Dias complicados.

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Os dias não passaram, eles simplesmente se arrastaram. Eu estava muito triste, foram os dias mais longos da minha vida, e mais tristes também. Fernando conversou com seus pais e abriu o jogo com eles, ambos ficaram muito chateados por nós. Sua mãe estava sempre me visitando, me ligando, definitivamente eu tinha tirado a sorte grande com a sogra. Com meus pais a situação não foi diferente. Chorei muito conversando com minha mãe ao telefone.

Além de toda tristeza por tudo que estava acontecendo em minha vida, o que acabou comigo também foi saber que Laís tinha feito aborto. Aquilo acabou comigo. O cara não foi capaz de ficar ao lado dela e assumir seus atos, mas foi capaz de arrumar uma quantia em dinheiro e pagar o aborto numa clínica clandestina. Eu achei um absurdo tão grande, e acho que por ser mãe e já ter passado por situação semelhante, saber que ela havia tirado o bebê que esperava me quebrou por dentro, mais do que eu já estava quebrada. Como se tira uma vida assim? Como? Eu olho para o Miguel e vejo meu tudo, minha vida. Eu jamais me perdoaria se na época tivesse passado pela minha cabeça a palavra aborto.

Após o procedimento, ela ficou pior ainda, e mesmo eu não estando muito bem, dei meu apoio. Ela chorava o tempo inteiro, dizia ter pesadelos com bebê toda noite. Quando ela olhava para o Miguel então, chorava ainda mais.

-Eu não tenho sua coragem, Manuela. Não tenho. – ela dizia passando a mão no rostinho do Miguel, que olhava pra ela meio assustado.

Que dias difíceis!!!!

Com o passar dos dias as coisas entre eu e o Fernando foram ficando mais sossegadas. Ele estava mais presente mesmo morando no flat, isso não posso negar, provavelmente, a ficha dele caiu. Me ligava praticamente todos os dias, mandava mensagens e me mandou até flores após aquela noite em que ele saiu de casa. Ele passava toda noite no apartamento para ver o Miguel, dias passava mais cedo, outros bem mais tarde, quando o menino já estava até dormindo e ele só dava um beijinho na testa sem acordar o filho. Porém a tristeza de saber que nosso casamento não era o mesmo continua no meu coração.

Era quarta-feira a noite, já estava tarde. Fernando ainda não tinha passado para ver o Miguel. Estávamos nós dois no sofá da sala vendo desenho. O olhinho do meu menino já estava pequenininho de sono.

Levantei devagar e fui até a cozinha. Me deu uma vontade absurda de comer qualquer doce, lembrei que tinha algumas trufas de cereja na geladeira. Quando voltei pra sala, Fernando estava entrando. Ele tinha ficado com a chave, mas me avisava todo dia que passaria pra ver nosso filho, não ia sem avisar.

-Shiii – fiz sinal de silêncio assim que ele fechou a porta – Está quase dormindo – avisei baixinho.

- Poxa!!!

Ele colocou a chave do carro no móvel perto da porta e olhou o Miguel no sofá.

-Dormiu. – constatou.

Fernando veio até mim, me deu um beijo na testa e me abraçou.

-Como você tá? – perguntou

-Bem. Estava louca por um doce. Quer? – ofereci um pedaço da trufa.

Ele deu uma dentada e pegou quase a trufa toda. Olhei pra ele com cara de indignada, mas logo comecei a rir.

-Olho grande – brinquei.

-Eu também estava com vontade de comer um doce – disse rindo.

-Tá com fome? Quer jantar?

-Não. Fiz um lanche lá na empresa.

Fernando foi até a porta que dava acesso á varanda.

-Vamos sentar na varanda um pouco? – chamou

Aconteceu! E agora? II (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora