cassidy e apertou os lábios, com alguma suspeita.
Cassidy não teve escolha a não ser fazer o que a mãe mandava. No entanto, seu coração parecia uma metralhadora quando elas se dirigiram à casa.
- Seu pai está em casa?
- Não... só o Derrick, mas ele já saiu. - Para atirar no Brig. Por favor, Deus, que ele esteja seguro.
- O Rex ainda não apareceu?
- Não. - Quem se importaria com seu pai numa hora dessas? Brig estava em perigo!
- Mentiroso filho da mãe! Sabe o que ele fez, não sabe? Fiquei plantada na festa dos Caldwell, disse que iria sair para fumar e saiu de carro. Nunca me senti tão ofendida em toda a minha vida. - Dena balançou o guarda-chuva na varanda, entrou no hall e quase tropeçou no primeiro degrau. - Bem, sei onde ele está e, pode acreditar, ele vai ver só, amanhã de manhã. Quanto a você - Dena virou-se para olhar por cima do ombro -, suba agora e vá para a cama. É muito tarde.
Certo. E, nesse exato momento, Derrick poderia estar caçando Brig, apontando a mira e...
Os olhos de Dena se semicerraram.
- Alguma coisa errada? - Abriu a bolsa e procurou as chaves.
Tudo! As palmas de Cassidy estavam úmidas de suor.
- Não...
- Então vá para a cama. - Dena deixou as chaves caírem e as pegou novamente. - Volto já.
- Mãe, você não pode sair agora, bebeu demais e...
- E você não discuta comigo. - Dena se empertigou e tentou parecer sóbria.
- Aonde você vai?
- Encontrar o seu pai.
- Por que simplesmente não espera por ele? - Se Dena subisse e caísse em profundo sono alcoólico, Cassidy poderia sair de fininho de casa e ir atrás de Brig.
De repente, o rosto da mãe ficou pálido.
- Porque estou cansada de esperar - disse, com um sorriso triste. - Há tempos espero que o seu pai aja corretamente comigo. Acho que está na hora de ele saber disso. - Jogando os ombros para trás, estendeu a mão para maçaneta da porta. As chaves dançaram em seus dedos. - Não espere por mim, querida. Não sei a que horas vou voltar.
- Mãe, não vá! Você não pode dirigir assim...
- Saia da minha frente, Cassidy. Vá correndo lá para cima e já para a cama. - Passou de lado pela filha quando ela tentou pegar as chaves. Em poucos segundos, já havia partido.
Cassidy não perdeu tempo. Sabia o que tinha de fazer. Não importavam as consequências.

Angie atravessou a porta aberta que dava para o antigo moinho e sorriu. Havia visto o carro dele, sabia que ele estava esperando. Então, talvez a noite não estivesse completamente perdida. Já que as coisas não haviam dado certo com Brig... havia sempre o plano B, embora, com certeza, não fosse tão consistente.
- Olááá... - chamou, passando pela porta, a voz ecoando de volta. Por Deus, aquele lugar era aterrorizante, com seu telhado quebrado e rangendo, teias de aranha e... e... aquela bagunça no chão, que parecia um monte de penas e excrementos de passarinhos que haviam feito seus ninhos nas vigas.
Devia ter levado uma lanterna. Ou algo parecido.
Sentiu a pele arrepiar-se mesmo enquanto suava; a temperatura naquele velho moinho devia estar bem acima dos 26 graus centígrados.
- Ei... sou eu. Você está aí? - perguntou e então o viu, encostado na parede dos fundos, uma figura escura numa sala empoeirada e com ares de caverna. Sentiu certo alívio antes de ele se aproximar.
BAM!!!
Uma explosão ecoou pelas tábuas antigas de madeira.
Gritando, Angie recuou rapidamente e caiu de cara no chão.
Crack! Sua nuca colidiu com as tábuas antiquíssimas do chão. Por um segundo, o mundo girou e ficou negro. Ela piscou com força, despertou. Não podia desmaiar. Não no meio daquele... daquele... Ah, meu Deus, o que era aquilo? Esforçou-se para se pôr de pé, quando sentiu cheiro de fumaça e virou-se, vendo chamas ferozes e famintas subindo pelas paredes, já bloqueando a porta principal e enegrecendo as vigas antigas e ressequidas.
- Não! - gritou, recuando com dificuldade, afastando-se da fumaça negra intoxicante e da parede de fogo. Perdera um sapato.
Não importava. Tinha de ir embora. Agora! Havia portas nos fundos da construção; tinha certeza disso.
Então se lembrou de que não estava sozinha. Ele poderia ajudar. Salvaria os dois. Choramingando, lágrimas de terror descendo por sua face, ela correu até o local onde o tinha visto e o encontrou caído, curvado, no chão.
- Vamos lá, temos que dar o fora daqui! - gritou, a voz trêmula, o pânico tomando conta dela com sua mão estranguladora. - Corra!
Ele continuou da forma que estava, sem levantar os olhos.
- Por favor... aaaaaaai... - choramingou novamente, mordendo os lábios. - Você tem que estar bem. Temos que dar o fora daqui. Não temos muito tempo. - Angie olhou por cima do ombro e viu o espetáculo terrível. Chamas cruéis e trepidantes devorando tudo à sua volta.
Apoiando-se sobre um joelho, com a fumaça girando à sua volta, esticou o braço até ele.
- Ei! - gritou, mas, ainda assim, ele não se moveu. Tocou-lhe o ombro, virou-o e deu para trás, gritando ao ver seu rosto, uma massa destroçada de sangue, como se ele tivesse apanhado repetidas vezes. Havia sangue empoçado no chão, e ela viu gotas na parede, onde a pancada o havia jogado. Olhos abertos e inertes pareciam encará-la.
Engasgando, tossindo, soube que teria de deixá-lo. Não tinha outra escolha a não ser se salvar. Salvar o bebê.
Seus pulmões ardiam quando correu para os cômodos dos fundos, onde a fumaça, sem saída, se acumulava. Arrancou um pedaço do vestido e manteve-o sobre o nariz e a boca, lembrou-se de orações que julgava ter esquecido havia tempos, enquanto se movia no escuro, tropeçando nos postes, os olhos ardendo, cega pela fumaça.
Tinha de haver outra saída. Tinha! Ai, Deus, por que havia concordado em se encontrar com ele ali? Por quê? Que tolice!
Pense, Angie, pense... você não tem tempo.
Apavorada, correu até o quarto dos fundos, tentando ignorar o calor que irradiava, como se proveniente de um forno.
Tossindo, engasgando, tropeçando, ela foi adentrando o prédio, passando pelos cômodos menores que uma vez haviam servido de escritórios... Onde estavam as janelas?
Não via janela alguma e estava ofegante, aterrorizada além do imaginável. Com certeza iria escapar. Precisava escapar. Por ela mesma. Pelo bebê.
Percebeu um novo odor... de pele queimada... e vomitou ao ver de relance o corpo encurvado do homem no chão. Meu Jesus, as chamas o haviam atingido. Ele estava sendo cremado naquele inferno vivo.
Onde estava a droga da porta?!
Então a viu. Por entre a fumaça... algo diferente na parede. Graças a Deus! Atirou-se sobre os painéis antigos, encontrou a maçaneta. Seus dedos queimaram quando virou a maçaneta de metal e a puxou com toda a força.
Nada aconteceu.
Tentou novamente, usou todo o seu peso para puxar a droga da porta.
Ela não cedeu.
Ah, não!
- Socorro! - gritou, tossindo, batendo à porta, ouvindo os primeiros sons do alarme de incêndio. - Socorro! Aqui! - Sua voz era um nada em contraste com o trepidar das chamas, uma lamúria fraca e rouca.
Estava tossindo agora, uma tosse seca e repetitiva, e lutando por ar. Não podia estar morrendo. Não agora. Era tão jovem! Chorando, gritando, batendo à porta, rezou para que alguém pudesse ouvi-la... para que alguém pudesse salvá-la.
Seus joelhos fraquejaram.
Não tinha mais ar.
O calor era tão intenso que era preciso lutar para não desmaiar... levantou o punho. Bateu de novo e viu chamas lambendo o chão, rodeando-a aos poucos, cercando o pequeno local onde se encontrava.
- Não! - gritou, apertando o ventre, ao tentar puxar o ar seco uma última vez e perceber, com uma certeza aterrorizante, que iria morrer.

O último gritoOnde histórias criam vida. Descubra agora