CAPÍTULO 30

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Não! Não! Não!
Cassidy não acreditou que Brig estivesse morto. Embora ela tivesse passado anos dizendo a si mesma que ele havia deixado este mundo, no fundo de seu coração sempre acreditara que estivesse vivo em algum lugar e que, um dia, voltaria a vê-lo. Depois, quando ouviu falar do desconhecido, quando soube que ele segurava uma medalha de São Cristóvão, deixara a imaginação correr solta e se convencera de que se tratava mesmo de Brig.
- Ai, meu Deus - sussurrou, lágrimas lhe ameaçando os olhos. - Ele não pode estar morto. Não pode estar morto!
- Ei, está se sentindo bem? - Ele parecia distante, a voz abafada. - Não vai desmaiar aqui, vai?
- Não. - A própria voz estava fora de entonação. Passou a mão na testa e se apoiou na parede. Sombras escuras ameaçavam sua visão.
- Posso chamar uma enfermeira.
- Estou bem - rebateu, ainda chocada.
Wilson a analisou.
- Vai me contar o que sabe sobre ele?
- Sobre o homem no CTI? - Negou com a cabeça. - Nada.
- Ainda assim, quando eu disse que ele morreu, você ficou como quem vê fantasmas. O que foi?
- É... eu apenas tinha esperança de que ele sobrevivesse. E então pudesse conversar comigo, explicar o que aconteceu - disse ela, a mente como se fosse um caleidoscópio de imagens de Brig. Tantos anos haviam se passado, e ela ainda se lembrava com muita clareza dele, tanto quanto se estivessem estado juntos no dia anterior.
- Acho que devíamos contar ao seu marido.
Ai, meu Deus!
- Ele não está falando com a gente, você sabe. Nem uma palavra, mas sei que está ouvindo. Talvez a notícia lhe solte a língua.
- Está com a mãe agora... - Por impulso, tocou-lhe o braço. - Não diga nada até conversar com o médico, por favor. Não quero que o Chase piore.
- Não é com ele que estou preocupado. Mas com você.
- Ficarei bem - mentiu ela, piscando para lutar contra as lágrimas. - Foi um choque muito grande... se vocês me derem licença.
T. John ficou observando Cassidy se controlar. Era impressionante a rapidez com que conseguia se transformar. Há um segundo, tinha certeza de que ela despencaria, mas deu um jeito de jogar os ombros para trás, expulsar os vestígios de lágrimas e oferecer um sorriso tristonho, antes de desaparecer no elevador.
- Ela está escondendo alguma coisa - disse a Gonzales. Levando a mão ao bolso, encontrou o primeiro maço de Camel que havia comprado em meses.
- E daí?
- Posso estar errado, mas ela sabe quem é o cara.
- E você não.
- Não tenho como provar. Não até a gente ter notícias do Alasca. - Frustrado, T. John abriu o celofane do maço e chegou a tirar um cigarro. Mas não o acendeu, ficou rodando-o entre os dedos enquanto olhava para as portas do elevador. Enfermeiras, médicos, visitantes passaram por ele. Mas T. John não prestou atenção; sua mente estava voltada para Cassidy Buchanan McKenzie e para os segredos que ela guardava com tanta desconfiança.
Ele descobriria quais eram eles. Ah, demoraria um pouco e daria muito trabalho. Mas, com a mesma certeza de que Elvis estava morto e enterrado, T. John os descobriria.
- Chame o médico de Chase McKenzie, Rick, é... Richard Okano. Acho que é esse o nome... veja quando ele poderá vir falar com o paciente dele.
Levou o cigarro ao nariz e sentiu cheiro de tabaco fresco; em seguida, percebeu o olhar de uma enfermeira que observou enfaticamente suas mãos. Quase o desafiando a acender o cigarro. Percebeu o cartaz detestável de não fumar pregado perto do posto de enfermagem. É, parece que não se podia fumar mais em nenhum lugar por ali. Que bom que havia parado!
- Ponha o desconhecido na geladeira até alguém vir procurar por ele e veja como estão as coisas no Alasca... o que está rolando por lá.
- É pra já - disse Gonzales.
- E fotos. Quero todas as fotos que você conseguir de Brig McKenzie. - Pensou por um minuto. - Quero falar com todas as pessoas mais velhas da cidade e saber qual era a fofoca por aqui, dezessete anos atrás. - Franziu os olhos dentro do elevador e imaginou Cassidy como uma adolescente desengonçada, um moleque, apagada em comparação à meia-irmã mais velha. - Veja como era a postura das famílias Buchanan e McKenzie na época. Quero saber por que Lucretia Buchanan se suicidou, por que Frank McKenzie deu no pé e como Brig McKenzie se relacionava com Angie e Cassidy Buchanan. Havia uma rixa entre ele e o tal Baker que foi assassinado. Verifique isso também.
- Mais alguma coisa? - perguntou Gonzales.
- Sim. Descubra por onde andou Chase McKenzie durante todo esse tempo. Ele era tido como o irmão bonzinho, sempre cuidando da mãe, agindo certo, indo à escola e trabalhando até não aguentar mais. Só que isso simplesmente não cola para mim.
- Acha que ela está mentindo?
- Não está falando nada, mas, sim, acho que está mentindo. A grande maioria deles está. Mas o problema com a mentira é que, quando um começa a abrir a boca, toda a rede começa a despencar. Tudo o que temos a fazer é puxar um ponto, e minha intuição é a de que devemos começar com Willie Ventura. Ele é o que terá mais dificuldade em manter as mentiras coerentes.

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