E agora Fernando?

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FERNANDO...



Eu me vi totalmente perdido com as palavras e com o nervosismo da Manuela. Doeu muito escutar que eu já não a faço feliz. Como doeu.

Durante a viagem para Belo Horizonte, eu estava decidido a mudar. Pensei em chegar de surpresa, dar mais atenção ao Miguel, brincar com ele como sempre fiz, levar Manuela para jantar, planejar uma viagem, enchê-la de beijos e abraços. Na viagem, eu estava decidido a voltar a ser marido e pai presente.

Nas primeiras reclamações, eu achei que fosse coisa da Manuela. Estresse dela pelas provas, saudades dos pais, qualquer coisa do tipo. Toda vez que ela vinha reclamar, eu retrucava, pedia paciência, pedia para ela estar ao meu lado. E não posso mentir, Manuela sempre esteve. Ela merecia um marido carinhoso, ela merecia tudo o que um dia proporcionei a ela, segurança, amor, amizade e tudo o que eu estava devendo. Mas, infelizmente, o estresse estava me dominando de tal forma que eu só conseguia pensar no trabalho. E ao invés de me desligar um pouco, pegar minha família e ir até Angra ou simplesmente fazer uma viagem qualquer, eu não conseguia. Na minha cabeça me desligar um minuto do trabalho significava colocar tudo a perder, e tinha muito dinheiro envolvido, seria um prejuízo e tanto.

Prejuízo e dor maior seria perder minha família. Eu sabia disso. Entendia que Manuela não me exigia nada demais. Ela dava conta de tudo sozinha se fosse preciso. Ela não queria babá, lembro como se fosse hoje ela dizendo que não precisava que alguém a ajudasse com o filho, mas eu insisti, disse que seria melhor pois assim ela poderia me ajudar com a empresa. Depois de muita insistência, contratamos Maria. Eu sabia bem a mulher que eu tinha ao meu lado, e não gostaria de perdê-la. Manuela e Miguel eram tudo pra mim.

Toda briga eu me questionava: Por que libero meu estresse dentro de casa? Por que acabo descontando na mulher que tanto amo?

Eu não tinha respostas, eu só enxergava minhas burradas depois das brigas e aquilo, com certeza, já tinha cansado Manuela. Com toda razão. Toda mulher pode gostar de flores, presentes caros, joias, mas o amor não é feito disso, eu digo o amor verdadeiro, e eu sabia que mesmo que eu presenteasse Manuela todos os dias, chegasse com a floricultura em casa, ela iria gostar, iria sorrir, mas não disso podia compensar a minha presença.

O que Manuela sente por mim é verdadeiro, e o que é verdadeiro, não se compra. E essa nunca foi minha intenção.

- Me perdoa. Eu... não tiro sua razão – Falo profundamente triste enquanto passo a mão no rosto para enxugar algumas lágrimas.

Ela fica me olhando em silêncio...

- Eu amo tanto você, Manuela.

- Eu também te amo, Fernando. Mas ás vezes só dizer que ama não basta. Nosso casamento está se acabando – sua voz falha.

-Não fala isso!!!

-É a verdade. Você sabe disso. – seus olhos estão tristes – Nós já conversamos tanto, já prometemos inúmeras vezes não brigar, você já me prometeu chegar mais cedo, não trabalhar final de semana e eu já prometi ter paciência, tudo isso, INÚMERAS VEZES. – ela desaba a chorar – Eu não sei porquê você mudou tanto...

-Eu não mudei Manu – a interrompo, me aproximando – Eu só estou trabalhando demais, e sei que isso está afetando nosso casamento, admito.

-Fernando você é o dono daquela empresa e você não muda seus planos nem no dia em que seu filho não está bem. A família vinha em primeiro lugar pra você, e hoje em dia, você sequer pode cancelar uma reunião pra chegar um pouco mais cedo. Por isso eu disse que não te conheço mais.

Aconteceu! E agora? II (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora