CAPÍTULO 3

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- Está certo - disse Angie num sussurro que flutuou no ar quente do verão. - Vou ver se todos esses boatos sobre Brig McKenzie são verdadeiros.
As palavras ecoaram baixo pelo jardim, e Cassidy, escondida pelo arco enfeitado de roseiras enquanto carregava a toalha e o rádio, quase tropeçou no caminho. Controlando-se, fez uma pausa antes que a irmã e a amiga pudessem vê-la. Que boatos? Parecia que todos os dias havia um boato novo com relação aos irmãos McKenzie.
A risada de Felicity foi cruel.
- É melhor que sejam, porque se o seu pai descobrir que você está afim de seduzir um dos empregados dele...
- Ei, espere um momento. Você entendeu tudo errado - interrompeu Angie. - Ele é que vai me seduzir. Só não percebeu ainda.
- Bem, o que mais se pode esperar? Certamente ele é todo músculos e nenhum cérebro.
Cassidy não podia acreditar no que ouvia. O que Angie estava pensando? Estava mesmo planejando fazer isso? Com Brig? A ideia a deixou enojada, não porque Brig fosse um empregado, mas porque a vida dele estava sendo planejada - manipulada - e ele nem desconfiava. Talvez isso não tivesse importância. Era antipático mesmo, mas a ideia de Brig e Angie se beijando, se tocando e ficando suados fez seu estômago embrulhar.
- Quando? - perguntou Felicity, aproximando-se.
- Breve.
O sorriso de Felicity alargou-se, felino. Ela quase ronronou.
- Ele nunca vai saber o que se abateu sobre ele.
Cassidy já havia ouvido o suficiente. Tossindo alto, passou pelo arco, os pés descalços, de repente parecendo esmagar as pedras do caminho.
A conversa parou. Angie e Felicity trocaram sorrisos maliciosos.
- O que você está fazendo andando escondida por aqui? - perguntou Angie ao pegar o chá gelado e fazer careta para os cubos de gelo que estavam derretendo.
- É o que está parecendo? Só pensei em nadar um pouco.
- Você não acha que deveria tomar uma chuveirada antes? - Angie torceu levemente o nariz ao perceber a poeira acumulada na pele da irmã mais nova.
- Estou bem assim. - Cassidy não iria se meter numa discussão com a irmã. Pelo menos não agora, quando seus ouvidos estavam ressoando com o que acabara de ouvir.
Felicity correu os olhos pelo corpo de Cassidy - as bermudas jeans com a bainha desfiada, as marcas em suas pernas, a blusa vermelha aberta, revelando o sutiã de seu biquíni. Cassidy quase ruborizou. Sabia que não era tão bem-dotada quanto as duas; na verdade, esperara que seus seios tivessem crescido nos últimos anos. Parecia que eles mal haviam começado a se desenvolver e então pararam completamente.
- Cuidado - aconselhou Felicity. - O bom e velho Willie está escondido por aí tentando dar uma espiadinha de graça.
- Eu falei que ele é inofensivo. - Angie balançou o chá.
Revirando os olhos, Felicity disse:
- Ele é um homem adulto com o cérebro de um menino de dez anos. Praticamente inofensivo.
Cassidy não estava preocupada com Willie. Tirou a blusa e as bermudas, puxou os cabelos para trás, prendeu-os num rabo de cavalo e entrou rapidamente na água. Nunca gostara de Felicity Caldwell e não sabia o que Angie via naquela ruiva. Felicity não era tão bonita quanto Angie, mas era a filha do juiz Caldwell, um bom amigo de seu pai. Rex e o juiz - seu nome verdadeiro era Ira, mas todos o chamavam de O Juiz - jogavam golfe, caçavam e bebiam juntos. Conheciam-se desde sempre, e Felicity e Angie haviam crescido juntas. Além disso, desde que Cassidy podia se lembrar, Felicity tivera os olhos e o coração voltados para Derrick.
Cassidy subiu à superfície, sacudiu a água dos cabelos e começou a nadar de uma borda a outra da piscina. Felicity e Angie foram embora. Bem, melhor assim, Cassidy não queria mais pensar em Brig e em Angie, e no que eles fariam juntos caso ela levasse as coisas do seu jeito. E o que os deteria? Nada. As histórias sobre Brig McKenzie eram lendas; até mesmo ela ouvira algumas. Se toda a fofoca da cidade pudesse ser levada em consideração, ele havia aquecido mais camas do que todos os cobertores elétricos de Prosperity. Cassidy não sabia se acreditava nos boatos, mas não podia negar que ela mesma, por sua vez, havia percebido que ele era sexy de forma bem barulhenta, do tipo não dou a mínima para nada. Algumas pessoas chegavam a considerá-lo perigoso, e seu passado era negro o bastante para isso provar ser verdade. Algumas mulheres pareciam gostar de flertar com o perigo - como mergulhar o dedo do pé num lago profundo e fantasmagórico sem, de fato, saltar para dentro dele. Enquanto algumas mulheres entediadas pareciam excitadas com o dinheiro, outras gostavam de desafios - pessoas que a fizessem se sentir meio perversas. Cassidy suspeitava que Brig McKenzie era um homem que faria qualquer mulher se sentir totalmente indecente.
Sentiu um arrepio na pele que nada tinha a ver com a temperatura e, furiosa consigo mesma, nadou com todo o vigor, cortando a água, nadando cada extensão da piscina como se fosse a última numa competição de natação até que, engasgando à procura de ar, tocou a borda da piscina no lado mais fundo, dando impulso para cima, ficando com metade do corpo dentro e metade fora da água.
Foi quando o viu.
Sentado na borda de uma jardineira de tijolos entre uma profusão de petúnias vermelhas e brancas que pareciam fora de lugar e que faziam contraste com sua pele empoeirada, bronzeada e com seus músculos masculinos e bem-trabalhados. Brig a observava com atenção. Tinha as roupas manchadas por causa das horas de trabalho - jeans empoeirados e camisa lisa, com as mangas arregaçadas e os botões abertos.
Ela sentiu vontade de morrer. De se esconder. De evitar aqueles olhos azuis debochados.
- Acho que você está querendo saber como as coisas estão indo com o seu cavalo - disse ele, com a voz arrastada.
A boca de Cassidy secou. Com o coração batendo de forma tola, ela saiu da piscina com toda a dignidade que lhe foi possível e ficou pingando na frente dele.
- Deixe eu me secar antes.
Com um encolher de ombros demonstrando indiferença, Brig a observou enquanto se dirigia para o lado oposto da piscina, onde ela se enxugou, passou os braços pelas mangas da blusa, amarrou as pontas da camisa sob os seios pequenos e vestiu rapidamente as bermudas empoeiradas. Ele não pôde deixar de sorrir do ângulo formado pelo queixo dela, todo orgulhoso e combativo, como se ele fosse o inimigo. Imaginou o que ela teria ouvido falar dele, concluiu que não dava a mínima importância e esperou até que se virasse. Que pernas ela tinha, ao contrário da irmã, que era mais baixa, mais arrendondada e parecia tão vaidosa quanto um pavão por causa das curvas que não tinham fim.
- O cavalo está treinado, certo? - perguntou ela, aproximando-se novamente, a face enrubescida em virtude do esforço físico do nado. As sardas que normalmente cobriam seu nariz pareciam ter diminuído um pouco, e seus olhos grandes, da cor dourada do uísque, piscaram em reação às gotas de água ainda acumuladas em seus cílios.
- Não exatamente. Você tem um bicho selvagem aqui.
- Já faz uma semana...
- Cinco dias - corrigiu Brig. - Vai demorar mais alguns pelo menos.
- Por quê? Não sabe como domá-lo?
Ela observou um sorriso lento e insultuoso passar de um lado a outro de seu maxilar com barba por fazer.
- Algumas coisas tomam tempo - disse ele, com o olhar penetrante. - Não podem ser corridas se quiser que saiam bem-feitas.
Seu estômago se contorceu e, em sua imaginação, ela o viu fazendo amor com Angie tão lentamente que a irmã se contorcia desesperada de desejo por ele. Cassidy engoliu em seco e pigarreou.
- Para mim, se você souber o que está fazendo...
- Eu sei.
- Então poderia agilizar as coisas.
- Por que a pressa? - perguntou ele, recostando-se um pouco e olhando-a com os olhos apertados.
Ela não sabia o que dizer.
- O verão está... o verão está quase acabando. Quero passar o tempo que puder... - Estava parecendo uma tola, uma garota rica e mimada ansiosa para ter as coisas do seu jeito. - Eu estava planejando cavalgar bastante, só isso.
- Seu pai tem outros cavalos. Um monte deles.
- Este é especial - afirmou ela.
- Por quê?
Mais uma vez ela se sentiu estúpida e jovem, mas não adiantava mentir para ele. Suspeitava que Brig conseguiria descobrir caso se afastasse muito da verdade.
- O papai sabe que sou louca por cavalos e quis me dar um... um cavalo especial; então me deixou escolher a égua e o garanhão... foi um presente de aniversário.
Brig bufou e balançou a cabeça, como se não conseguisse, por causa de sua história de vida, entender os ricos.
- Peguei a égua mais esperta e o garanhão mais selvagem.
- Bem, caramba, isso explica, então. - Lançando-lhe um olhar debochado, Brig levou a mão ao bolso à procura do maço de cigarros. - E não venha me dizer que o seu velho deixou você assistir enquanto os cavalos mandavam ver.
- Não foi nada de mais - mentiu, lembrando-se daquela cópula feroz, da forma como o garanhão, ansioso e explosivo por estar com a égua no cio, ficou violento na estrebaria ao sentir seu odor e, em seguida, morder seu pescoço, assim que a montou. Sexo primitivo, rude, selvagem. Cassidy pigarreou. - Criamos cavalos aqui. Isso acontece o tempo todo.
- E você assiste? - Ele acendeu o cigarro, e a fumaça subiu em espiral da ponta em brasa.
- Às vezes.
- Jesus! - Dando uma longa tragada, ele se pôs de pé e tomou o caminho de cascalho que passava pelas árvores e fazia a volta na casa. Por cima do ombro, disse: - Fique longe do Remmington por mais uma ou duas semanas; depois disso, ele deverá estar pronto.
- Não quero que o espírito dele seja domado.
- O quê? - Brig virou-se e soprou uma nuvem de fumaça pelo canto da boca.
- Não o transforme num pônei de carrossel, está bem? Escolhi a mãe e o pai dele com um propósito e consegui o que queria. Portanto, não ferre com tudo. Quero mais do que um cavalo bonitinho.
Ela o ouviu praguejar baixinho, antes de desaparecer, virando a esquina da casa.

O último gritoOnde histórias criam vida. Descubra agora