Derrick abriu com o ombro as portas de vidro da recepção das empresas Buchanan. Ali estava. Seu império. Crescera preparando-se para ser herdeiro, ouvindo que, um dia, seria dono de tudo aquilo. Nada importava que Rex Buchanan tivesse duas filhas... seu filho se tornaria o próximo czar.
Só não contava com Chase McKenzie fazendo uso de sua influência e conquistando posição de poder. Não só isso, mas também o velho Buchanan respeitava aquele branco mestiço e seu diploma em direito conseguido a duras penas. Derrick jamais planejara ter de lidar com um cunhado que tivesse aspirações próprias. Bem, talvez fosse sortudo. Tinha apenas um cunhado puxa-saco e alpinista social com que lidar. Caso Angie tivesse sobrevivido, talvez fosse obrigado a lidar com outro também.
Angie.
Sentia uma dor aguda na alma quando pensava nela, o que, graças a Deus, fazia cada vez menos ao longo dos anos. Não dava para ficar no passado. Em vez disso, concentrava-se no presente e em seu direito de nascença: as indústrias Buchanan.
Aquele prédio da matriz era único e, embora não fosse tão grandioso quanto um arranha-céu de uma cidade grande, atendia bem ao seu propósito. Construído no fim dos anos 1960 em concreto e ferro, o prédio não era grande coisa para quem o via pelo lado de fora, quatro andares de paredes de vidro que refletiam o sol do fim de tarde de verão, mas, por dentro, fosse impressionante: mobília de couro arrumada em torno de mesas de tampo de mármore; árvores em vasos, que chegavam à altura de dois andares, numa sala de pé-direito alto, recompensada pela luz do sol que era filtrada por uma clarabóia no alto do teto; maçanetas de cobre e chão de lajotas polidas.
Ignorando as placas de "proibido fumar", acendeu um cigarro ao pegar o elevador até o quarto piso, onde ficavam os escritórios. As salas do pai ocupavam um canto; as de Derrick, outro. Derrick recebera as mesmas instalações que o pai quando fora nomeado vice-presidente. Seu aglomerado de salas era uma imagem espelhada das de Rex Buchanan, com uma recepção idêntica, escritório privativo, banheiro executivo, vestiário e quarto à sua disposição. Entre os dois aglomerados, ficavam a sala de reuniões de um lado da sequência de elevadores e, de outro, a sala de Chase. Chase era o único funcionário cujo escritório ficava no andar executivo, e o fato de estar ali incomodava muito Derrick. Como uma pedra no sapato, a presença de Chase irritava-o continuamente.
Uma lástima que não tenha morrido no incêndio.
Batendo o cigarro na areia de um cinzeiro, Derrick já havia praticamente passado da porta de Chase quando ouviu seu nome.
- Derrick. - Aquela mesma voz arrastada e estridente que ele passara a odiar nas últimas semanas. - Eu tinha esperança de que viesse hoje.
A voz de Chase tinha aquele mesmo tom de zombaria, o qual Derrick desprezava. Mas também desprezava praticamente tudo o que dizia respeito aos McKenzie. Idiotas de baixo nível, isso é o que eles eram, e Willie ou Buddy, seja lá qual fosse a porra de seu nome, não era diferente. Mas, agora, eles tinham o mesmo sangue. Derrick sentia o estômago revirar quando pensava que era irmão de um retardado.
Amaldiçoando silenciosamente o filho da puta que era seu cunhado, entrou nos domínios de Chase. Mesa imensa, pilhas arrumadas, diplomas de direito reunidos em uma parede e livros com capas de couro que enchiam uma estante do chão ao teto, em outra parede. Uma janela com vista para a rua e vasos de plantas com folhas largas viradas para o sol. Em um canto da mesa, ficava um retrato colorido de Cassidy - não uma daquelas fotos glamorosas como as que Felicity lhe dera no último Natal; apenas uma pose natural, montada a cavalo.
- Está querendo alguma coisa? - perguntou Derrick, dando uma olhada para o canto da sala, onde a muleta de Chase estava escondida.
- Só conversar um pouco.
Sinos de alerta soaram em sua mente. Chase estava com uma aparência horrorosa. Seis semanas haviam se passado desde o incêndio, mas ele ainda não estava normal. Seu rosto não parecia mais tão inchado, mas, com certeza, parecia pálido no lugar onde os arames haviam sido colocados. Seus olhos, no entanto, estavam límpidos, azuis e sarcásticos. Chase sempre fora arrogante o suficiente para olhar para ele por cima do nariz. Derrick não entendia. Ele era o rico ali, o que havia nascido para ter privilégios. Chase era apenas um caipira que tinha uma bruxa doida e mestiça como mãe e um pai que dera no pé. Que direito, que porra de direito tinha ele de não reconhecer que Derrick era e sempre seria seu superior?
Chase dirigiu-se ao sofá que ficava no canto e olhou para Derrick com o mesmo olhar que o fazia querer ir embora.
- Sente-se.
Derrick sentou-se lentamente em uma das almofadas bem recheadas. Não gostava do que estava sentindo; Chase estava escondendo alguma coisa dele. Exatamente como sempre fizera. Caramba, o homem que quase virara carvão estava, agora, olhando para ele com uma aparência de ontem, ao mesmo tempo que girava uma caneta nos dedos da mão sã. Apesar dos ferimentos, tinha a senhora audácia de insinuar alguma coisa - o que era, isso Derrick ainda não sabia.
- Eu só estava dando uma olhada nos livros. Demorei um pouco para colocá-los de novo no que, com o incêndio e todos os outros problemas, eram os CDs de backup - disse-lhe Chase.
- E? - perguntou Derrick, aguardando que a bomba estourasse.
- Parece que estamos meio no vermelho. Você andou fazendo alguns saques pessoais na casa dos... deixe-me ver aqui... O quê? Quarenta e cinco, talvez cinquenta mil dólares? E isso só nos últimos meses.
Derrick começou a suar.
- Você sabe que Felicity está reformando a casa. O que são alguns milhares de dólares? - Os nervos de Derrick estavam à flor da pele, os músculos se retesando quando cruzou uma perna sobre a outra, apoiando o tornozelo no joelho.
- Tudo bem. Uma reforma interminável. Ela falou algumas vezes sobre isso quando veio trabalhar. - Chase estava jogando com ele agora, um joguinho rotineiro de gato e rato. O sorriso naquele rosto sem cor era horrendo. Causava arrepios a Derrick. - Sabe como é... se o dinheiro não estiver na sua conta, ou se não saiu para pagar a empreiteira, algumas pessoas podem começar a imaginar coisas...
- Imaginar o quê? - perguntou Derrick, embora soubesse aonde aquela conversa iria levar. - Felicity checa tudo. Sabe que ela faz isso. Trabalha na contabilidade...
Chase ergueu a mão, como se repelindo outras desculpas esfarrapadas.
- Felicity é sua esposa. E não vem trabalhar todos os dias. Só quando lhe dá na telha.
- É filha de um dos juízes mais respeitáveis da droga deste estado.
- E minha mãe lê cartas. Grande coisa! O que o velho Ira Caldwell faz... se está sentado na bancada ou jogando golfe com os coleguinhas, isso não quer dizer nada quando o assunto é pagar propina.
- Propina? - Derrick não estava acompanhando o raciocínio, mas podia deduzir, pela raiva silenciosa no olhar de Chase, que era algo ruim.
Chase inclinou-se para a frente.
- A propina do idiota que fez isso.
- Isso o quê?
- Ateou fogo para você.
- Está ficando maluco? Por que eu iria atear fogo na serraria? - quis saber Derrick, ficando em pânico. Que diabo Chase tinha na cabeça?
- Posso pensar em um monte de razões. Vamos começar pelo prêmio do seguro, já que este é um dos assuntos preferidos do departamento do condado. Você acabaria com três milhões de dólares na conta se a serraria pegasse fogo, não é?
- A serraria vale muito mais funcionando!
- Sim, mas isso talvez não dure para sempre, com todas as restrições impostas pela lei federal e o desmatamento das florestas Buchanan. E, droga, nós poderíamos vender a madeira Buchanan para outras empresas e deixar que eles ficassem com o risco.
- Assim como com o lucro - vociferou Derrick.
- É a velha teoria de "um pássaro na mão..." - disse Chase, os lábios mal se movendo.
- De jeito nenhum.
- Bem, e quanto à vingança?
- Contra a minha própria serraria? Porra, você pirou!
- Contra mim. - Os olhos de Chase estavam tão frios quanto o Mar do Norte.
- Você nunca escondeu o fato de que odiava minha família, Brig e a mim, de que não gostava do meu casamento com sua irmã, de que não morria de amores pela ideia de me ver trabalhando com o seu pai, e agora que tenho um pouco de poder seria muito mais simples para você se eu saísse de cena.
Derrick recostou-se na altura da cintura e enfiou a mão no bolso do paletó em busca de um maço de Marlboro.
- Porra, Chase, se eu quisesse te matar... principalmente se quisesse contratar alguém para fazer isso, eu não me daria ao trabalho de mandar incendiar a serraria. Te levaria lá para fora... ninguém ficaria sabendo, e eu ainda teria a droga da serraria.
- Mas nenhum dinheiro em caixa.
- Você é um porra-louca mesmo. Vai ver isso é coisa de família. Sua mãe... ainda está desaparecida? - Derrick clicou o isqueiro na ponta do cigarro e tragou fundo, puxando calmamente a fumaça para dentro dos pulmões. Aonde Chase estava querendo chegar com toda aquela conversa? Estava surpreso com a abordagem cara a cara. Normalmente, era dissimulado, do tipo que agia quando você virava as costas, e um verdadeiro puxa-saco na frente.
- Minha mãe não tem nada a ver conosco.
- Não? Bem, ela ficou anos e anos dando para o meu velho. Acabamos tendo um retardado como irmão, e você acabou casando com a única irmã que me sobrou. Isso tem a ver com nós dois, sim. Só espero que a polícia a encontre e prenda logo.
- Eu não contaria com isso - disse Chase, os olhos brilhando como se guardasse a droga de um segredo. - Será encontrada quando ela quiser.
A forma como o encarava fez Derrick se arrepiar. Às vezes, perguntava-se se Chase tinha herdado os poderes extrassensoriais da mãe, ou seja lá o que fossem. Merda, vai ver Willie tinha isso também. Derrick lembrou-se de todas as vezes que fora cruel com o retardado mental e chegou à conclusão de que ele, se fosse ao menos vidente, ou teria saído de seu caminho ou lhe rogado uma praga. Ainda assim, era doente. Toda aquela droga de família incestuosa o fizera doente. E ele era parte dela. Estava no meio dela.
- Acho que você deveria devolver o dinheiro - disse-lhe Chase. - Caso contrário, a polícia pode suspeitar.
- Eles sabem o que fiz com o dinheiro.
- Sabem? Sabem também que você estava na serraria naquela noite?
- Eu? Cara, você está mesmo indo longe demais. Tenho um álibi!
- Sua esposa, eu sei. - Chase largou a caneta e bateu com a mão saudável na machucada. - Mas eu te vi na serraria. Exatamente meia hora antes de tudo explodir.
- Eu não estava lá - disse Derrick, na esperança de parecer convincente, ao mesmo tempo que o suor lhe escorria pelas costas. Fora cauteloso; ninguém o tinha visto, e isso bem antes da explosão.
- Com certeza estava. A única razão de eu não ter contado para o seu amigo T. John Wilson foi por querer reunir provas contra você, olhar para você cara a cara primeiro e dizer que, quando a polícia vier bater à porta, fui eu que a mandei vir.
Os pulmões de Derrick pareceram congelar. Mesmo ao dar uma tragada no cigarro, não sentiu nenhum calor vindo da fumaça, nenhuma sensação de tranquilidade decorrente da nicotina.
- Você está me enganando - disse.
- Você está se enganando.
- De jeito nenhum. Negarei. Meu álibi é forte.
- É? - Chase levantou uma sobrancelha escura. - Sua mulher sairia em sua defesa a despeito de qualquer coisa? Mentiria por você? Por quê? Porque você a trata muito bem?
Derrick ficou com a boca repentinamente seca. Não conseguia produzir uma gota de saliva. Chase iria ferrá-lo. Pra valer. De alguma forma, o idiota daria um jeito de fazer parecer que ele estava por trás do incêndio! Já não bastava tê-lo visto passando os olhos pelos livros, iria fazer dele também o responsável pelo incêndio?
- Não te deixarei me pegar com essa, McKenzie - disse ele, recorrendo à bravata que o fizera se livrar de mais brigas do que ele podia contar. Use as palavras certas, e a maioria dos homens dará para trás, mas Chase não era como a maioria dos homens. - Venha foder com a minha vida que eu darei um jeito de quebrar o teu pescoço.
- Você não me mete medo.
- Não? Pois pense bem. - Derrick enfiou o cigarro na terra de um vaso de planta. - Talvez não se importe mais consigo mesmo, talvez não dê mais a mínima para qualquer coisa, mas Cassidy dá, e sua mãe também, e, da forma como vejo, elas são alvo fácil para, digamos... outro ataque.
Chase, apesar dos ferimentos, saltou de trás da mesa no mesmo instante. O vaso virou, o retrato de Cassidy caiu no tapete, lápis e canetas se espalharam. Ele pareceu não perceber. Empurrou Derrick contra a parede.
- Pense nisso - advertiu-o, devolvendo as palavras de Derrick e apertando o braço com força contra seu pescoço. - Pense bem. - Seu corpo rijo e forte fazendo pressão contra o do cunhado, que mal podia respirar. - Tente fazer alguma coisa, Buchanan, e irá se arrepender pelo resto da vida. - O hálito de Chase estava quente ao soprar no rosto de Derrick, os olhos fervendo como fogo ardente. - Juro que, para cada dor que pensar em infligir, eu te pagarei com cem vezes mais. Isso é entre você e eu. Mais ninguém.
- Não force a barra, cara. - Derrick lembrou-se de que Chase ainda era um aleijado, ainda estava mancando com uma muleta e tendo consultas com um fisioterapeuta. Então por que sentia medo? - um medo frio, persistente e profundo no peito? Sentiu o sangue gelando. Com toda a sua força, tirou Chase de seu caminho, chutando sua perna machucada.
Seu rosto empalideceu assim que uma fisgada repentina de dor irradiou por seu corpo. Bom.
- Nunca mais me ameace, McKenzie. Você é um merda e é bom se lembrar disso. Sei que a sua mãe é uma puta mestiça, e o seu pai, um fracote covarde que abandonou a família. Você tem trabalhado duro, sorrido bastante e puxado mais sacos do que sou capaz de contar para chegar aonde quer, mas, ainda assim, é um pobretão, um branco de merda, um filho da puta usando uma jaqueta de couro que custa mais do que a sua mãe conseguiu ganhar durante todos os anos em que abriu as pernas para o meu velho.
Chase investiu, colocando os dedos no pescoço do cunhado. Derrick chutou-lhe a perna sã para fora do caminho. Chase caiu contra a parede, e o outro o empurrou facilmente para o lado, deixando-o se contorcendo.
- Patético, McKenzie. É isso o que você é e sempre será. Patético. - Para marcar bem o que dizia, cuspiu, e a gosma de cuspe atingiu em cheio a testa de Chase.***
Cassidy trabalhou a maior parte da tarde. Sua rotina com Chase se tornara familiar nas últimas duas semanas. Enquanto ele ia às sessões de fisioterapia, às consultas médicas ou ao escritório, ela trabalhava no Times. Desde a discussão que tiveram na sala de TV, haviam chegado a uma paz relativa, o passado ainda pairando entre eles, o futuro, nebuloso e indistinto.
Não havia palavras carinhosas. Pequenas demonstrações de afeto. Brincadeiras tranquilas. Mas nada disso acontecia havia muito, muito tempo. Não por causa do incêndio, mas porque eles se haviam afastado, seguido caminhos diferentes, buscado rumos diferentes. Agora, em nome das aparências, estavam juntos.
Em casa, eram civilizados, haviam aprendido a confiar um no outro novamente, embora sempre houvesse tendência à tensão. Elas não eram verbalizadas, mas ficavam murmurando sob a superfície, acusações prontas para explodir. Cassidy o pegava olhando quando ele achava que ela não percebia e sentia que a seguia com o olhar. Ele a observava, mexia em sua mesa quando ela não estava em casa. Tinha certeza de que ele fazia isso. Jamais confiaria nela.
No entanto, as noites eram piores. Saber que ele estava logo ali embaixo, no corredor, e certamente tão inquieto quanto ela. Desejando. Sofrendo. Lembrando. Fingindo. Para a família dela. Para o mundo. Para um e outro.
- Estou tão feliz que esteja tentando fazer as coisas darem certo! - exclamara Dena, numa manhã em que passara por lá. - Casamento nunca é uma coisa fácil.
- É, acho que não.
- As coisas também não têm sido as mesmas para nós - admitiu ela. - Desde que Rex falou para aquele tal de Willie que era o pai dele. Você está sabendo, claro, que ele lhe deu um quarto lá em cima. O antigo quarto de Derrick. Tenho de admitir que me sinto arrepiada quando estou sozinha em casa com ele.
- Willie é inofensivo.
- É? Não sei. Lembro-me de quando vocês eram meninas e ele ficava sempre às voltas, espionando, escondendo-se no meio dos arbustos, observando. Só Deus sabe o que ficava fazendo, mas eu o peguei diversas vezes nos arbustos de cicuta e nos rododendros, atrás da piscina, olhando para o quarto de Angie... certamente tentando espiá-la de calcinha e sutiã. - Dena tremeu e pegou a cigarreira dourada em busca de um cigarro. - E pensar que eram meio-irmãos... bem, isso vai além da minha compreensão. Nada decente... - Dena pegou um cigarro. - Parece que todo mundo se esqueceu de que Willie estava presente nos dois incêndios. Sabe de uma coisa? - Acendeu o cigarro e soprou a fumaça para o teto. - Faz todo o sentido. Ele viu o primeiro incêndio. Queimou as sobrancelhas, lembra? Quanto ao segundo, bem, é de conhecimento de todos que Willie encontrou a carteira de Marshall Baldwin lá. A polícia não viu, e ele a encontrou? Não acredito. Parece que ele estava lá antes de os guardas chegarem.
- Está achando que ele provocou os incêndios? Willie? Ele é tão... tão bom e gentil. Mãe, está falando sério? - Cassidy parecia incrédula.
- Muito sério. E não sou a única. Muita gente nesta cidade acha que ele é capaz disso. Um verdadeiro incendiário. Pense bem, querida, o homem tem um cérebro de nada. Ele... bem, não é muito certo da cabeça. É uma pena, sou a primeira a admitir isso. Aquele afogamento foi uma tragédia. Não sou vingativa a ponto de achar que foi Deus tentando dar uma lição em Sunny, mas... bem, parece mais do que coincidência ele ter estado nos dois incêndios, não acha? Acho que seu pai estaria fazendo um favor à família e a toda a cidade enviando Willie para uma instituição, onde ele ficaria com pessoas como ele, do jeito dele. Ele não se sentiria tamanha aberração.
- Ele não é uma aberração, mãe. É...
- Assustador. - Dena brincou com o colar de pérolas no pescoço. - Pense só. Viver na mesma casa que ele! Detesto dizer isso, mas já passou da hora de eu bater o pé. A casa é minha também, e, da forma como vejo, ou ele vai embora ou eu vou.
- Mãe...
O cigarro de Dena tremeu na boca. Cinzas caíram no chão, e ela se inclinou rapidamente para espaná-las.
- Eu... eu não sei mais o que fazer - admitiu, e, quando se pôs novamente de pé, lágrimas brilhavam em seus olhos. - Seu pai tem se mostrado tão insensato ultimamente...
- Calma. Não é tão ruim assim...
- É sim, Cassidy - disse por fim, a voz falhando, batendo com os dedos no canto dos olhos para conter as lágrimas sem manchar a base facial. - Ser casada com Rex Buchanan é o inferno na Terra. Pela primeira vez, estou começando a entender por que Lucretia deu fim à própria vida.
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O último grito
RomanceProsperity, Oregon, 1977. Um incêndio criminoso no moinho da abastada família Buchanan faz Cassidy, filha caçula de Rex Buchanan, dono da propriedade e de metade da cidade, ver sua adolescência e seu amor serem levados pelo fogo. A autoria do incênd...