Os pés de Cassidy doíam, sua cabeça latejava e, desde o anúncio de Angie, no dia anterior, sobre o casamento com Brig, ela começara a sentir seu estômago revirar.
Brig e Angie casados? Não! Não! Não! Não podia acreditar. Era só uma fantasia que Angie enfiara na cabeça.
Então, por que estava chorando?
- Você vai se divertir muito - disse Dena, do banco do carona do Lincoln. Virou a cabeça e lançou um sorriso encorajador para Cassidy. - Vai ter um monte de rapazes e moças da sua idade... agora, vamos lá, não fique mais emburrada.
- Eu não estou...
As sobrancelhas caprichosamente pintadas de Dena se uniram em frustração.
- Sim, está. Agora, ouça, Cassidy, vá, divirta-se hoje à noite e dê um jeito de O Juiz e de Geraldine ficarem sabendo que se divertiu!
Rex estacionou em frente à mansão e entregou as chaves a um manobrista. Com o coração dolorido, Cassidy desceu do Lincoln do pai e desejou estar em qualquer outro lugar na face da Terra, e não na mansão da família Caldwell. Toda branca e reluzente, com dois andares, a casa parecia ter servido de cenário para ...E o vento levou, pois era uma réplica tão próxima de Tara quanto qualquer outra que Cassidy já tivesse visto. Persianas verdes e compridas davam graça às janelas, e uma varanda frontal, larga e coberta corria por toda a extensão da casa. Trepadeiras caíam das várias chaminés de tijolos vermelhos, e jardins de rododendros, azáleas e rosas circundavam a larga extensão de grama. A música preenchia a noite, canções antigas e novas melodias flutuavam na brisa perfumada.
- Venha, venha - disse Dena, apressando a filha. Angie deveria estar com Felicity, mas Cassidy suspeitava de que sua meia-irmã estivesse andando de moto com Brig, os braços em torno de sua cintura, o rosto pressionado nas costas dele, enquanto o vento soprava.
Eles não vão se casar. Essa foi só mais uma das mentiras da Angie! Tenha fé.
Colocando os ombros para trás, Cassidy seguiu os pais até o saguão, onde um homem negro com um terno preto e colarinho branco engomado, dentes reluzentes e olhos que quase não sorriam conduziu-os aos fundos da casa onde portas de vidro haviam sido abertas para dar acesso aos fundos.
- Rex! - O Juiz cumprimentou seu velho companheiro. Ira Caldwell era um homem grande, cuja pança larga, quando não estava escondida pela toga, esticava o cinto até o último buraco. Com cabelos ralos e olhos fundos enterrados nas dobras de seu rosto, ele abriu um sorriso.
- Eu estava me perguntando quando você apareceria. E Dena - ele segurou a mão da mãe de Cassidy e a apertou com vigor entre as suas -, você está maravilhosa, como sempre.
- E você está exagerando, como sempre - brincou ela, ao pegar a bolsa e colocar um cigarro entre os dedos. O juiz foi rápido em lhe oferecer seu isqueiro.
Ele riu e abaixou a tampa do isqueiro dourado.
- Ei, quem é essa moça aqui? Ora, ora, Cassidy, eu jamais lhe reconheceria de vestido! Olhe só você. Minha nossa, está tão bela quanto sua irmã.
- Mais bela - disse Dena, soltando a fumaça discretamente para cima.
Cassidy queria morrer. Detestava as comparações com Angie, que ocorriam sempre que estava perto dos amigos dos pais. Se pelo menos pudesse cavar um buraco naquele chão de mármore... Talvez pudesse inventar uma dor no estômago, ou simplesmente sair andando pelos campos e procurar os pais quando voltasse para casa. O que eles fariam? Iriam para casa e a arrastariam de volta à festa? Duvidava de que os pais tivessem coragem de fazer um escândalo. Ninguém, nem mesmo Jesus Cristo em pessoa, caso tivesse sido convidado, teria coragem de fazer um escândalo no evento social do ano, oferecido pelo juiz Caldwell. Estragar a festa do juiz seria o mesmo que a ruína social.
Cassidy ficou mexendo nervosamente as mãos enquanto os pais conversavam amenidades. A mãe estava estreando um novo tom de vermelho nos cabelos, um terninho de renda creme e um novo anel de rubi, que o pai lhe dera de presente. Não temia exibir o anel sob os holofotes enquanto fumava, ria e flertava de forma afrontosa.
- Onde estão as meninas? - perguntou Dena, e Geraldine ergueu o ombro em resposta.
As rugas de estresse no rosto da anfitriã estavam acentuadas.
- Felicity falou alguma coisa sobre vir mais tarde com Derrick.
- Ele saiu horas atrás - disse Rex, o sorriso lhe abandonando o rosto. - Angie também.
- Bem, ainda não vi nem um fio de cabelo dela. - Geraldine estava nitidamente perplexa, mas Cassidy sentiu certo ar de triunfo quando a mãe de Felicity balançou a cabeça. As duas moças, embora melhores amigas, sempre foram rivais. Geraldine ficaria satisfeita se Angie estivesse metida em algum tipo de encrenca.
- Deixa eu te pegar uma bebida! - O juiz deu um tapinha nas costas de Rex. - Cassidy, tem um bando de adolescentes na piscina... todas as meninas de olho nos rapazes. - Deu-lhe uma piscada exagerada.
Cassidy havia implorado à mãe que a deixasse ficar em casa, mas Dena fora irredutível, insistindo que ela começasse a socializar com jovens da sua idade; e deveria começar naquela noite, naquela droga de festa. Dena chegara ao cúmulo de lhe comprar um vestido branco horroroso, que lhe pesava nos ombros.
Agora, com aquele vestido brega, Cassidy sentia-se como se imitasse uma das Barbies tolas de Angie. Era ridículo. Deu um jeito de se livrar dos pais e foi para fora, onde o ar do campo estava cheio de fumaça de churrasco. Costelas e frango, bifes e lagosta chiavam por cima do carvão, sob a supervisão de churrasqueiros contratados. As bebidas estavam disponíveis no bar portátil, montado perto das escadas.
Havia grupos de mulheres sentadas às mesas com guarda-sol, fumando e fofocando, enquanto seus maridos ficavam perto do bar repleto de bebidas caras. Uma tenda adornada com luzes em miniatura fazia sombra nas mesas repletas de saladas, sobremesas e hors d'oeuvres.
Pelo canto dos olhos, ela avistou Bobby e Jed, parcialmente escondidos na sombra, perto dos fundos de uma das tendas, olhando por cima do ombro, enfiando as mãos nos bolsos e bebericando de garrafinhas escondidas. Com as gravatas já tortas e os olhos apertados, estavam em busca de briga.
- Esta noite - disse Jed, a voz quase inaudível. - Espere só para ver. McKenzie vai ter o que merece.
O coração de Cassidy ficou apertado.
- O babaca não perde por esperar - concordou Bobby, calando-se em seguida, como se subitamente percebendo que poderiam ser ouvidos. Cassidy aproximou-se.
- Cassidy? - A voz masculina era praticamente familiar, e ela se virou, em parte esperando que fosse Brig. Em vez disso, deu de cara com Chase McKenzie, de smoking, um sorriso firme no rosto. - Você é Cassidy Buchanan, não é? Sou...
- Irmão do Brig.
Seus lábios se contraíram levemente.
- Chase.
- Eu... eu sei - disse ela, um pouco nervosa ao perceber que ele não gostava de ser reconhecido como irmão de Brig, da mesma forma que ela não gostava de ser sempre comparada à irmã.
- Está se divertindo? - perguntou, a concentração toda nela, os olhos do mesmo azul surpreendente dos de Brig, o porte físico e a altura, os mesmos também. Porém, era mais refinado do que o irmão casca-grossa, ou, pelo menos, assim diziam - sua mãe inclusive.
- Não estão todos?
Um lado de sua boca se ergueu.
- Você não respondeu à minha pergunta.
- Bem, este é o evento de fim de ano. - Não estava interessada em bater papo à toa. Estava esperando. Por Brig.
- Ainda não respondeu sim ou não. - inclinou-se e sussurrou. - É bom você saber que, dentro de alguns anos, eu serei o melhor advogado que este estado já viu e não vou permitir que ninguém deixe de responder a uma pergunta minha. Nem mesmo uma linda garota.
- Mas não estou na tribuna, estou?
- E eu ainda não sou advogado. - Seus olhos cintilaram. - Que tal dançarmos?
Ela ficou subitamente nervosa. Dançar? Com Chase McKenzie? Na frente de Deus e de todos os outros? Ela já estava suando, e sua mente estava em outro lugar.
- Não sei... Quer dizer, acho que não sei...
- Vamos lá - insistiu ele. - Vai ser divertido.
- Mas você não veio acompanhado...? - perguntou ela, mordendo a língua em seguida, por ter insinuado que ele próprio não havia recebido um convite. Um vestígio de raiva passou pelos olhos de Chase, e, de repente, ele se pareceu com Brig. A garganta de Cassidy ficou seca. Não conseguia imaginar os braços do irmão de Brig em torno de sua cintura. Chase era muito mais velho, certamente estava na casa dos vinte e cinco anos.
Coçando o queixo, pensativo, ele a encarou como se ela fosse um quebra-cabeças complicado que ele estivesse determinado a desvendar.
- Minha companheira não dança.
- Por que não?
- Eu vim com a filha do reverendo Spears, e ele acha que dançar é algum tipo de ritual sexual bizarro ou algo parecido. Enfim, para ele, uma valsa é, pelo menos, um pecado classe C. Quanto aos que dançam música de discoteca... Posso jurar que ele gostaria de trancar todos num quarto e jogar a chave fora. - Chase lhe lançou um olhar oblíquo que a fez rir.
- Então por que ele está aqui? - perguntou Cassidy, procurando por entre o mar de rostos, até que viu o pastor, seu colarinho clerical no lugar, sentado em torno de uma das mesas, comendo costelas de boi e espigas de milho. Gotas de suor desciam de suas costeletas à medida que ele mastigava com avidez, como se não comesse há dias. Sua esposa, Earlene, estava sentada ao seu lado e observava a multidão. Tinha os lábios pressionados numa expressão de desgosto, o rosto sem maquiagem, os cabelos puxados para trás, num coque apertado na altura da nuca. Seu terno e sua blusa marrom, com gola branca armada, pareciam estalar a língua para todas as ostentações e vestidos reluzentes das outras mulheres.
Chase seguiu seu olhar.
- Sabe de uma coisa? Tenho pensado bastante no assunto e acho que o bom reverendo vem, simplesmente, para observar todos de sua congregação. Ele fica de olho em todo mundo... no quanto bebem, quem dança com quem além da própria esposa, quem bate no traseiro de quem e quem sai de fininho para passar a mão em quem. Aposto que ele vai para casa e fica fazendo anotações. Depois, acorda na manhã do dia seguinte, come sua torrada divina, seu café puro com aveia abençoada, vai andando para a igreja, colhe um botão de rosa para pôr na lapela, sobe ao púlpito e faz um sermão, aos berros, sobre o fogo do inferno, a condenação e o preço do pecado.
- Isso não faz muito sentido - respondeu, mas sorriu. - Por que se importar com os outros?
- Para garantir que encherá os cofres da igreja. Todas essas consciências culpadas. E talvez, apenas talvez, dará um jeito de encher o próprio bolso nesse meio-tempo.
- Você parece o Brig falando.
- Pareço? - Um lado de sua boca se ergueu. - Terei que dar um jeito nisso. E, você, Cassidy Buchanan, por que está aqui?
Para achar o Brig! Para falar com ele!
- Minha mãe me fez vir.
- Isso não faz muito mais sentido do que as razões do velho Bartholomew Spears. Por outro lado, eu vim porque este é o lugar onde se deve estar em Prosperity. Estar aqui significa a mudança social correta.
- E isso importa? - Cassidy não pôde esconder um vestígio de ironia na voz.
- Sim - disse ele, parecendo desconfortável de repente. - Especialmente quando você quer uma coisa desesperadamente e pode prová-la. Mas você não tem esse problema, tem? Não quer nada desesperadamente.
Só o seu irmão, pensou ela, mordendo o lábio. Seu desodorante já estava perdendo a validade, e a noite estava ficando quente. Nuvens espessas e ameaçadoras passavam na frente da face pálida da lua.
- Talvez, para você, seja apenas mais uma festa chata, mas, para mim, é uma oportunidade de ouro. Uma festa que eu espero aproveitar. Portanto, vamos lá, Cassidy. Vamos nos divertir um pouco. Dance comigo. - Seu sorriso foi gentil, e ela se deixou conduzir pelos degraus até a área plana ao lado da piscina, onde uma pista de dança de madeira polida havia sido montada. Lanternas japonesas suspensas por fios pendiam das árvores ao redor, flutuavam na brisa e refletiam o vermelho, o amarelo e o verde na superfície da piscina. Tochas haviam sido acesas para manter os insetos afastados, e um piano de cauda estava colocado sobre um elevado acima da pista de dança.
Música fluía da colina, e o pianista, vestindo um terno comprido e uma gravata-borboleta, tocava mediante pedidos. Poucos casais dançavam, enquanto outros se reuniam em grupos, bebericando, conversando e rindo.
- Não sei dançar - sussurrou Cassidy, assim que eles se uniram às outras bravas almas que se moviam com facilidade pela pista.
- Eu sei. - Tomando-a nos braços, ele a puxou para si, e ela não ofereceu resistência. Chase se parecia muito com Brig, mas, ainda assim, era tão diferente. Mais velho. Firme. Recendia a loção pós-barba e a sabonete, e seus cabelos estavam bem-penteados. Seu hálito era quente e lhe acariciou os cabelos quando eles começaram a dançar. Mas ele era o irmão de Brig. Não o cara que ela amava.
Trovejava em algum lugar pelas montanhas.
Cassidy sentiu-se desajeitada, mas Chase não deixaria seu constrangimento forçá-la a sair da pista de dança.
- Você está indo bem - insistiu ele, quando ela sussurrou sua sexta desculpa por quase ter pisado nos próprios pés.
- Está bem, com certeza. Afinal, onde está Arthur Murray quando se precisa dele?
Chase riu, um rumor abafado e prolongado no fundo da garganta, e Cassidy relaxou um pouco. Ele não era Brig, mas era seguro. Pela forma como a segurava, com cuidado, como se ciente de que ela poderia cair no chão a qualquer minuto, Cassidy soube que poderia confiar nele.
Ainda assim, procurava por Brig, e as palavras de Jed, proferidas com tanto ódio, correram por sua mente. McKenzie vai ter o que merece. Ah, meu Deus, tinha de avisá-lo. Sentindo uma confiança considerável em Chase, mordeu o lábio e percebeu o olhar de Mary Beth Spears. Na mesma hora, enrijeceu de novo, pois a filha do pastor estava olhando para ela com uma malícia indisfarçável.
Ótimo, mais um inimigo, pensou com sarcasmo. Parecia haver ódio de sobra naquela noite.
- Parece que uma parte da família chegou - sussurrou Chase, e o coração de Cassidy saltou diante da possibilidade de ver Brig.
Olhou ansiosa por cima do ombro de seu par e viu Felicity, de braço dado com Derrick, passar pelas portas de vidro. Seu vestido era de seda verde, e diamantes brilhavam em seu pescoço.
- Felicity! - A voz de Geraldine saiu num sussurro. - E Derrick.
- Já passou da hora de vocês aparecerem - disse o juiz, com a voz retumbante.
Felicity não largou o braço de Derrick para abraçar os pais. Suas faces estavam rubras, os olhos reluzentes, e exibia a mesma aparência que o pai de Cassidy, cada vez que fazia um bom negócio com um cavalo novo e caro. Derrick, por outro lado, parecia ligeiramente bêbado, embora estivesse tentando parecer sóbrio. Seu olhar varreu a multidão antes de pousar diretamente em Cassidy. Soltando o braço de Felicity, foi para a pista de dança.
- Onde ela está? - perguntou, ignorando Chase.
- Quem?
- Angie... onde ela está?
- Ainda não chegou.
- Acho que está com o meu irmão - disse Chase, os braços firmes em Cassidy.
Os olhos de Derrick escureceram.
- Aquele idiota! Vou torcer o pescoço dele e...
Chase reagiu rapidamente, segurando Derrick pela lapela.
- Deixe o Brig em paz - avisou-lhe, a voz baixa enquanto abria os dedos e segurava Cassidy de novo. - Ele tem todo o direito de estar aqui. Foi convidado. Pela sua irmã. Portanto, pode parar de se preocupar com ele e de nos incomodar. Parece que a sua companheira está esperando. Se eu fosse você, não a deixaria constrangida essa noite.
O olhar de Derrick deslizou pelo pátio. Apenas uns poucos casais que dançavam por perto haviam notado a discussão tensa.
- Vocês são uns pobretões abusados, McKenzie... pobretões com sangue indígena na veia.
O sorriso de Chase foi de arrepiar.
- Não force a barra, Buchanan - advertiu ele. Chase, a despeito de tudo o que se dizia sobre ser o irmão boa-parça de Brig, tinha seus limites.
- Só quero saber onde está a minha irmã.
- Deixe isso para lá, Buchanan. Angie já é bem crescidinha. Pode tomar conta de si mesma.
- Pode o caralho!
Felicity aproximou-se, quase sem fôlego. Seu rosto ficou tão vermelho quanto seus cabelos. Mas Derrick não percebeu sua chegada. Encarou Chase e falou alto e bom som:
- Ela está fora do juízo normal. É isso o que ela está. Quando ele aparecer aqui, juro que irei expulsá-lo aos chutes.
- Talvez seja ele a chutar - observou Chase.
- E você é o próximo, cara. - Mais uma vez, olhou Chase de alto a baixo, quase o desafiando a dar o primeiro soco. Os músculos de Chase se retesaram, ele rangeu os dentes e um leve tique nervoso surgiu sob um de seus olhos, mas ele se conteve quando Felicity praticamente arrastou Derrick para fora da pista de dança. Derrick livrou-se do braço da namorada.
- Ele deve estar com algum problema - comentou Chase, quando Derrick pediu outra dose de bebida.
- Não apenas um - respondeu Cassidy.
O olhar de Chase acompanhou cada movimento de Derrick.
- Ele está procurando briga.
- Sempre - admitiu Cassidy, constrangida.
- Por que ele odeia o Brig?
- Não faço ideia. Ele só... está furioso o tempo todo. - Não conseguia mesmo entender o irmão ou por que ele havia mudado nos últimos anos.
- Cara legal - brincou Chase.
- Era - disse Cassidy, mas isso foi há muito tempo, quando éramos todos pequenos.
Nuvens ameaçadoras bloquearam a lua e as estrelas. Um vestígio de vento atiçou o ar abafado, e o tempo pareceu mudar. O ronco de uma motocicleta irrompeu pela noite, abafando a música, até cessar repentinamente.
Cassidy ficou tensa.
Brig havia chegado.
Em questão de minutos, Cassidy o viu passando pelas portas de vidro com Angie a tiracolo. Os cabelos dela estavam despenteados pelo vento, as faces rosadas, os olhos reluzentes. Seu vestido, de tecido telado rosa-choque, fazia o estilo tomara que caia e se ajustava ao corpo até se soltar numa saia rodada em torno dos joelhos. Diamantes e pérolas adornavam seu pescoço e seu pulso. Ela estava, como sempre, de tirar o fôlego.
Todos no pátio se viraram em sua direção, percebendo a presença da filha adorada de Rex Buchanan e do garoto rebelde em seus jeans negros, paletó e camisa aberta no colarinho.
Os pés faltaram para Cassidy.
O sorriso de Chase esmaeceu.
- Como já era de se esperar - murmurou. - Ele não se deu ao trabalho de comprar um terno. Nem pensou em usar gravata.
O olhar de Brig passou pela multidão e parou em Cassidy. Por um segundo, ela mal pôde respirar, foi como se uma prensa tivesse cercado seus pulmões e os estivesse apertando, a cada minuto do relógio. Por um momento demorado e de aperto no coração, os olhares deles se encontraram e o mundo pareceu parar. A festa ficou para trás. Uma veia latejou na têmpora de Brig. A pulsação de Cassidy foi a mil, e ela ficou vagamente atenta ao fato de que estava dançando.
Angie cochichou alguma coisa no ouvido de Brig, e um sorriso lento e traiçoeiro passou por seu maxilar. Entrelaçando os dedos nos dela, ele a levou à pista de dança. A risada da irmã deixou um rastro no trajeto, e Cassidy sentiu-se subitamente ruborizada, jovem e estúpida... uma garotinha ingênua. Tudo voltou bruscamente ao foco.
- Preciso falar com o seu irmão.
- Por quê?
Cassidy ergueu o olhar e viu que Chase a encarava, as sobrancelhas unidas em sinal de concentração, os olhos se movendo com raiva, e perguntou-se se ele teria percebido sua fascinação por Brig.
- Porque ouvi dois caras planejando dar uma surra nele.
Chase sorriu sem qualquer traço de humor.
- Está parecendo uma noite típica de sábado.
- Acho que eles estavam falando sério.
- Só dois? - Insistiu Chase, voltando o olhar para Angie e Brig quando ele a fez girar perto do piano. - Ele consegue dar conta.
Por que ele não entendia?
- Mas eles não jogam limpo.
- Nem o Brig. Não se preocupe com isso. - Então olhou novamente para Cassidy, e sua raiva deu lugar a uma séria preocupação.
Linhas de apreensão marcaram sua testa.
- Não venha me dizer que você sente alguma coisa por ele.
Alguma coisa? Como se o que ela sentisse fosse apenas a fantasia de uma colegial.
- Eu... eu só não quero vê-lo ferido.
- Ele consegue cuidar de si mesmo.
- Bobby Alonzo e Jed Baker são...
- Um bando de idiotas. - Chase suspirou contra seus cabelos, e seus braços a envolveram como se para protegê-la do mundo. - Não se preocupe com eles. - Depois, parecendo ler sua mente, acrescentou: - E não se envolva com o Brig. Não é nada saudável.
Ela ergueu a cabeça e ia começar a protestar quando a censura no olhar de Chase a impediu de dizer qualquer palavra.
Chase hesitou, como se pesando as palavras, e então cochichou:
- Você é jovem demais para ele, Cassidy. E jovem demais para mim. A diferença é que ele quebrará seu coração, e eu não. Eu respeito você, respeito a sua idade e quem você é. Sou honrado; Brig não sabe o significado dessa palavra. Ou talvez tenha a própria explicação sobre o que honra queira mesmo dizer por causa do peso que carrega nos ombros. - Encarou-a, deu um beijo casto em sua têmpora e, assim que a música acabou, acrescentou: - Acho melhor eu dar atenção à minha acompanhante. - Com isso, deixou-a, e ela sentiu um misto de alívio e decepção. Sabia, por instinto, que Chase McKenzie era sólido como uma rocha, enquanto Brig era como um castelo de areia... sempre movediço, nunca dependendo de ninguém, sempre correndo perigo. Mas não podia simplesmente desligar as emoções como quem fecha uma torneira, podia?
No entanto, talvez tivesse de fazê-lo caso Brig e Angie se casassem.
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O último grito
Любовные романыProsperity, Oregon, 1977. Um incêndio criminoso no moinho da abastada família Buchanan faz Cassidy, filha caçula de Rex Buchanan, dono da propriedade e de metade da cidade, ver sua adolescência e seu amor serem levados pelo fogo. A autoria do incênd...