27- O que é Proibido Sabe Melhor

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-Menina Mel...- ela agarrou a minha mão com força e olhou-me com um ar de dor. - O menino Adam, como sabe, é um Não Humano. Os Não Humanos, ao completarem os 18 anos, passam pela Mudança e pela Escolha, quer queiram quer não. Nunca é dito o que eu vou dizer para não assustar aqueles que ainda não passaram pelo processo. Apenas uns tempos antes é revelado.- Aquela conversa estava a assustar-me. Os meus pais também iriam ter aquela conversa comigo quando eu estivesse quase a completar os meus 18 anos?

-Miss Potter, não querendo ser rude, a senhora enrola demais a conversa. Dê-me logo a notícia para eu poder ficar em choque. Só não me deixe a sofrer por dentro para depois ficar em choque. Prefiro não sofrer.- disse-lhe eu, a querer saber onde ela queria chegar com aquilo tudo.

-A Escolha, como a menina deverá saber, nem sempre acontece para todos. Apenas para aqueles que têm uma mudança de coração entre elementos e até entre o Bem e o Mal. A Mudança é inevitável e acontece antes, durante e depois dos 18 anos. É a passagem do que se era antes para o que irá ser. Alguns quase não notam a Mudança, a não ser o aumento do controlo dos poderes, mais força, mais vida. No entanto, outros, aqueles que passam pela Escolha, têm uma Mudança dolorosa. Antes mesmo de fazerem 18 anos, ficam mais fracos, com dores, sem vida, perdem parte dos poderes. É bastante doloroso. Isto acontece porque é como se a nossa identidade estivesse a ser retirada de nós mesmos para poder ser reposta pela identidade nova que é "reposta" no momento em que fazemos 18 anos, quando acontece a Escolha.

Fiquei a pensar nisso. Isso significa que todos aqueles que mudam de Famílias, quer seja entre as famílias de elementos quer seja as famílias do Bem e do Mal, sofrem bastante. Isso significa que a Nana sofreu bastante e que o Simon sofreu bastante também. Um sentimento de culpa apoderou-se de mim. O meu maninho só sofreu por causa de mim. Quando a família dele se ia mudar de casa, ele decidiu que queria ser um Mare como eu para eu não me sentir sozinha. A partir daí, ele tinha apenas 6 anos mas os pais dele aceitaram e deixaram-no ficar com a nossa família. Ele sofreu por mim.

-Miss Potter, eu entendo agora alguns comportamentos de algumas pessoas quando estas estavam perto do seu aniversário mas o que é que isto tudo tem a ver com o Adam. Não me diga que...- não consegui acabar a frase.

-Infelizmente, sim. O aniversário dele é daqui a 2 semanas. E ele está a passar por uma mudança extremamente dolorosa. Em toda a minha vida, jamais tinha visto Mudança tão dolorosa. Ainda por cima, começou cedo. Geralmente, 1 mês antes do aniversário, a pessoas começa a sentir algumas dores e na semana do aniversário, sente dores maiores. O Adam começou a sentir dores cerca de 2 meses antes do aniversário, por volta da altura em que a conheceu. E já está a sentir dores horríveis e ainda faltam 2 semanas para o seu aniversário.- A Miss Potter disse, sem olhar nos meus olhos. quando o fez, estavam repletos de dor. Ela sentia a dor dele. A ligação entre eles era tão grande que ela conseguia perceber a dor que ele sentia. Segurou-me na mão com ainda mais força e eu senti-me fraca e quase a chorar. 

Agora sinto-me culpada pelas dores horríveis do Adam. Eu, sendo uma Angeli, agi com ele de forma gentil, simpática e respeitadora. Ele, sendo um Deminius, agiu da mesma forma que eu. Os meus colegas disseram-me que, desde que o Adam me conheceu, se tornou mais simpático, mais gentil, mais respeitador, mais alegre, deixou de implicar com os nerds, deixou de passar à frente nas filas, passou a usar palavras como "obrigado" e "por favor" com as outras pessoas. Se uma pessoa não soubesse que ele era um Deminius, acharia que ele era um Angeli. E é essa a causa de tantas dores. Os Deminius não podem agir da forma dos Angeli ou sentirão dores, desconforto. O mesmo acontece com os Angeli quando agem da mesma forma que os Deminius. No entanto, antes dos 18 anos não sentimos dores. Mas as nossas ações podem e irão influenciar a nossa Escolha.

-Miss Potter, eu preciso de o ver.- disse eu, quase a sussurrar, com as lágrimas de culpa nos olhos. 

- Eu vim ter consigo, não só para conversar mas porque o menino, enquanto dorme, chama o seu nome. Acho que ele a quer ver e eu não aguentei e tive que a vir procurar e pedir que lá fosse, mesmo que seja difícil velo a sofrer.- disse ela, com um mínimo sorriso, por eu ter pedido para o ir ver, mesmo antes de ela ter pedido para eu o fazer.

Fomos até à sua casa em silêncio e no caminho mandei uma mensagem à Sophie:

Eu-"Oi. Preciso de um favor teu"

Sophie- "Claro, diz"

Eu- "Tenho de dormir fora de casa hoje. Podes dizer que fui aí dormir se alguém perguntar?"

Sophie- "Claro, mas porquê? Onde vais dormir?"

Eu- "Longa história. Prometo contar tudo amanhã. Beijo :* "

Sophie- "Espero bem que sim. Beijo :* "

Entrámos em casa e eu olhei para Miss Potter que me olhou e disse para eu subir. Ao entrar no quarto, senti um calor horrível mas aguentava bastante bem, estranhamente. Tirei os sapatos e os meus olhos olharam em redor como se se recusassem a olhar para a cama, onde Adam estava. Assim que vi Adam, as lágrimas escorreram pela minha cara e eu levei as mão à boca para não fazer barulho. Ele estava pálido, a transpirar. Estava de olhos fechados e com um pano na testa. Estava sem camisola o que me permitiu ver o seu tronco bem definido pois os cobertores estavam pelo meio do seu tronco, acima do umbigo. Aproximei-me, agarrei-lhe a mão, ajoelhei-me, posei a minha cabeça perto do seu ombro e comecei a chorar sem medo.

-Por favor não chores Mel- ouvi-o pedir com uma voz rouca. Olhei para ele ainda a chorar e ele sorriu. Como é que ele pode sorrir numa altura destas?- Ficas muito mais bonita a sorrir.

-Desculpa. Eu não sabia que isto ia acontecer. Eu não queria que isto acontecesse- disse eu meio sem jeito a chorar. Ele fez uma cara meio confusa, passou a mão livre pela minha cara e limpou as minhas lágrimas. Levantou a minha cabeça e disse:

-Não tens que pedir desculpa por nada porque não tens culpa de nada.

-É por minha causa que estás assim. Se não tivesses sido tão bom comigo, a Mudança não estaria a doer tanto.- disse eu.

-Então ela contou-te. Não é tua culpa eu ter querido agir assim. Eu é que quis. Eu queria contar-te, eu juro.- e depois senti a minha mão apertar enquanto o corpo dele arqueava um pouco com uma onda de dor. Quando acabou, ele virou-se para mim, com algumas lágrimas nos olhos- Mas eu tive medo que tu me odiasses e te afastasses. Tive medo de te perder.

Aquelas palavras, vindas da boca dele, fizeram o meu corpo arrepiar e responder instintivamente

-Tu não me irias perder.- Depois, por impulso, deitei-me na cama ao seu lado. Ele continuava virado para cima e eu estava de lado. Ele passou o braço direito por baixo do meu corpo e apertou-me contra ele. Com a mão esquerda, segurava a mão dele, que estava no meu ombro, e pousei a direita sobre o peito dele. As minhas mãos estavam frias e o calor do corpo dele fez-me arrepiar mais uma vez.- Tu não me vais perder. Não agora. Não agora que já não há segredos, nem mentiras. Não agora que eu podia ter seguido as regras e não confraternizar com o Mal, como a lei diz. Não agora.

Ele olhou para mim, sorriu, eu sorri com ele e ele virou-se ligeiramente e beijou-me. Mesmo sabendo que ele era Fogo e eu Água. Mesmo sabendo que ele era Mal e eu era Bem. Mesmo sabendo que era proibido e muito grave. Não resisti nem um pouco porque tudo o que é proibido sabe melhor. 

-Ainda bem porque eu não iria desistir tão facilmente.- Ele sorriu e voltou a deitar-se para cima. Uma nova onda de dor veio e, desta vez, consegui sentir com ele a sua dor. Arqueou o corpo ligeiramente, apertou-me contra ele e cerrou os dentes, fechando os olhos com força. Mexi-me um pouco quando ele aliviou o aperto do meu corpo. Assim que me mexi, ouvi-o dizer, quase que num sussurro:

-Não vás embora. Fica aqui por favor. Contigo ao pé de mim não sinto tantas dores.- Ele precisa de aprender a mentir melhor mas eu voltei a aconchegar-me no seu corpo.

-Não tinha intenção de ir a algum lado. Agora vê se dormes um bocado. Precisas de descansar. Se precisares de alguma coisa, basta pedires.- disse e beijei-lhe o peito, que era o que estava à altura da minha cabeça.

-Com certeza meu doce. Obrigada por estares aqui Mel.- senti-o beijar o topo da minha cabeça e depois senti o seu corpo relaxar um pouco. Ele tinha adormecido. Pouco tempo depois, também eu adormeci. Não precisei de cobertores pois o calor do seu corpo era suficiente, afinal, ele é um Luminius e eu uma Mare e por isso não preciso de muito calor.









Romance Proibido - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora