24-Ela odeia-me

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------------------------------------------------ADAM--------------------------------------------------------

Como pude ser tão estúpido? Nem sequer me lembrei daquela pêga oportunista que é a Lucy. Nem me lembrei que, para bem da minha família, eu tenho de fingir ser namorado dela. Mas não consigo entender o porquê! Ela tem uma irmã mais velha e eu um irmão mais velho. Porque não podem ser eles a criar as ligações entre famílias? E porquê a minha? Nenhum dos nosso queridos irmãos têm namorados ou coisa parecida e estão os dois na universidade. Não são assim  tão mais velhos que não possam ser eles a fazer a ligação entre as famílias. Mas até percebo que isto tenha acontecido. Se calhar até foi melhor assim: não criar espectativas e felicidades falsas. Nunca iria resultar. Se não fosse um pequeno pormenor... ela ser uma Mare e eu um Luminius e, como toda a gente sabe, água e fogo não combinam; se ela não fosse uma Angeli e eu um Deminius e, como toda a gente sabe (com toda a gente quero dizer todos os Não Humanos), da última vez que o bem e o mal se relacionaram, não correu lá muito bem; e, por último mas não menos importante, se não fosse PROIBIDO e se não houvessem penas pesadas para quem infringisse as regras, estaria tudo bem. Poderíamos ter qualquer coisa. Mas assim... se fosse apenas por mim, mas não. Haveria penas pesadas para ela também. E não posso aceitar isso. Não posso aceitar que ela se magoe por minha causa.

Alguém bate à porta e entra com um tabuleiro de bolachas e um saco com gelo.

-Menino Adam. Aqui tem um bocado de gelo. Ponha sobre o seu nariz que está a ficar inchado. Se piorar terá de ir ao médico. - disse Miss Potter com um ar preocupado.- Menino, agora por favor explique-me o que se passou. O menino entrou de repente em casa, no meio do horário escolar, com o nariz a sangrar, uma marca de estalo na cara e foi para o seu quarto. Poderia explicar-me isso?

Realmente não queria mas não conseguia esconder nada a Miss Potter. Ela era a mãe, que se preocupava comigo, que eu nunca tinha tido, afinal de contas.

-A Mel descobriu que a Lucy é minha "namorada"- e fiz aspas com as mãos  em forma de ironia- chateou-se ao extremo comigo, começou a chorar, o irmão dela deu-me um soco que pôs o meu nariz a sangrar, a Lucy depois veio chatear-me sobre estragar a farsa e sobre eu não poder ter nada com a Mel e coisas assim, e, como estava mesmo chateada, deu-me um estalo. Fartei-me e vim para casa.

-Menino... Sinto muito por tudo isso. O menino está bem?- perguntou-me ela.

-Claro! O sangue já não escorre do nariz e o estalo já não dói.- brinquei eu.

-Estou a falar a sério menino Adam. - disse ela num tom calmo- como está por causa da menina Merlia e o que vai fazer em relação a isso?

-Miss Potter, acho que ela neste momento me odeia mais do que tudo e que, mesmo pintado a ouro, ela não me quer ver. E eu entendo. Além disso, ela é uma Angeli e um um Deminius; ela é uma Mare e eu um Luminius. Para além de ser proibido os relacionamentos entre Mar e Fogo, é ainda mais proibido entre o Bem e o Mal. Se descobrissem algo, seria grave e considerado uma infração punível pelo concelho do Bem e do Mal. E com isto da minha família e da Lucy, não posso arriscar. Para além de mim, a Mel também iria sofrer. Não posso deixar isso acontecer. Não vou deixar isso acontecer... Não irá acontecer... 

-Não tinha ideia de que o menino nutria esses sentimentos tão fortes pela menina Merlia. Eu sabia que havia algo, mas não sabia que era assim tão grande. Adam, o menino está apaixonado pela menina Merlia?- perguntou Miss Potter tão séria que nem parecia ela.

-Sinceramente? Não tenho a certeza. Não a vejo como uma amiga mas não sei se estou apaixonado. Só sei que nunca me senti assim perto de nenhuma outra pessoa e que, de uma forma estranha, me faz sentir feliz e bem comigo mesmo. Mas isso não interessa. Não vai acontecer mais isso. Nunca mais.

- E como pensa fazer isso?

-Vou eliminar a Merlia da minha vida. A partir deste momento, nunca houve Merlia na minha vida. É só mais uma colega de turma com quem eu tive de fazer um trabalho chato.

-O menino tem a certeza?

-Sim tenho. Isto é o melhor para os dois.

Nos dias seguintes não fui às aulas, com a desculpa de ter dores de barriga. Sou humano. Isso poderia mesmo acontecer. Fiquei em casa a pensar no sucedido. Era mesmo o melhor? Sim, tinha de ser.

                                                                                            ***

Nos dias que se seguiram, alguns amigos vieram visitar-me. Felizmente, a Lucy nem meteu os pés cá em casa. Nem se deve ter lembrado de que eu não apareci. Só quando ela fica mal vista é que se lembra das coisas. Ela é tão superficial que até magoa só de olhar!

As gémeas já me perguntaram sobre a Mel algumas vezes e eu finjo que não sei quem é. A Sarah veio cá ontem e disse-me que a Mel a tinha proibido de falar comigo, que eu era uma pessoa má. Mas ela como não gosta de dar ouvidos à irmã, contou-me isso. Segundo ela, a irmã tem andado triste e fica no quarto muito. No dia em que ela soube que eu "namorava" com a Lucy, ficou no quarto e quando a Sarah passou por lá, ouviu a irmã a chorar. Eu sou mesmo um imbecil. A Mel estava a chorar por mim. Porque eu tinha namorada?! Isso significa que ela não gostou, certo? O que quer dizer que ela gosta de mim? UAU. Sabia que tinha acontecido algo no fim de semana mas não pensei que fosse o suficiente para ela gostar de mim assim tanto ao ponto de andar deprimida o resto da semana. Acho que agora me sinto ainda mais um idiota por ter feito o que fiz. Acho que neste momento preferia ser um rapaz normal, para poder dizer.lhe que lamento imenso, oferecer-lhe o que quer que se ofereça quando se faz asneira da grossa e dizer-lhe para ela confiar em mim. Mas infelizmente não posso porque nasci um Não Humano e isso irá condicionar a minha vida para sempre.


 Acho que tudo o que consigo retirar desta experiência é que eu sou o maior idiota à face da terra e que a Mel me odeia. Mas a partir de agora, nem sequer conheço a Mel. Para bem dela, e de mim e da minha cara, claro; o irmão dela tem cá uma força no braço!

E acho que me odeio tanto como ela me odeia  a mim...




Romance Proibido - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora