Capítulo 2 - A viagem de Vic

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Sentei mais uma vez no banco da praça e contemplei o céu. As cores mudando de azul claro para o laranja e depois novamente azul, um azul que ia escurecendo pouco a pouco. Admirei minha estrela e fechei os olhos.

Eu sempre acabava revivendo aqueles momentos na esperança de que as lembranças me transportassem até ele.

Naquele dia, eu estava tão furiosa que não conseguia sequer pensar, quanto mais admirar alguma coisa, mas algo naquela estrela me chamou a atenção. Ela estava brilhando, pulsando uma luz clara e radiante, pulsando cada vez mais. E antes que pudesse me levantar, fui sugada pela luz, tentei gritar, mas não havia som, o silêncio era completo. A luz me preenchia, me inundava e me deixava tonta. Não sei por quanto tempo estive na luz, mas senti meu corpo novamente quando percebi que estava deitada em uma superfície plana e fria.

Olhei ao redor, tentando identificar onde estava, meus olhos estavam cheios de luzes piscando, parecia haver milhões de vaga-lumes dançando a minha frente. Ouvi um barulho característico de água, sentei devagar e meu coração deu uma cambalhota no peito. Eu estava em um deck de madeira sobre um lago, no meio do nada. Olhei para os lados e só havia água e árvores na margem oposta, uma fina névoa cobria a superfície escura do lago na outra direção. Minha respiração estava acelerada como meu coração. E eu não tive ideia de gritar ou chamar por alguém. Onde eu estava? Era a pergunta que não parava de me assaltar.

Os sons começaram a me amedrontar, ruídos estranhos, eu não reconhecia nenhum deles. Em um lago comum eu ouviria o som de sapos, grilos e aves, mas ali tudo era diferente. Não pude precisar a hora, o céu era crepuscular ou seria o alvorecer? Então eu ouvi o som de remos na água, forcei a vista tentando enxergar em meio à névoa, mas só quando ele estava a alguns metros de mim pude vê-lo.

Um barco pequeno, como uma canoa, vinha se aproximando devagar, havia alguém dentro dele. O movimento do remo de um lado depois do outro provocava pequenas ondulações na superfície plana do lago, ele parou ao lado do deck e me estendeu a mão.

Eu estava de pé, mais curiosa agora do que assustada. Ele era um rapaz, um rapaz bem normal, estava sem camisa e usava uma calça branca. Tinha a pele levemente bronzeada e os cabelos eram claros, num tom dourado com cachos pequenos, como anjos barrocos. Ele me estendia a mão e sorria, moveu os dedos me chamando. Aproximei-me do barco e desci sem tocar em suas mãos, sentei atrás dele e o observei voltar o barco na direção de onde veio. Ele movia os braços de um lado e depois a outro, fazendo com que seus músculos se movessem nas costas. Saímos do nevoeiro e ainda em silêncio continuamos pelo lago, que parecia ser enorme, logo avistei casas suspensas, como palafitas. Mas eram diferentes, eram feitas de uma madeira verde e tinham o telhado cobertos por folhas amareladas, como palha seca. Mas olhando mais de perto vi que eram úmidas e não seca, alguma espécie de vegetação ainda viva. Eu então percebi que o dia estava só começando, o sol estava nascendo, já que a luminosidade estava aumentando gradualmente. Uma janela se fechou com violência, assustei-me e dei um pequeno salto, meu guia olhou para trás e sorriu novamente. Pude vislumbrar rostos morenos e olhos grandes e amarelados me observando sorrateiros antes das janelas serem fechadas.

Continuamos seguindo por entre as casas, era quase uma vila sobre as águas. Já estava bastante claro quando percebi as sombras sob a água escura, formas enormes que me fizeram lembrar filmes sobre tubarões e baleias assassinas, eu senti um tremor pelo corpo, a água estava tão perto, o barco era tão pequeno e frágil. O que quer que estivesse ali debaixo, era enorme e poderia virar o barco se quisesse. Sem se importar com as criaturas sob a água, o rapaz conduzia o barco para longe das casas. Em um determinado lugar ele fez o barco parar e com o remo ele me mostrou um dos locais mais bonitos que havia visto até aquele momento.

Andirá - a jovem da profeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora